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NOS Alive! 2022 | Dia 4 (09-07-2022)

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Texto por Miguel Barba e fotografia por José Eduardo Real.

O último dia de Alive! tinha o regresso dos Da Weasel mas havia mais do que isso.

As manas HAIM sobem ao Palco NOS no final da tarde, com uma faixa que anuncia o álbum que estará no centro da sua actuação, “Women In Music Ptr. III”, rodeada de cada lado por chouriços gigantes.  «Now I’m in It» marca o início de uma performance onde a comunicação e alguma teatralidade estão sempre presentes, tendo cada irmã o seu espaço para brilhar, seja a tocar algum instrumento, seja a cantar ou simplesmente a falar. Um concerto competente que encerrou ao som de «The Steps», para um público que estava ali acima de tudo pelo regresso da doninha.

Hope Tala aproxima-se do final da sua performance no Palco Heineken quando lá chegamos. A tenda está longe de estar cheia mas há muita gente a ver a londrina e as suas canções que bebem muito no soul e no R&B. A simpatia é evidente. Veremos o que o futuro lhe reserva.

Faltavam dois minutos para as 21h quando os Da Weasel se anunciam. O tão aguardado regresso estava prestes a materializar-se e era por demais evidente que estava ganho, mas não foi por isso que a banda de Almada deixou de entrar com tudo. As quatro canções que podemos escutar deixaram isso claro. «Loja (Canção do carocho)», «A essência – Vem sentir», «Força (Uma página de história)» e «Dúia», esta última a garantir o primeiro coro monumental da noite. Seguiu-se uma deslocação para o Palco Heineken porque estava prestes a acontecer… Phoebe Bridgers.

Phoebe Bridgers faz questão de se anunciar e por isso mesmo, momentos antes de entrar em palco, escutamos «Down With the Sickness» dos Disturbed. Sim, leram bem. A partir deste momento o que se vive no Palco Heineken ficará garantidamente marcado nas memórias dos milhares que escolheram estar ali e demonstrar uma devoção ímpar. Não houve um único verso, repito, um único verso, que tenha ficado por cantar. Vozes foram perdidas ali, mas os corações encheram na proporção inversa. «Motion Sickness» canção maior de “Stranger In the Alps”, foi a primeira da noite e uma das poucas que não fazia parte do alinhamento desse portento chamado “Punisher”, ao ponto de ter sido tocado quase na íntegra (faltou apenas «Halloween»). Assim sendo seguiram-se «DVD Menu», «Garden Song» e «Kyoto», com entrega total de parte a parte. A expressão de Bridgers deixava transparecer alguma surpresa, como se não estivesse à espera desta recepção. Seguem-se «Punisher», tema título e «Funeral», numa nova visita ao álbum de estreia. «Chinese Satellite», surge numa versão mais despida, mas não menos bonita. É difícil não nos sentirmos uma emoção efervescente, tal o entusiasmo que nos rodeia. Há aqui muitas lágrimas e devoção, como é raro ver. «Moon Song» e «Savior Complex» arrepiam e «ICU» começa com uma falsa partida porque alguém na assistência se sente mal e Bridgers interrompe a canção para garantir que seja prestado auxílio. “But I feel something when I see you now / I feel something”. «Sidelines», canção mais contida escrita para a banda sonora de Conversations With Friends, lembra-nos o quão bom é quando encontramos alguém. «Me & My Dog», canção de boygenius, super grupo que Bridgers integra juntamente com Lucy Dacus e Julien Baker, é interpretado em jeito de discos pedidos, com Bridgers só em palco, apenas com a guitarra acústica em punho. Para o fim estava reservada a épica «I Know the End». O concerto em que Phoebe Bridgers e o público português finalmente se conheceram chegava ao fim, mas a memória do que ali se passou irá com certeza perdurar para muitos.

O Manel Cruz é um tesouro que nós temos o privilégio de ter neste cantinho à beira-mar plantado. Um  poço de talento incrível que com pouco ou nada nos oferece canções de ternas e de uma beleza ímpar, como «Borboleta», do reportório de Foge Foge Bandido. E depois há o «O Navio Dela», uma declaração de amor que roça a perfeição. Há espaço para palavrões, porque o palavrão, quando pronunciado pelas gentes do norte tem outra beleza. Há uma «Canção Sem Título», apresentada como uma canção sem esquecimento e «Pão de Beijar Noiva», ou a segunda canção mais pequena da Europa, segundo um jornal de São João da Madeira. Como não adorar o Manel Cruz? Para o fim, nos quatro minutos extra que a produção oferece, o Manel presenteia-nos com a «Canção da Canção da Lua», e quando a guitarra deixa de se ouvir, estamos lá nós, todos juntos – finalmente – para ajudar a levar o navio a bom porto.

Aos Parcels pedia-se uma coisa. Colocar uns largos milhares de pessoas a dançar como se não houvesse amanhã sob a tenda do Palco Heineken. A missão foi cumprida com brio, com as canções impregnadas num funk leve mas altamente dançável deste quinteto australiano a garantirem-lhes muitos e bons novos admiradores.

Podem encontrar aqui as reportagens do primeiro, do segundo e do terceiro dia.



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