Noites Ritual 2013

Noites Ritual 2013

O Ritual é muito mais que Rock

Estaciono eu o carro na velha entrada do Museu Romântico da Quinta da Macieirinha, quando tento-me orientar pela também romântica calçada, em direção aos jardins do Palácio de Cristal. O jardim do Porto, o jardim dos apaixonados… dos namorados… e de quem tem este Ritual de explorar todos os recantos, pouco iluminados mas cheios de vivacidade.

O parque abre-se à noite e à arte. O parque mostra-se à cidade com outra roupagem, enfeitiçada pelo seu próprio potencial e encantada com música para todos os feitos, defeitos e feitios.

A experiência que a CMP nos oferece, desde 1992, é de uma tranquilidade velha. Espaços e recantos abertos. E relva. Como o povo gosta de relva! Como é bom conversar com os pés descalços na relva, enquanto se descobre novos sons deste velho ritual. Como os putos gostam de dançar e correr nestes Caminhos do Romântico e como os gunas, dreads, betinhos, headbangers, intelectuais e desportistas, partilham sem preconceito de género ou idade, uma garrafa de Vinho do Porto e um ou outro “cigarro adulterado”.

O espaço está arrumadinho ao ponto de ser irresistível não deambular entre palcos, barraquinhas de artesanato ou espreitar só o que se come por aqueles lados. No entretanto, vai-se alegremente tropeçando em pequenas boas surpresas, sejam elas um arranhar de pratos de vinil ou um recanto ao encargo da Porto Lazer com puffs e baloiços de madeira que encaixam tão estupidamente bem no ambiente.

A Joana e o Victor vieram ao primeiro festival ouvir o afro-beat dos Batida, mas entretanto ficaram agarrados à tal relva (numa conversa filosófica de mais para aquela hora) com a já reformada Inês e o seu neto Diogo. Olho bem em redor, percebendo que há tantos carrinhos de bebé como bancos lotados de namoriscos.

A batida electrónica africana já entoa nas paredes do Palácio e a voz de Ikonoklasta puxa-me por entre a escadaria, até ao palco principal. São poucos os que conhecem, mas o ambiente é interventivo-político e de bom encaixe no ouvido. E em tempos de crise o povo gosta de apoiar o protesto, dançar e rir-se. Acabam com o entrave dum público vergonhoso do pé-de-chumbo e convidam quem quiser a juntar-se a eles no palco. Vai a miúda e o rapaz, o senhor e ahhh… a D. Inês. É festa certa, todos dançam e a despedida bem organizada do parque é feita entre sorrisos e boa disposição.

O segundo dia continua animado, com mais exploradores de espaços verdes enfeitados com o que as Noites têm para surpreender, do que seguidores de bandas. Possivelmente tem tanta gente nos dois palcos, como por entre os canteiros e os pequenos showcases dum ritual “às 3 pancadas” (concurso de Mc e Beatbox). Vê-se gente aberta a novas experiências e interessadas em mostrar outras formas de cultura a amigos, vizinhos ou familiares.

Quem ainda não tinha saboreado a erva por entre os dedos, rende-se ao chão em frente à cúpula que serve como segundo palco. O concerto acaba, o povo tem tempo para dar uma volta e desfrutar de todas as ofertas antes de se dirigir ao palco principal. Contudo, aqui não nos dirigimos para outro espaço. Passeia-se até outra experiência.

As Noites Ritual são isso mesmo. Um escape agradável familiar ou de encontro de amigos com a cidade. Para não falar da apresentação exclusiva de bandas portuguesas. Um par de noites que têm mais ritual que muita festa popular. E relva!

Fotografia por Grilo N



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