NOS Alive! 2022 | Dia 2 (07-07-2022)
Texto por Miguel Barba e fotografia por José Eduardo Real.
Quando chegámos ao recinto, Alec Benjamin estava a terminar a sua actuação para uma pequena multidão em êxtase, no Palco Heineken, num registo que parecia passear de forma segura pelo pop e rock.
O dia ficaria marcado por muitas atuações no feminino, e Jüra, foi a primeira a que assistimos no Coreto e que desde logo surpreendeu pela enorme falange de apoio que lhe garantiu uma enchente. Em palco ficou desde logo evidente um grande à vontade e uma forte presença, alicerçada numa voz que cativa facilmente. As influências vão do pop ao R&B e nas suas canções o amor, nas suas várias formas é sempre o fio condutor.
No palco WTF estava tudo pronto para receber Rita Vian que jogava em casa, bem perto de onde compôs muitas das canções que ali nos apresentou. As suas canções assentam numa equilibrada fusão entre o tradicional e o moderno, num contínuo processo de refinação. A juntar a isso há ainda a postura de Rita Vian em palco, olhando-nos sempre nos olhos enquanto canta, como em «Diágonas» ou na sempre mui celebrada «Sereia». A excepção ocorre quando, em jeito de homenagem, se ajoelha para cantar uma canção que os avós cantavam em dueto. Nunca desilude.
Enquanto no, ali ao lado, no Palco Heineken, os Inhaler já atuavam. A banda irlandesa actua num clima de festa, de forma despretensiosa. Ali o principal objectivo é entreter os presentes e isso é atingido, no entanto apenas deverão persistir na memória de quem os foi ali ver propositadamente.
Seasick Steve era um dos nomes mais aguardados no Palco Heineken na Quinta-Feira, de regresso a um palco onde tão boas recordações tinha deixado volvidos alguns anos. Desta vez veio acompanhado de um baterista e os instrumentos musicais já não se resumem apenas àqueles construídos de raiz por ele próprio, embora o orgulho na forma como os apresenta e descreve continue intacto, e a representar uma parte muito importante do espectáculo que apresenta. Musicalmente a receita é a mesma e convenhamos que aqui mudar não é preciso. Os blues, o country e o boogie vivem nas inúmeras guitarras que vão desfilando. E tudo deságua no momento em que Steve convida uma rapariga da assistência a subir ao palco, para se sentar num banco, voltada directamente para ele, enquanto canta e, em simultâneo, procura evitar que ela use o telemóvel para registar o momento, quase como uma crítica velada. Estamos a perder o magnífico hábito de recordar utilizando a nossa memória e Seasick Steve tratou de nos recordar isso mesmo.
Junto do Palco NOS reúne-se uma imensa massa humana que anseia pelo regresso de Florence Welsh e os seus Florence + The Machine. A entrada da inglesa por si só é memorável, é feita ao som de «Heaven Is Here» e «King», conjugado com a energia, da luz e do fantástico vestido vermelho que envergou. Os anos passam mas canções de “Lungs” continuam a ser as desencadeiam as reacções mais apaixonadas e pese embora tenham sido apenas quatro as incursões feitas a esse álbum, «Kiss With a Fist» e «The Dog Days Are Over» surgem quase seguidas e levam a plateia do principal palco do Passeio Marítimo de Algés ao delírio. Por esta altura, outro nome nos chamava ao palco Heineken.
Nilüfer Yanya deu um concerto fabuloso a que poucos assistiram. Canções intensas, que ora transpiram uma certa intimidade, ora tendem a abrir-se um pouco mais, mas sempre com um controlo absoluto. A guitarra de Nilüfer é essencial, mas aquele saxofone nos momentos certos em que surgia, e não foram assim tão pouco vale ouro. Com uma presença incrível em palco, sem precisar de grandes teatralidades para chegar até nós, porque a sua voz, de uma versatilidade incrível lhe garante isso. Exige-se um regresso em nome próprio!
Dino D’Santiago foi o senhor que se seguiu sobre o Palco Heineken, desta vez perante uma tenda a rebentar pelas costuras. A noite estava ganha, mas mesmo assim Dino D’Santiago ofereceu um concerto magnífico. Presença, um discurso fluído e com mensagem são mais valias, aliadas a um talento natural. Estava só em palco mas conseguiu enchê-lo. Nada foi feito ao acaso. Os movimentos e a luz, sempre fundamental na forma como o acompanhava.
Podem encontrar aqui as reportagens do primeiro, do terceiro e do quarto dia.
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