NOS Primavera Sound 2022 | Dia 2 (10.06.2022)
É notória uma menor afluência no segundo dia de festival, depois da enchente do primeiro dia. Outro aspecto que salta à vista é a quantidade de crianças no recinto.
Coube a Montanhas Azuis, projecto que junta em palco Bruno Pernadas, Marco Franco e Norberto Lobo, ter honras de abertura no palco Super Bock. Às 17h, sempre a horas, como tão bem o NOS Primavera Sound nos habitua. São aquilo a que se pode chamar uma super banda de nicho, que nos apresentam paisagens solarengas e relaxadas para um final de tarde com os teclados de Marco Franco a darem o mote.
Rita Vian actua logo de seguida no palco Binance, onde apresenta a sua fusão entre o fado e música mais urbana que se vai fazendo (e bem) em Portugal. A sua voz marca posição. É impossível ouvir e não olhar para descobrir de onde vem a voz. O EP “Causa” está no centro da actuação, mas há também tempo para revisitar as origens, com «Sereia» e passar mensagem da importância de ter confiança em querer levar as suas ideias para a frente e acreditarmos em nós próprios.
Rina Sawayama, foi talvez a maior surpresa do dia. Não estava nos planos, mas ao passar pelo palco Cupra, chamou a atenção, quer pela música, quer pelo mar de gente que ali se encontrava para a assistir ao concerto da nipo-britânica, que combina, pop, com rock e nu-metal ou synth-pop japonês, de forma tão fluida, que já se tornaram verdadeiros hinos para muitos. A mensagem é constante, com temas como a doença mental, direitos LGBTQIA ou o mês do Orgulho, que se assinala no mês de Junho. Em palco Rina Sawayama, tem uma presença e personalidades incríveis, sempre devidamente acompanhada por uma banda que cumpre e duas bailarinas. O regresso acontecerá, com certeza, e com alguma brevidade!
Os Slowdive actuaram no palco NOS e cumpriram. A banda de “Souvlaki” continua a arrastar muita gente e, talvez de forma surpreendente para alguns, vão chegando a gerações mais novas. Os Slowdive podem realmente orgulhar-se de ter o nome perfeito, e ao longo do concerto visitaram alguns dos seus álbuns, com especial destaque para “Souvlaki” (naturalmente) e para o mais recente (2017) álbum homónimo. As muralhas sónicas que foram erguendo fizeram as delícias daqueles a quem o shoegaze corre no sangue, e para muitos a cereja no topo do bolo chegou, já perto do fim quando «When The Sun Hits» se fez ouvir.
King Krule trouxe a sua voz grave e inconfundível ao Palco Cupra, devidamente acompanhado por uma banda que alavanca (e bem!) as suas canções e com um simples slideshow de fotos do que deve ser o seu cão, a passar. Archy Marshall, já leva uma carreira longa, com as primeiras gravações a datarem de 2001, ainda com Zoo Kid, e tem sabido crescer a cada álbum. Quando a banda não está em ação, Archy, apenas com a guitarra e a sua voz, consegue criar canções densas e das quais é quase impossível não gostar, «Easy Easy».
Era daqueles concertos em que não sabíamos bem o que esperar. Beck, no palco NOS, acabou por ser uma surpresa pela positiva, mesmo com um concerto em que parte dos instrumentos tocaram por vezes em playback. A discografia de Beck é vasta e já conta com 14 álbuns, pelo que o alinhamento acabou por ser variado, o que permitiu a Beck, ter a plateia sempre consigo em quase todos os momentos, intercalando canções como «Devil’s Haircut», «The New Pollution», «Novacane» ou «Qué Onda Güero». Foi acima de tudo um concerto de celebração, e de memórias, nossas e de Beck, de tempos em que os videoclips tinha um papel preponderante e de que o Beck tem excelentes exemplos. A inevitável «Loser», chegou quase no fim, para deixar a plateia ao rubro e estender uma passadeira vermelha para os senhores que se seguiram.
O regresso dos Pavement estava adiado havia dois anos. Devia ter acontecido logo em 2020, mas teve de esperar até 2022. Doze anos passaram desde a última reunião, que tinha tido como uma das (poucas) paragens, o Primavera Sound em Barcelona. Stephen Malkmus, Bob Nastanovich, Scott Kannberg, Steve West, Mark Ibold e Rebecca Cole, que integra a banda ao vivo sobem ao palco e desde logo a boa disposição é evidente. Daí em diante, seguem-se 1h45m de celebração pura, que se inicia ao som de «Grounded» e «Grave Architecture», devidamente acompanhadas pelas vozes de largos milhares. «Gold Soundz» foi porventura, o primeiro momento épico de vários que ali se viveram, logo no momento em que Stephen Malkmus canta os primeiros versos. “Go back to those gold sounds / And keep my advent to yourself / Because it’s nothing I don’t like / Is it a crisis or a boring change?”.
A relação de Malkmus com a guitarra é algo digno de se ver. Parece uma extensão de si própria, tal a facilidade com pega numa e a toca, seja de frente, de lado, por cima da cabeça ou pelas costas. A isto junta-se o som único e imperfeitamente perfeito da banda. Algo que lhe confere um toque único e o motivo pelo qual foram, são e continuarão a ser importantes, quer para o público, quer para outras bandas.
Seguem-se «Embassy Row», «Trigger Cut» e «Shoot the Singer», e em volta vemos sorrisos, cabeças a abanar, ouvimos cantar e celebrar. São momentos especiais aqueles a que se assistem, ali no palco NOS. A sequência seguinte de canções inclui «In the Mouth a Desert»,
«Stereo» e «Transport Is Arranged». “Easy-talking, border-blocking / Transport is arranged”. Sorrimos. Muito! «Date w/ IKEA» traz um registo mais upbeat a que se segue «Harness Your Hopes», que recentemente ganhou nova vida via Spotify.
«Two States» é festa em estado puro e «Spit on a Stranger» dá aquele arrepio bom na espinha. Os Pavement não têm canções más. A sério. «Fight This Generation» antecede esse momento maior que é «Cut Your Hair» (o refrão ecoa logo na cabeça, assim que a canção começa). «Type Slowly» é sobre amor a uma velocidade própria, porque tudo parece acontecer a uma velocidade diferente à nossa volta quando estamos apaixonados. «Range Life» é o conselho de vida que muitos de nós devíamos seguir, talvez agora mais do que nunca. “I want a range life / If I could settle down / If I could settle down / Then I would settle down”. «Unfair» é a canção que antecede «Shady Lane», o hino perfeito para a procura da felicidade que todos nós almejamos. No fim, surge «Fin». Está certo.
Foi magnífico. Deixamos o palco NOS realmente felizes. Cansados, mas felizes.
Podem encontrar o texto do primeiro dia de Festival aqui.
Podem encontrar aqui os textos do primeiro e terceiro dia de Festival.
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