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NOS Alive! 2023 | Dia 3 (08.07.2023)

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Texto por Álvaro Graça e fotografia por Américo Coelho.

À entrada para a derradeira jornada do NOS Alive 2023, voltámos a analisar o cardápio do dia e cedo decidimos que não iríamos marcar presença no palco principal, o que só abona relativamente ao leque de escolhas que restantes palcos ofereciam.

King Princess foi a protagonista do primeiro espectáculo a que assistimos, ao abrigo do Palco Heineken, tendo começado com temas de mangas arregaçadas, num indie pop bem bravo, alicerçado em riffs cheios, aos quais se seguiu uma sequência de canções mais doces e brandas. Talvez a divisão do alinhamento não tenha propriamente beneficiado a rapariga de Brooklyn, dado que o gáudio que recolheu no arranque da actuação nunca mais ressoou.

Apesar de ter editado dois avanços daquele que será o seu lançamento de estreia, Inês Marques Lucas contava com uma plateia admirável, especialmente tendo em conta aquilo que por norma se regista no âmbito do Coreto. A jogar em casa, apresentava a sua primeira aparição com banda, o que compreensivelmente provocou alguns pequenos sobressaltos aos quais Inês reagiu com naturalidade, boa disposição e as cores garridas das suas canções. Provou-se que “Do Avesso” é mesmo uma super canção pop, e o concerto manteve-nos curiosos para o que a rapariga de Oeiras tem para nos ofertar em disco.

Voltámos ao espaço do palco secundário para um dos nomes mais estimulantes do cartaz da décima quinta edição do NOS Alive, Angel Olsen. “Velha” conhecida do público luso, não escondendo a evidente satisfação por estar novamente no nosso país, e foi nos deliciando essencialmente ao som da corrente que tomou nos seus trabalhos mais recentes: uma americana que arde em fogo lento, como para se tornar ainda mais deliciosas as melodias que Angel vai entoando com a sua bonita voz, com explosões aqui e ali, e que noutros casos nunca sucedem embora mantenha essa ameaça constante. Poderia eventualmente ter sido um episódio memorável se a compositora de St. Louis beneficiasse de uma plateia mais madura.

Assinámos nova passagem pelo Coreto para apreciarmos a agradável fusão de géneros curada por Iolanda, a qual engrandece com a qualidade das suas vocalizações, que são precisamente a marca registada do recente EP debutante.

A interessante Kelly Lee Owens estava já em ebulição quanto aterrávamos no Palco Clubbing, embora tudo pudesse ser mais interessante caso não estivesse em Algés em regime DJ set. Ainda assim, não deixou os seus pratos por mãos alheias, montando rapidamente um ambiente de rave embora a noite fosse ainda uma criança. O que, porém, pouco ou nada importa para quem abraça naturalmente a potência e envolvência daquelas rotações.

O Palco Heineken apresentaria mais tarde Rina Sawayana, com o comumente denominado espectáculo de luz e cor, mantido à tona por contínuas coreografias da artista e suas acompanhantes, e que ainda nos foi mantendo curiosos apesar do vazio musical. Opinião mais fervorosa terão os dedicados e efusivos fãs que preenchiam essencialmente as primeiras filas.

No Coreto aguardava-nos Peculiar, mais um nome que detém poucas composições publicadas, mas que exibiu dotes suficientes para aguçar eficientemente a nossa curiosidade, numa mistura de sonoridades tradicionais com correntes mais modernos, essencialmente pregadas pela música negra dos últimos anos. Aproveitamos este belíssimo exemplo para elogiar o digno trabalho que tem sido feito relativamente a este palco bem específico, que se teima em tornar-se progressivamente mais importante e refrescante, valendo cada vez mais como uma relevante montra para os talentos portugueses porque, pese embora o tempo curto das actuações, há sempre ouvidos atentos à escuta. Além das transmissões recorrentes pela câmara da RTP Play.

Para encerrar o festival, nada melhor que a presença de um artista que poderia fechar qualquer evento mundial: Branko, que aproveitou para dar rodagem ao tema que havia editado no dia anterior, com a participação de Byte. Para lá desses novos sons, o produtor português colocou a tenda inteira a mexer com a sua colecção de êxitos e o leque de convidados (ainda que de forma artificial) que tornam tudo ainda mais irresistível. O clima de festa final foi dignamente representado em palco, com o convite para que algumas dezenas de membros do público subissem ao altar para mostrarem os seus dotes de dança, ou meramente para patentearem a sua alegria de alguma forma que lhes aprouvesse.

Foi um rico final para uma edição do NOS Alive que, não obstante não oferecer um dos menus mais recheados da sua sólida história, logrou manter-se interessante e acutilante, muito pela mão dos palcos menos conhecidos.

Reportagem do dia 1 aqui e do dia 2 aqui.



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