North Music Festival | Dia 2 (25.05.2019)
A música venceu e foram poucas as pessoas que seguiram caminho atrás da bola.
Da mesma forma que no ano passado a final da Champions haveria de coincidir com o festival este ano foi a vez da final da Taça de Portugal e tanto numa situação como noutra a organização mostrou que seria possível conciliar os dois. Assim as portas abriram mais cedo (17h) para permitir aos festivaleiros mais atentos ao futebol seguir o jogo no ecrã do palco principal ou, “abrigados” do sol intenso que se fazia sentir, no ecrã do palco indoor. Os operadores de venda de bebida e de comida por certo deram por bem empregues as “horas extras” de trabalho que tiveram de fazer.
O arrastar do jogo para prolongamento “obrigou” o responsável pelo festival Jorge Veloso a subir ao palco para passar a mensagem que os concertos iriam iniciar fazendo jus à verdadeira essência do mesmo que era a música. Os mais futeboleiros podiam continuar a seguir o jogo no palco indoor. Imagino que nesta altura os Glockenwise, que tinham honras de abertura do palco principal, tivessem temido que grande parte do público opta-se pelo futebol em detrimento da sua atuação, mas na realidade a música venceu e foram poucas as pessoas que seguiram caminho atrás da bola.
GLOCKENWISE
A banda de Barcelos apareceu vestida no habitual tom azul elétrico que sem dúvida já faz parte da sua imagem de marca, e desafiando o poder instituído do desporto rei, deu início às festividades do segundo dia quando os ponteiros do relógio assinalavam as 19:30h. Num recinto bem composto de público a banda percorreu o álbum Plástico que segundo a crítica é um dos melhores álbuns portugueses dos últimos tempos e que tem a particularidade de ser totalmente cantado em português. Oportunidade para ouvir entre outros «Corpo», «Plástico», «Dia Feliz» e «Moderno» sendo que este último mostrou ser já bem conhecido do público presente que aqui e ali ia cantando com a banda. Não restam dúvidas que este é já um projeto bem sólido e ainda com uma margem enorme de crescimento.
CAPITÃO FAUSTO
A banda lisboeta entrou em cena cerca das 20:30h ainda o dia estava para durar e o sol teimava em não querer dar lugar à lua. O recinto mais próximo do palco começa já a ter poucos espaços vazios quando «Certeza» ecoa pelo recinto e foi com essa mesma certeza e uma competência musical que não escondem, que a banda faz do palco o seu habitat natural que se seguem «Santana» e «Amanhã tou Melhor» pelo meio um solo de bateria de Salvador Seabra enquanto o vocalista Tomás Wallenstein aprecia o momento sentado no palco degustando uma cerveja intercalada com um cigarro. O que para muitos poderá ser visto como um ato de irreverência para os seguidores dos Capitão Fausto é apenas mais um dos momentos de simplicidade da banda.
Está uma noite primaveral que convida a deixar o corpo libertar-se de inibições e aquilo que tinha começado como um “simples” batimento do pé a marcar ritmo em «Sempre Bem» e «Dias Contados» vai contagiando o resto do corpo que em «Febre» e «Célebre Batalha de Formariz» já se move dançando como um todo. Para o fim estavam guardados «Morro na Praia» e «Boa Memória» que remetem o público presente para um ambiente de festa e a ficar com o aquecimento feito para o que viria a seguir.
BASTILLE
Desde cedo se percebeu que para muitos dos presentes os cabeça de cartaz se dividiam entre os Franz Ferdinand e os londrinos Bastille e que o recinto talvez por isso mesmo apresentava com uma lotação esgotada por um público completamente heterogéneo em idade, sexo e país de origem. Quando um relógio iluminou o ecrã do palco principal e se ouviram os primeiros acordes tornou-se evidente que quem não estava na zona frontal ao palco dificilmente lá conseguiria chegar. Eram 22:30h mas desafiando as leis do tempo a banda liderada por enérgico Dan Smith abriu a festa com «Quarter Past Midnight». Os olhos por vezes demoravam a absorver o que se passava em palco seja pela qualidade das imagens exibidas no ecrã de fundo do palco seja pelas “caminhadas” incansáveis do vocalista Dan Smith. «Send Them Off» seria a oportunidade para o ver pela primeira vez no tambor a que se segue «Things We Lost in the Fire» cantada em uníssono pelo público e que obrigou muitos dos presentes a gastar muita da bateria disponível nos telemóveis para filmar este momento. No tema seguinte, «Two Evils», chega talvez um dos momentos visualmente mais conseguidos em todo o festival com Dan a cantar sentado no degrau de uma escada com uma Lua avermelhada gigante como imagem de fundo. Mas foi tema de autoria do Dj e produtor americano Marshmello, «Happier», que levou todos os presentes incluindo os que não conhecem o repertorio da banda a um momento de êxtase coletiva cujas vítimas foram mais uma vez as baterias dos telemóveis. «Icarus» não baixa a intensidade e ao longe vê-se que o público já não consegue estar parado e se move em movimentos de dança mais ou menos expansivos. Segue-se «Doom Days», com Dan a cantar deitado num sofá iluminado por um candeeiro que vai rodando numa plataforma giratória até apresentar as costas do sofá onde consta o nome da música. O espetáculo continua com Dan a aderir à “moda” iniciada no dia anterior e também ele a se misturar no meio da multidão ao mesmo tempo que cantava «Joy». Ainda houve tempo para o tributo à personagem criada por David Lynch, «Laura Palmer», e para o mais dançante «Of The Night» que faz mexer até os que dizem que não gostam de dançar. Para encerrar chega o tema «Pompeii» que colocou a banda na ribalta e que ainda hoje é a sua imagem de marca. O público ainda pediu um encore mas não havia tempo para mais porque os Franz Ferdinand eram já a seguir.
