No Man’s Sky | Análise
O UNIVERSO À NOSSA ESPERA
“Acordo com a nave despenhada ao meu lado, tudo parecia avariado e nada, no mundo inóspito onde me encontrava, me augurava boas probabilidades de levantar voo brevemente. Caminhei durante largos minutos, embora tenham parecido horas, até encontrar os recursos que poderiam inverter a minha sorte. Pelo caminho encontrei fauna alienígena, completamente desconhecida, e decidi classificar aquelas espécies. Afinal de contas, era o primeiro ser inteligente a ter contacto com elas e devia ter consciência disso. O nome que lhes atribuísse seria para sempre recordado… A responsabilidade não era pequena. Assumi-a e, por momentos, esqueci-me que ainda não tinha arranjado a nave.
Entretanto, com tudo o que precisava já reunido, consultei as minhas anotações e segui tudo à risca. Um bocadinho disto, mais um pouco daquilo e tudo parecia misturar-se como o meu caderno sugeria. Admito que já nem me lembrava de apontar tais fórmulas, mas foi graças a elas que consegui levantar voo. Abandonei o planeta com a minha nave e parti à descoberta do que aquele sistema me guardava. Três planetas e uma lua, nunca antes visitados por alguém e mais uma série de espécies de fauna e flora para classificar… Estava a começar a tomar-lhe o gosto.
Mas já eram horas, gravei o jogo e desliguei a PlayStation 4. Esta noite ia sonhar com mundos novos por descobrir…”
E a partir deste momento prometo não voltar ao meu heterónimo estilo Andy Weir e ficar-me pelo meu ortónimo habitual que analisa videojogos aqui pelo Rua de Baixo. Mas este soltar do meu heterónimo escondido não acontece por acaso… Acontece porque a imersão que No Man’s Sky proporciona é fenomenal e quase sentimos que estamos a viver a nossa própria história de ficção científica enquanto o exploramos na sua imensidão. E é assim que deve ser jogado este indie!
É certo que o jogo demora algum tempo a arrancar, quando encarnamos o papel de um sobrevivente de uma nave despenhada, num planeta isolado num universo de 18 quintilhões de outros tantos planetas. Procurar os recursos para solucionar as avarias da nossa nave é a primeira missão que temos para completar. Algo que demora algum tempo e que permite explorar o primeiro planeta de uma forma extensiva e, em alguns momentos, penosa ainda sem o recurso à nave espacial. No entanto, rapidamente é compensado assim que solucionamos todos os problemas e temos o primeiro contacto com a brutal sensação de escala de No Man’s Sky. A partir daí, o universo está à nossa espera e a liberdade para o explorar, da forma que bem entendermos, é total.
E a verdade é que a liberdade se sente à medida que vamos navegando de planeta em planeta, de sistema planetário em sistema planetário. Apanhamos recursos, testamos novos componentes, compramos naves diferentes, descobrimos novas espécies… e é basicamente isto que resume este sandbox da Hello Games, gerado de forma aleatória à medida que o vamos explorando. A tua aventura nunca será igual à do vizinho e, muito provavelmente, nunca encontrarás os planetas que o teu vizinho visitou.
É esse o charme de No Man’s Sky mas a jogabilidade, se assumida pelo jogador de uma forma intensiva, pode tornar-se altamente maçadora em pouco tempo. O indie da Hello Games não é tão variado como se poderia pensar. Por vezes encontramos algumas espécies que são mesmo demasiado aleatórias e que quebram alguma imersão no mundo de jogo. Ainda assim, se houver alguma ponderação, o jogador consegue ir buscar uma experiência de exploração como em nenhum outro jogo conseguirá.
Os planetas são simplesmente fascinantes a nível visual e a sensação de poder entrar e sair de um planeta, sem qualquer tipo de loading, é fenomenal e gratificante após todos estes anos a jogar videojogos do género. Apesar de tudo, este não é um jogo perfeito… Cheguei a gritar com a consola quando aconteceu o trigésimo erro capaz de mandar o meu jogo abaixo (a Hello Games com toda a certeza estará a preparar um patch de correcção para breve). Também por vezes as melhorias da nossa nave e equipamentos, nos quais investimos algum tempo para recolher todos os recursos necessários para os construir, parecem compensar pouco para um jogo com uma base tão assente na construção e exploração. As formas de vida inteligentes também não ajudam. Não são muito profundas e a interacção com as facções peca por ser pouco significativa no impacto que tem na experiência de jogo.
Não obstante, com todos os seus defeitos, No Man’s Sky é um jogo único, trazido à vida por um estúdio indie que acreditou no seu sonho e que o quis partilhar com o mundo dos videojogos. Os jogadores não podem agarrar em No Man’s Sky e procurar um novo Mass Effect, um novo Destiny ou um qualquer novo jogo de Star Wars. No Man’s Sky é um jogo que tem valor por si só, pela experiência que oferece que é diferente de todas as outras que conhecemos até hoje. Apesar de vago em alguns momentos, obrigando o jogador a deambular pela imensidão do universo à procura de alguma coisa para fazer, é extremamente relaxante na liberdade que oferece. Deixa-nos curiosos com aquele universo mas abre-nos todas as portas para o explorarmos da forma que bem quisermos e entendermos. Parar de jogar No Man’s Sky pode ser a maior dificuldade que encontrarás assim que agarrares o comando da tua PlayStation 4.
“Voltei a ligar a consola…
Onde é que eu vou hoje?”
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