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NOS Alive! 2017 | Dia 3 (08-07-2017)

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A tarde do última de NOS Alive! 2017 começa no Coreto ao som de Felipe Sambado, num registo pop-rock cantado em português. Benjamin Booker torna o Palco Heineken numa garagem gigante; há rock, blues e soul versão garage. Não se perde muito tempo em palco porque o tempo ali é um bem precioso; quanto menos se fala mais se toca. Um concerto agradável num fim de tarde algo ventoso e que deixa antever uma grande enchente apenas mais perto da hora de Depeche Mode no Palco NOS.

Quem nunca ouviu Filho da Mãe está em falta. É quase criminoso ter de escutar aquelas composições ali, num meio cheio de ruído e com vento mas também não é menos verdade que entre ver ou não ver Rui Carvalho ao vivo, é preferível optar pela primeira opção. Escutar as cordas daquela viola foi, é e sempre será um prazer.

Os Spoon, que já levam mais de 20 anos de carreira, começam (finalmente!) a ganhar o respeito e reconhecimento que merecem. “Hot Thoughts”, editado há bem pouco tempo foi o responsável por isso, se bem que até tenha sido pouco visitado pelo alinhamento. Em vez dissso a banda optou por uma escolha mais abrangente de canções do já vasto catálogo que possuem. O concerto arrancou ao som de «Do I Have to Talk You Into It» e com um Britt Daniel muito bem disposto. Os Spoon sabem o que é o rock e é isso mesmo que entregam. «Hot Thoughts», a canção, é uma das melhores de 2017, e foi recebida em festa. Em «I Ain’t the One» Daniel cantou estendido no chão e «Don’t Make Me a Target» e «Do You» soaram também elas magníficas. Um belo concerto, pleno de competência e a aguçar o apetite para o regresso que já está agendado para Novembro, em Lisboa a no Porto.

Os Fleet Foxes acabaram de lançar “Crack-Up”, o primeiro álbum em seis anos. Se isso por si só já é uma boa notícia, se juntarmos a isso a presença no NOS Alive! e ainda por cima no Palco Heineken, então é ouro sobre azul. Antes de escrever umas linhas osbre o concerto propriamente dito, uma nota para o som, que esteve realmente à altura. As canções dos Fleet Foxes são como peças de filigrana; repletas de detalhes e de rendilhados sonoros que podem e devem ser escutados com muita atenção, pois só assim se podem apreciar a beleza ímpar das canções da banda de Robin Pecknold. O concerto abre com as dias primeiras canções de “Crack-Up”, «I Am All That I Need / Arroyo Seco / Thumbprint Scar» e «Cassius, -» (está cada vez mais a tornar-se um hábito recorrente usar caratéres fora do comum nos títulos das canções). «Grown Ocean» leva-nos a visitar um passado recente mas que, dada a longa ausência da banda, quer dos palcos, quer dos discos, parece bem distante. É um concerto em crescendo, quer da banda, quer do público. Canção após, canção, o sorriso e à vontade na cara de Pecknold tornam-se mais evidentes (mesmo com o som do Palco NOS a teimar a intrometer-se entre canções). Depois acontece algo mágico, mesmo quando entramos na sequência final do concerto. Começa com «Mykonos»; uma onda de entusiasmo inrrompe pela plateia que se lança num enorme coro, daqueles que dá um arrepio na espinha, sabem? Sentimos nós e sentiu a banda, ali à nossa frente, no palco. Escutamos e «White Winter Hymnal» e «Third of May / Ōdaigahara», esta última do “Crack-Up” mas mesmo assim recebida de braços abertos, porque neste momento parecia que levitávamos. E a fechar, mesmo em jeito de cereja no topo do bolo, «Blue Ridge Mountains» e «Helplessness Blues». “If I know only one thing, it’s that everything that I see / Of the world outside is so inconceivable often I barely can speak / Yeah I’m tongue-tied and dizzy and I can’t keep it to myself / What good is it to sing helplessness blues, why should I wait for anyone else?”. Tão bom.

Os Cage the Elephant foram um antídoto para muita gente que chegava um pouco decepcionada do Palco NOS, com a actuação dos Depeche Mode. Os norte-americanos radicados em Londres tiveram uma entrada de rompante ao som de «Cry Baby» e uma recepção apoteótica e mais do que à altura da entrada que ofereceram e que os surpreendeu, para dizer o mínimo. O que também surpreendeu foi a quantidade de pessoas que estava ali à espera para ver os Cage the Elepahnt, em especial de uma faixa etária mais baixa. É um rock com influencias bem vincadas da década de 70 (até na própria pose em palco de Matthew Shultz) mas que, aqui e ali, mete uma pincelada pop e aquele refrão que nos leva a cantar a plenos pulmões como foi o caso de «Cold Cold Cold» e «Trouble» que surgiram logo uma após a outra e não deram descanso a ninguém. O principal culpado deste efeito é Shultz, o vocalista que destila uma loucura contagiante e que não pára por um momento em palco. Tudo gira à sua volta e gira a uma velocidade vertiginosa. Entre as canções da banda que integraram o alinhamento, houve ainda espaço para um cover, «(I’d Go The) Whole Wide World», de Wreckless Eric, um veterano rocker inglês. A sequência final constituída por «It’s Just Forever», «Cigarette Daydreams», «Shake Me Down», «Come a Little Closer» e «Teeth». E pese embora o registo tenha abrandado para a balada «Cigarette Daydreams», o coro não o fez e acompanhou como se não houvesse amanhã. Se os Cage the Elephant já gostavam disto, agoram ficaram a gostar mesmo mas mesmo, mesmo ainda mais.

Já o dissemos relativamente a Bonobo e vamos fazê-lo também com os The Avalanches. Nunca sabemos bem o que esperar, dada a sua natureza de estúdio e com muito trabalho feito com base em samples. A transposição para live act não é, de todo, um processo fácil, porém, neste caso foi extremamente bem sucedida, ao ponto que quase que pareciam outra banda para os menos atentos. As vozes ficaram a cargo de Spank Rock rapper norte-americano e Amanda Blank também ela dos Estados Unidos da América e ao longo de todo o concerto a premissa foi sempre a mesma; manter-nos a dançar. Foi o que aconteceu, mesmo após o exigente concerto dos Cage the Elephant.

Para 2018 o encontro está marcado para os dia 12, 13 e 14 de Julho.

Texto por Miguel Barba e fotografia por José Eduardo Real.



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