NOS Alive! 2023 | Dia 1 (06.07.2023)
Texto por Álvaro Graça e fotografia por Américo Coelho.
Embora tenhamos consciência de que para a grande maioria dos festivaleiros os palcos secundários são de somenos relevância, o arranque da 15.ª edição do NOS Alive com Femme Falafel (Palco Heineken) e Homem Em Catarse (Coreto) era para nós verdadeiramente auspicioso.
Se o Coreto sempre foi território quase inteiramente nacional, sempre pareceu registar-se uma escassez de nomes portugueses do eterno palco secundário do Passeio Marítimo de Algés. E, mesmo sabendo que Femme Falafel alcançou tal feito por meio do brilhante triunfo no Festival Termómetro, não deixa de ser um marco. O projecto saído da criatividade abundante de Raquel Pimpão tem sido alvo de um reconhecimento minimamente efusivo, ao longo dos últimos meses. Pena foi que as letras, que pintam de forma bem colorida as canções de Femme Falafel, não fosse propriamente perceptíveis ao longo da performance no Palco Heineken, visto que são uma parte bem importante e diferenciadora da música que de Raquel Pimpão. Temas como “Mitra Indie” ou “Electrocardiograma” mereciam melhor definição. Ainda assim, a nível musical, deu para dançar e sentir a vibração que Femme Falafel emana, com o seu psicadelismo electrónico com cabeça de jazz, e que fará com que mereça continuar a ter muitos palcos à sua disposição nos próximos anos.
Por sua vez, o Homem Em Catarse adaptou-se ao cenário do Coreto. Não apareceu munido do seu mais recente comparsa, o piano, recorrendo a composições mais pensadas para a guitarra, sendo que dentro destes optou ainda por aqueles mais efervescentes. Pelas contínuas reacções do público, pareceu notório que a magia dos loops característicos desta aventura de Afonso Dorido conquistaram mais umas dezenas de fãs no NOS Alive.
Porém, as primeiras comoções públicas merecedoras de registo aconteceram com a entrada dos Men I Trust no Palco Heineken. Nada que surpreenda por aí além, dado que além do trabalho bem pensado dos canadianos, junta-se um gostinho sempre muito especial do público português por este indie pop fofinho, que cai sempre bem. Além de soar bastante agradável, os Men I Trust acrecentam-lhe uma natural sensibilidade superior, que torna as suas canções simultaneamente mais frágeis e igualmente mais sólidas.
Retornámos porteriormente ao Coreto para assistirmos ao trabalho a solo de Lana Gasparotti, que havia acabado de trasladar o seu teclado desde o Palco Heineken, onde tinha tocado antes com Femme Falafel. Enquanto não finaliza o seu EP debutante, a luso-croata vai aproveitando para dar rodagem às suas composições, o que faz todo o sentido tendo em conta o quão refinadas são. Um trabalho maioritariamente instrumental, com momentos de elevado quilate por parte do trio de executantes em palco, com uma toada jazzística que é a base de todo o trabalho.
Estreámos o piso do Palco Clubbing para testemunhar a prestação de Yaya Bey, a qual nos suscitava bastante curiosidade. E, de facto, a riqueza e o potencial foram bastante detectáveis, pena foi que Yaya parecesse deixar levar-se pelas emoções dos discursos antirracistas e anticolonialistas versando sobre Portugal, que independentemente da sua justeza, influenciaram a qualidade do concerto. Fica a nota para rever numa ocasião futura.
Outro momento que ficou aquém foi a subido dos admiráveis Black Keys ao Palco NOS. Pese embora seja sabida essa veia por parte do agrupamento liderado pela dupla Dan Auerbach e Patrick Carney, pareceu-nos exageradamente lofi a concepção do som, ficando a dúvida se foi propositadamente assim ou nem por isso.
Antecipámos o programado regresso ao palco Heineken, dado que ainda por cima estava prestes a entrar em cena a portentosa Ibibio Sound Machine. A mistura, como sempre, saiu explosiva, com os ritmos electrónicos com travo a África a fazerem ondular a massa humana que ia povoando progressivamente a tenda em questão. Numa ocasião destas nem fica difícil apanhar o comboio, caso cheguemos atrasados, porque o ritmo absorve-nos natural e inconscientemente.
Antes do voltarmos ao espaço principal do NOS Alive, houve ainda bom tempo para manter o ritmo acordado graças ao mecanismo dançante diabólico que os Throes + The Shine são desde o seu primeiro dia de existência. Não tendo ficado colados ao sucesso do rockuduro original, a banda soube evoluir, mesmo que forçosamente tendo em conta as mudanças na formação, mas tem sempre preservada intacta a capacidade de incendiar as plateias que ousam submeter-se alegremente ao seu som.
Os Red Hot Chili Peppers eram os cabeças de cartaz da noite e vestiram com facilidade essa camisola. Têm-se ouvido diversas opiniões acerca do alinhamento tocado em Algés, porém é uma discussão sem fim sempre que envolve um colectivo com a vastíssima discografia (só em 2022 averbaram dois álbuns), e a longa colecção de êxitos, que a banda californiana detém. Em nosso entender, os quatro hall of famers cumpriram dignamente a sua missão, misturando equilibradamente êxitos, canções mais recentes, as jams que tanto prazer lhes dão e as “brincadeiras” habituais (como as versões, tanto tocadas integralmente, como usadas parcialmente para fazer a ponte para temas seus).
Para rematar a nossa contabilidade do dia primeiro no décimo quinto NOS Alive, os Spoon ofereceram uma colherada (demasiado fácil?) de seu rock pujante, e sempre desafiante a roçar a perfeição. Uma bela banda de rock, super bem oleada, que sabe o que quer e o que faz, com uma voz que lhe assenta como uma luva. Britt Daniel parece estar sempre no limiar da explosão, mas aguenta todas as dores, soando depois uma implosão melódica e com laivos de blues.
Reportagem do dia 2 aqui e do dia 3 aqui.
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