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NOS Alive! 2016 | Dia 2 (08-07-2016)

Um dia mais composto

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Ao segundo dia do NOS Alive! 2016 houve melhores concertos. Houve muito público, quase sempre mal distribuído e concentrado junto do palco principal, muito por culpa dos horários e alinhamento definido para o palco NOS.

Os Lotus Fever tocam num Coreto já bem composto. São 17h50. E é dia de lotação esgotada e já há muita gente no recinto. A sonoridade surpreendeu; canções com pinceladas de psicadelismo tudo construído com uma bateria, uma guitarras, uns indispensáveis teclados e um computador. Para seguir com atenção.

No dia em que a Austrália está em grande no festival, os Jagwar Ma são os primeiros representantes da equipa entrar em palco. O início é pouco convincente. Um pop psicadélico que a espaços teima em chamar à memória uns Tame Impala na fase do “Innerspeaker”, sem que no entanto consiga atingir o brilhantismo destes. Entretanto, a Courtney Barnett anda pelo meio do público a assistir ao concerto e o número de pessoas a assistir sobe enquanto as canções vão puxando cada vez mais pela dança. Perto do final, o palco Heineken parece um sunset gigante, onde ninguém está parado e «Come Save Me» é recebida em festa.

Courtney Barnett sabe o que é rock’n’roll. Ela e a sua guitarra encarregam-se de nos mostrar isso mesmo. O alinhamento é perfeito e cada canção é acompanhada pela projecção de animações deliciosas (a que acompanha «Dead Fox», logo a abrir, é sanguinareamente magnífica). A sequência central, toda ela assente no último e soberbo “Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit” é uma lição sobre como devem ser uma canção de rock. A tristeza de «Small Poppies». A depressão de «Depreston» que ali nos deixa com um sorriso estampado no rosto. A força contagiante de «Pedestrian at Best» (cá por dentro estou a cantar “Give me all your money, and I’ll make some origami, honey / I think you’re a joke, but I don’t find you very funny”). «Elevator Operator» podia ser sobre um de nós .«Avant Gardener» já tem o estatuto de clássico. E a fechar, «Nobody Really Cares If You Don’t Go to the Party» sempre com a ironia como mote: “I wanna go out but I wanna stay home”.

De Carlão apenas temos tempo para ver 15 minutos. Em palco o hip hop é rei e senhor. Há referências ao movimento Black Lives Matter, fruto dos acontecimentos mais recentes e os Da Weasel vêm à memória. Depois seguimos para 15 minutos de conversa com os Two Door Cinema Club (que poderão ler por aqui em breve).

Father John Misty foi o senhor que se seguiu. E que presença, que presença! A personna Father John Misty enche o palco com um carisma e uma presença difíceis de igualar. O concerto começa ao som de «Hollywood Forever Cemetery Sings». Abrimos os pulmões e dizemos “Jesus Christ, girl / What are people gonna think?”. O alinhamento, como seria de esperar, repartiu-se generosamente entre “Fear Fun” e “I Love You, Honey Bear”. Assistimos a um desfilar de canções que nos são apresentadas como um gospel de folk e rock; «When You’re Smiling and Astride Me», «Only Son of the Ladiesman», «Nothing Good Ever Happens at the Goddamn Thirsty Crow». Em «Chateau Lobby #4 (in C for Two Virgins)» escutamos alguns dos versos mais deliciosamente improváveis; “I wanna take you in the kitchen / Lift up your wedding dress someone was probably murdered in / So bourgeoisie to keep waiting / Dating for twenty years just feels pretty civilian”. É um amor carnal. «Bored in the USA» traz a crítica mordaz mascarada de ironia “How many people rise and say / My brain’s so awfully glad to be here / For yet another mindless day”?. Já perto do final a sequência deixa-nos exaustos, felizes e com o coração aos saltos: «I Love You, Honeybear» e «The Ideal Husband» logo de seguida, sem tempo para recuperar o folgo. Que sermão!

Passaram três anos desde a última vez que os Radiohead actuaram em Portugal, neste mesmo festival e palco. Entretanto o mundo mudou. Os Radiohead lançaram “Moon Shaped Pool” que representou um magnífico regresso à boa forma e mais próximo de trabalhos de uma fase mais inicial da carreira, sem que com isso possamos falar de emolação. Mas na minha cabeça e de muitos outros, uma questão persistia; como se comportariam as canções do novo álbum ao vivo. São canções que vivem do detalhe e da subtileza, talvez à excepção de «Burn the Witch» que existe com o propósito de incendiar as nossas mentes. E foi exactamente ao som de «Burn the Witch» que o concerto arrancou. Para os mais distraídos, é exactamente esta a primeira canção do alinhamento de “Moon Shaped Pool” e a essa seguiram-se as quatro seguintes exactamente na mesma ordem do álbum: (a bela) «Daydreaming», «Decks Dark», «Desert Island Disk» e «Full Stop» (a denotar um toque de ironia aqui, talvez?). E esta decisão ganhou o concerto aos Radiohead. Com o álbum novo apresentado houve espaço de ir ao fundo do baú buscar aquelas canções que nos sacodem cá por dentro; que ano após a ano nos conseguem continuar a emocionar. A primeira paragem foi pelo “The Bends”: «My Iron Lung» e «Talk Show Host». Depois pulámos para 2011 para escutar “Lotus Flower” e na nossa cabeça é fácil imaginarmo-nos de chapéu de coco na cabeça a ensaiar aqueles passos de dança únicos. Passado pouco tempo escutamos «Exit Music (for a Film)». São os primeiros acordes ao vivo de “OK Computer” em muitos anos. O coração acelera. Fechamos os olhos. Deixamo-nos levar. «The Numbers» e «Identikit» levam-nos de volta a “Moon Shaped Pool”. É o presente e não o devemos negligenciar. E nem o queremos fazer, diga-se de passagem. Até ao primeiro encore escutamos «Reckoner», «Everything in Its Right Place» e «Idioteque» (duas canções dum álbum que me fez gostar ainda mais de ouvir música e procurar sempre novas sonoridades, “Kid A”), «Bodysnatchers» e «Street Spirit (Fade Out)». O primeiro encore traz «Paranoid Android» e um regresso à adolescência. Há também as magníficas «2 + 2 = 5» e «There There» (“Just ‘cause you feel it / Doesn’t mean it’s there”), mas seria no segundo e derradeiro encore que tudo iria abaixo. Primeiro ao som de «Creep». Intemporal. Perfeita na sua imperfeição. Pujante. Insegura. Certeira. E por último, «Karma Police»… “For a minute there I lost myself, I lost myself”.

No final de Radiohead houve uma debandada geral e uma concentração enorme de público no palco Heineken, visto já não existirem mais concertos no palco NOS. Ficou a faltar uma banda após de Radiohead, que permitisse que o enorme fluxo de pessoas circulasse de uma forma mais calma e espaçada.

Dado que assistir ao concerto dos Two Door Cinema Club (que estava a ser exactamente aquilo que poderíamos esperar dele, frenético, enérgico e contagiante) se tornou uma tarefa ingrata e até perigosa nalguns locais, em virtude da quantidade de pessoas que se concentraram naquele espaço, optou-se por uma visita ao Coreto onde actuava o DJ A Boy Named Sue. Valeu. Tal como o nome indica é um DJ. Passa rock e à sua frente tem um ecrã de TV, daquelas bem antigas, onde coloca a capa do disco que está a tocar para que não hajam quaisquer dúvidas. Funciona na perfeição; confere um toque de originalidade num meio que está altamente saturado em muitos casos por pessoal que nem o deveria tentar fazer.



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