North Music Festival | Dia 1 (24.05.2019)
O que têm em comum Emir Kusturica e os Bush? A resposta é nada…mas já lá vamos!
O relógio marcava as 18 horas e o festival mais urbano do Porto abria as suas portas e não foi preciso esperar muito para perceber que a afluência de público estaria por certo acima do que aconteceu no primeiro dia do ano passado. Por muitas vezes que se aprecie a paisagem envolvente jamais os olhos de cansam de ver de um lado o serpentear do rio Douro e do outro as casas encavalitadas e coloridas da Ribeira do Porto iluminadas pelo sol radiante e primaveril que nada tímido brilhava sobre as cabeças do público presente.
Entrando no recinto logo se percebe que este é um festival marcadamente diferente de todos os outros, não só por misturar estilos musicais o mais díspares que se pode imaginar como por permitir ao publico desfrutar dos passeios de barco, melhorar a aparência nas zonas de make-up e barbeiro ou mesmo para os mais afoitos fazer uma tatuagem. Nos festivais onde a cerveja é a rainha das bebidas e a companhia de muitos festivaleiros também aqui existe uma diferença já que os vinhos são chamados à festa e existe um Wine Garden onde é possível degustar vinhos das castas provenientes da região Norte.
De copo de vinho na mão saímos da área coberta e seguimos em direção ao palco principal e desde logo somos brindados pela paisagem e pela música que sai do Palco Sunset que é outra novidade da edição deste ano. Aquecimento feito continuamos viagem rumo ao palco principal onde encontramos a grade frontal do imponente palco já totalmente reservada pelos muitos fãs de Bush que chegaram cedo para garantir o muito procurado lugar.
EXPENSIVE SOUL
Cerca das 20:30h, a banda de Leça da Palmeira formada em 1999 e que festeja agora os seus 20 anos de carreira tem honras de abertura do palco principal e começa logo num ritmo frenético apelando ao público que se espalhava um pouco pelo recinto “Bora Porto, jogamos em casa! Cheguem-se à frente” e não demorou muito até a área junto ao palco principal estar bem composta e a vibrar com temas conhecidos como «Que saudade» e «O amor é mágico», este último que encerraria o concerto cantado por New Max (Tiago Novo) empoleirado na estrutura de suporte do palco e com Demo (António Conde) a descer do palco e a contactar diretamente com o público. Pelo meio oportunidade para ouvir alguns temas novos como Limbo e oportunidade para alguma encenação com New Max a “atender” uma chamada de telefone em pleno palco e do outro lado da linha uma voz que lhe dizia “estive a ouvir os novos temas e são bons mas faltam singles”. A julgar pela reação do público não faltam singles e na realidade o novo trabalho dos Expensive Soul, “A Arte das Musas”, cujo lançamento está previsto para o dia 14 de Junho, tem tudo para continuar a marca de sucesso que define a carreira da banda nortenha nestas duas décadas de existência.
EMIR KUSTURICA & THE NO SMOKING ORCHESTRA
O ano passado a energia anárquica dos Gogol Bordello tinha marcado de forma positiva e vincada o festival pelo que se percebe que a organização tenha tentado trazer a cartaz uma banda similar. A aposta recaiu sobre o multipremiado realizador de cinema Emir Kusturica e a sua banda The No Smoking Orchestra e a aposta não saiu defraudada. O cineasta sérvio e a sua trupe chegaram vestidos de “mariachis” e logo começaram a debitar temas dos filmes “Gato Preto, Gato Branco”, “Arizona Dream” e “Underground” aplicando o seu gypsy punk num concerto frenético que não teve tempos mortos sendo que os espaços entre músicas eram sempre preenchidos com o tema da Pantera Cor-de-Rosa. A intensidade era muita e a determinada altura o palco foi pequeno de mais para a expansividade da banda que saiu em cortejo ritmado pelo meio do público que não ficou indiferente ao gesto e “engoliu” a banda no meio de dança, saltos e tentativas de tocar no lendário cineasta.
BUSH
Se Kusturica tinham “inflamado o público”, os Bush liderados pelo “teenager” de 53 anos Gavin Rossdale “sopraram até o fogo estar incontrolável”. A banda britânica tinha estatuto de cabeça de cartaz neste primeiro dia e não deixou os créditos por mãos alheias mostrando estar em grande forma e debitando um grunge que esteve, está e nunca sairá de moda. Se dúvidas existiam a banda fez questão de agarrar o público desde o início ao abrir o concerto com o tema musculado «Machinehead» logo seguido por um intenso «The Chemical Between Us» que logo mostrou ao que vinham. Seguem-se «The Sound of Winter» e «This Is War» onde Gavin desce do palco e sobe à grade frontal para aquele que haveria de ser o primeiro contacto corpo a corpo com os fãs que davam por bem empregues as muitas horas que passaram a guardar lugar na fila da frente.
Sem baixar de intensidade e sempre acompanhado pelas competentíssimas guitarras poderosas de Chris Traynor e Robin Goodridge e do baixo de Corey Britz seguem-se «The Disease Of the Dancing Cats» e o tema «Bullet Holes», do álbum mais recente “The Mind Plays Tricks On You”, que é a banda sonora do filme com Keanu Reeves, “John Wick: Chapter 3” e que traz ao ecrã gigante que serve de fundo à banda cenas retiradas do referido filme editadas para formato videodisco.
Assim que começam os acordes do tema que atirou a banda para número um dos tops um pouco por todo o mundo, «Swallowed», o público entra num estado de êxtase total que se divide entre acompanhar Gavin debitando a letra até as gargantas doerem e os que querem levar uma recordação do momento filmando com os telemóveis cuja luminosidade ilumina a noite que já vai longa.
Em «The People That We Love» existe espaço para mais um momento a solo de Chris Traynor e para o vocalista acabar deitado no chão a rebolar e a cantar. Gavin não se entrega ao cansaço e em «Everything Zen», tal como Emir Kusturica havia feito, sai do palco e entra pelo mar de gente adentro sempre a cantar e com cada vez mais gente a seguir os seus passos tentando no meio da euforia tocar e abraçar o vocalista que aos poucos vai retomando com dificuldade o caminho de regresso ao palco onde se percebe que a outrora camisola caveada agora está um pouco mais rasgada fruto dos muitos agarrões que sofreu.
O concerto leva já mais de uma hora de duração e a intensidade extrema e a energia contagiante parecem não ter fim, isso mesmo se nota em «Little Things» que seria apresentado como o tema final. Mas os fãs pediam mais, alias os fãs exigiam mais e Gavin e companhia regressam para o aguardado encore, perante um arrepiante momento de aplauso em uníssono, onde haveria de caber «Come Together» original dos Beatles que foi “vestido” pelos Bush com uma roupagem mais pesada seguida dos temas icónicos «Glycerine» e «Comedown». Fim de festa no palco principal com um concerto de 1h20m que todos sabiam ser o único que os Bush dariam na Europa este ano e que sem dúvida figurara como um dos melhores que os palcos portugueses já viram.
De destacar ainda os excelentes concertos no Palco Indoor que foram muito além de preencherem os espaços entre os concertos do palco principal complementando-o com sonoridades mais ou menos pesadas de Murmur e de Skills and The Bunny Crew ou as mais eletrónicas de Rich&Mendes e de DJ Kitten que teve honras de fecho do primeiro dia do festival.
No dia seguinte, ou mais concretamente umas horas depois, o palco principal haveria de reabrir para os portugueses Glockenwise e Capitão Fausto e para os muito aguardados Bastille e Franz Ferdinand.
Texto por José Graça e fotografia por Maria Inês Graça.
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