NOS Alive! 2017 | Dia 1 (06-07-2017)
A máquina estava tão bem oleada que difícil apenas seria escolher o que ver e ouvir
Ao irmos para o primeiro dia no Passeio Marítimo de Algés em 2017 para mais uma edição esgotada do NOS ALIVE! pensávamos, como sempre, nas escolhas a fazer, na logística das deslocações e como estaria o festival que anunciava casa cheia com tanto tempo de antecipação. Já mais perto, com o trânsito a fluir e organizado, e ainda mais perto sem quaisquer demoras nos processos de acreditação e entrada percebia-se que a máquina estava tão bem oleada que difícil apenas seria escolher o que ver e ouvir.
Escolhas. A primeira de difícil não teve nada. No palco principal já tocavam os da casa You Can’t Win, Charlie Brown e o caminho tornou-se claro. Olhando em volta e para o palco era também clara a satisfação dos restantes com o concerto e a decisão. Os YCWCB têm disco novo na bagagem e uma maturidade e presença em palco capaz de rivalizar com qualquer um dos próximos. E mais barba que aqui há uns anos.
Interlúdio para cevada e ambientarmo-nos com o espaço antes dos Alt-J, também ali no palco maior do certame. Aqui a escolha já foi mais complicada. Os Alt-J não são desconhecidos, e tocavam a horas descabidas, mas traziam um álbum lançado recentemente que, apesar de distante de edições anteriores, mantém a linha que já os caracteriza. Acabámos por ficar o concerto todo mas sem grande ânimo e sempre com a sensação de que, tivessem eles tocado umas horas mais tarde no palco Heineken, a coisa tinha sido mais animada.
Ali ao lado, no Clubbing, chegava a hora de Karlon, mesmo a tempo de ver o ex-Nigga Poison actuar antes dos Phoenix. Quer dizer, era para durar apenas 15 minutos, mas o crioulo de Cabo Verde prendeu-nos por mais tempo que isso. “Passaporti” costuma passar com frequência no dia-a-dia e a curiosidade de ver a mistura de estilos em palco era grande e não saiu defraudada. Houve rap, houve batuque, houve Cesária Évora. Houve dança e animação e nada mais se podia pedir.
Foi finalmente desta vez, depois de algumas tentativas falhadas, que os Phoenix se estrearam em Portugal, perante um palco NOS muito bem composto e ávido por escutar as canções do colectivo liderado por Thomas Mars. A maior predisposição para as canções de “Wolfgang Amadeus Phoenix”, a obra maior da banda, era por demais evidente e por isso não foi de admirar que «Lisztomania» fosse cantada por muitos. Continua a ser uma bela canção. O caminho seguido pelos Phoenix tem-nos trazido para zonas cada vez mais perto da pop e da electrónica mas continuam a ser os momentos mais rock que mostram a sua melhor faceta. No palco a paleta de cores que vai desfilando funciona como um perfeito reflexo visual do som.
Ryan Adams merece mais crédito do que aquele que lhe dão. Antes de entrar em palco, foi pedido para que toda a gente verificasse se os flashes dos telemóveis estavam desligados, tudo por causa da doença de Meniere e do risco de convulsões que acarreta. Ryan Adams entrou em palco com o cabelo a esconder os olhos, com uma t-shirt com o Felix, The Cat e um blusão de ganga. Indumentária mais rock’n’roll era difícil de pedir. Pena que o norte-americano fosse perdendo gradualmente público, à medida que a hora do concerto dos The xx se aproximava. «Do You Still Love Me?» abriu o concerto e deixou bem claro aquilo com que poderíamos contar; rock, sem mais adornos do que aqueles estritamente necessários. O norte-americano é um enorme escritor de canções e já tem inclusivamente dois livros de poesia e contos editados. No palco a acompanhá-lo, e para além dos restantes elementos da banda, havia um pandeireta, vestido com uma túnica negra e uma máscara que paraecia resultar do cruzamento do coelho de Donnie Darko com o Diabo. «Doomsday» foi a primeira visita e “Prisioner”, álbum editado em Fevereiro deste ano e que foi o pretexto para esta visita. Foi recorrente ao longo do concerto darmos por nós a pensar que, de tempos a tempos, sabe mesmo bem voltar as origens. É bom escutar rock assim. Nos momentos em que os blues são chamados à frente, eis que surgem os teclados sem qualquer vergonha. As canções brilham. Já perto do final escutamos «New York, New York», ainda hoje hoje recordada por muitos pelo simbolismo que ganhou, logo após os ataques de 11 de Setembro em Nova Iorque, por mero acaso; é que “Gold” o álbum do qual a canção faz parte tinha sido editado alguns dias antes.
Desde a última vez que os The xx, subiram ao Palco NOS, numa edição anterior do Alive!, muito mudou. Há “I See You” e o crescimento natural de Romy Croft, Jamie xx e Oliver Sim. Onde antes havia uma (compreensível) dificuldade em encher o palco, porque aquele fantástico minimalismo que os caracteriza ficava curto quando apresentado num espaço tão amplo, agora há confiança e personalidade que permitem manter esse mesmo minimalista e elevá-lo ainda mais. As canções do álbum homónimo e de “Coexist” continuam a ser as mais celebradas, até porque “I See You” não consegue reunir o mesmo consenso, combinando belos momentos, com outros que nos lembram sonoridades que se aproximam perigosamente de momentos que lembram a eurovisão. Se canções como «Crystalised», «Islands» ou «Infinity», trouxeram à memória momentos deliciosos do passado, já «VCR» com uma roupagem mais próxima do que escutamos em “I See You”, acaba por ter um efeito contrário. Os The Xx de “I See You” procuram ser (e conseguem-no!) mais alegres, e isso vê-se na sua postura em palco.
Se havia dúvidas sobre se os Royal Blood iriam conseguir esgotar o Campo Pequeno em Outubro, é seguro dizer que depois do concerto no Palco Heineken, ficaram dissipadas. São uns Japndroids em versão inglesa e com um rock mais musculado, muito por culpa da bateria incansável de Ben Thatcher e da assombrosa guitarra baixo de Mike Kerr. O duo de Brighton, cidade inglesa à beira-mar plantada, incendiou a plateia do Palco Heineken do primeiro ao último minuto. Se «Where Are You Now?» meteu logo todos em sentido, o que dizer de «Lights Out» ou «I Only Lie When I Love You»? Frenético e com Headbanging a rodos. Do palco desceu uma energia impossível de deixar quem quer que fosse indiferente. E os coros não tardaram tardaram: «Figure It Out» e «Out of the Black» foram exemplos perfeitos disso.
De projectos como Bonobo, nunca sabemos bem o que esperar visto que vivem muito do estúdio. No entanto a transposição para palco das canções de Bonobo é bem conseguindo e tem uma base altamente ambiental, reforçada ainda mais pelas imagens que vão sendo projectadas nos ecrãs. Há uma secção de metais que é uma mais-valia e a voz também não é descurada e a presença da vocalista faz-nos voar porque é assim que ela se sente. Cumprem.
Batida é Pedro Coquenão. São indissociáveis um do outro e por isso não de admirar que o concerto oferecido no Clubbing esteve repleto de momentos em que Conquenão, o activista, assume o controlo, sempre com Angola na mira. A música, essa foi igual a si própria; kuduro com cunho próprio e desconcertante, para nos fazer mexer e procurar contrariar aquele cansanço que teima em querer apoderar-se de nós.
Reportagem do 2º dia, 07-07-2017.
Reportagem do 3º dia, 08-07-2017.
Texto por Miguel Barba e Hugo Pinheiro. Fotografia por José Eduardo Real.
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