FRANZ FERDINAND
No final do concerto dos Bastille a sensação era a de estar junto à meta de uma maratona com pessoas exaustas por todo o lado que procuravam qualquer sítio “sentável” para descansar e retemperar forças. Era preciso um energético forte e os Franz Ferdinand foram esse energético “dando asas” a quem momentos antes achava que já não teria forças para aguentar mais um espetáculo.
A banda de Glasgow liderada por Alex Kapranos que aparece em palco vestida de forma irrepreensível conduz o público levando-o para onde quer que este esteja. Tudo parece natural mas nada acontece por acontecer e nada é deixado ao acaso. Seja o alinhamento, seja a comunicação com o público tudo remete para um produto extraordinariamente bem embalado cujo conteúdo (música) é do melhor que se faz por esse mundo musical fora. Desembrulham a embalagem e apresentam o primeiro tema «Matinee» que logo começa a ter poderes curativos nos corpos até então exaustos. O produto não engana e o poder comunicativo de Kapranos também não, ainda agora começamos e já se ouve “Boa noite Porto, estamos muito felizes por aqui estar!”, o público reage euforicamente e passa a mensagem que o “produto” está mais do que comprado resta usufruir dele. Da embalagem salta o tema «No You Girls» e a estreia mundial de «Black Tuesday» que para tema desconhecido da banda logo cativa e a julgar pela reação dos presentes, para os mais distraídos passaria como um dos muitos êxitos da banda escocesa. A partir daqui é como o “algodão que não engana” e Alex Kapranos acompanhado de forma exemplar por Robert Hardy no baixo, Paul Thomson na bateria, Dino Bardot na guitarra e o multifacetado Julian Corrie, desembrulha sucesso atrás de sucesso com passagens por «Come On Home», «Walk Away», «Lazy Boy», o mais recente «Always Ascending» ou mesmo «Right Action» que Kapranos lembra não tocarem há já muito tempo.
Para o final haviam de ficar guardadas aquelas que a banda sabiam ser apostas seguras para o público se lembrar deste concerto por muito e muito tempo. Foi debaixo de um ambiente quase de histeria que nos remete para os idos anos sessenta onde os Beatles dominavam o panorama musical que se ouviu «Ulysses». De seguida a banda saiu de palco, criou o clima, esperou que o publico mais do que pedisse pelo seu regresso ao palco ansiasse por esse momento e mais uma vez que, como quem segue um guião escrito sem esquecer qualquer pormenor, Kapranos volta e pergunta num português longe de ser perfeito mas percetível “Querem mais?” claro que a resposta era obvia mas Kapranos aguardou por um “Yes” gritado em uníssono. Se o público quer, a banda cumpre e ainda se ouviram «Jacqueline», «Illumination» e aquele que era o tema mais esperado da noite, «Take Me Out», onde o festival a determinada altura se transforma numa gigantesca aula de fitness e onde o cansaço anterior há muito já estava esquecido. «This Fire» termina o concerto de Franz Ferdinand e encerra o palco principal de um festival que no meio de muitos e muitos aspetos positivos teve como sinal menos apenas o facto da anunciada homenagem que cada banda terá sido convidada a fazer ao falecido Keith Flint não ter sido correspondida por nenhuma delas apesar de na maior parte delas não faltarem “Firestarters”.
Palavra final para muito frequentado Palco Indoor por onde passaram as sonoridades mais pesadas de Stone Dead ou Cave Story ou pela atuação Dj St de Moullinex que fechou as portas do North Music Festival de 2019.
Texto por José Graça e fotografia por Maria Inês Graça.
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