NOS Primavera Sound 2022 | Dia 3 (11.06.2022)
Que saudades de chegar ao último dia de um festival! Um dia com uma nova enchente, tudo por culpa de uns senhores que dão pelo nome de Gorillaz. Mas há muito mais para contar antes de lá chegarmos!
A tarde começou com o sol bem quente e ao som dos Dry Cleaning, no palco Cupra. A voz de Florence Shaw, crua e grave soa tão bem em álbum e ao vivo é igual. Depois o seu registo spoken word assenta que nem uma luva na música da restante banda; baixo, guitarra e bateria. É uma santíssima Trindade que nos oferece rock (alternativo ou post, escolham vocês o adjectivo que preferirem). Mas voltemos a Shaw, que emana carisma até mais não e fulmina com o olhar (elogio!). “New Long Leg”, o álbum de estreia editado em 2021 foi tocado quase na íntegra, com direito a dedicatória a um Pedro – felizardo – em «Strong Feelings» e a Paula Rego em «More Big Birds». A belíssima «Scratchcard Lanyard» ficou reservada para o final. Queremos mais Dry Cleaning.
No palco NOS, Roberto Carlos Lange, mais conhecido como Helado Negro, começou por oferecer um concerto calmo e relaxado, sempre com uma matriz latina nas suas composições, não ao nível da sonoridade, mas também das próprias letras, pela facilidade com salta entre o espanhol e o inglês. A evolução do concerto foi introduzindo a componente electrónica que também o caracteriza e que, será talvez um dos factores que dão às suas canções um toque realmente próprio e ainda mais apelativo, com «», já perto do final a ser um exemplo perfeito disso.
A música dos Khruangbin tem um efeito hipnótico (pelo menos para alguns milhares de pessoas), e no palco Cupra isso ficou claro. A palavra nem sempre tem um papel importante nas suas canções que nos oferecem, mas de tempos lá está, e é sempre um valor acrescentado.
Se não tivessem dito que as guitarras tinham ficado em Itália no aeroporto de Florença, ninguém teria reparado. Mesmo com as guitarras emprestadas, os Dinosaur Jr arrancaram um concerto dos diabos no palco NOS. Ao ponto que J Mascis, que usou uma t-shirt do Laughing Hyenas, e que estava visivelmente chateado com a situação foi ficando cada vez mais bem disposto. Aqui as guitarras mandaram. E na assistência, ali mesmo ao lado, Kim Gordon e Stephen Malkmus assistiam tranquila mas atentamente ao concerto. Foi bonito vê-los a eles, lendas vivas, a assistir ao concerto da banda de outra lenda viva a tocar canções como «Feel the Pain» ou «Start Choppin’» Para o final do concerto ficaram dois covers, «Just Like Heaven», dos The Cure e «Chunks» dos Last Right.
Little Simz entra em palco ao som de «Introvert». Tinha de ser porque é daquelas canções feita para abrir um concerto. À frente do palco Cupra está um mar de gente para a receber. Pese embora tenha apenas dois álbuns editados, “GREY Area” e “Sometimes I Might Be An Introvert”, a carreira da londrina é muito mais do que isso, com uma carreira na área da representação (Top Boy na Netflix e como ela própria no mais recente filme do Venom). Ao fundo do palco podia-se ler Simbi, diminutivo para o seu próprio nome, Simbiatu Abisola Abiola Ajikawo, como que para se lembrar sempre quem é e de onde vem. E se muitos ali sabiam ao que vinham, muitos foram agradavelmente surpreendidos pela entrega e presença do primeiro ao último minuto do concerto. A música de Little Simz é altamente pessoal e não faltam referências biográficas, como por exemplo em «I Love You, I Hate You» ou sobre feminismo e doença mental, como é o caso de «Venom». Aqui também se exige um regresso em nome próprio.
Quando os Interpol, no palco NOS, deram início ao concerto ao som de «Untitled», houve esperança de que poderíamos assistir a um concerto a lembrar outros tempos, mas a verdade é que à banda de Nova Iorque falta o fulgor de outros tempos. O som algo baixo, em especial da voz de Paul Banks também não terá sido uma grande ajuda. Entre um alinhamento repleto de clássicos, a canção que – por incrível que pareça – melhor soou foi «Toni», um dos singles já conhecidos do novo álbum da banda a editar em breve. E tudo por culpa de um pequeno grande detalhe; Daniel Kessler ao piano e a mostrar todo um novo potencial para os Interpol explorarem. Se o farão ou não, teremos de esperar para ver. Antes disso houve oportunidade para escutar «Pioneer to the Falls» e «Not Even Jail» com sorriso, mas sentindo sempre que faltava ali algo. «Rest My Chemistry» e «The Heinrich Maneuver» colocaram muitos a cantar em uníssono, mas lá está… faltava ali algo.
Podia ter optado por não escrever sobre o DJ Set de Grimes, no palco Cupra, mas decidi fazê-lo. Não deveria ter acontecido. Foi caótico e inconstante, talvez um pouco daquilo que Grimes pode ser quando quer. Um concerto da própria teria sido tempo mais bem empregue.
É certo que os Gorillaz em palco têm muito de Damon Albarn, mas a entourage que o rodeia em palco acrescenta muito mais que a soma de todas as partes. Tivemos o privilégio de assistir um concerto com direito a momentos únicos em estreia na tournée, como foi o caso de «The Valley of the Pagans», com Beck em palco e, um pouco mais tarde, foi a vez de Little Simz em «Garage Palace». A diversidade sonora é cartão de visita, que com uma banda que tem tanto de enérgico como de talentosa, permite que não existam momentos mortos. A abertura é feita ao som de «M1 A1» e daí em diante e quase sem paragens é um desfile de clássicos como «19-2000» ou «Tomorrow Comes Today». «O Green World» leva Damon Albarn para o piano e nos presenteia com uma magnífica introdução. «Kids With Guns», que na versão do álbum conta com a participação de Neneh Cherry, toca na ferida e «Désolé» traz ao palco essa grande senhora que dá pelo nome de Fatoumata Diawara. A sequência final do concerto é imprópria para cardíacos, com «Dirty Harry», «Feel Good Inc.» (com a presença de POS dos De La Soul em palco) e, por fim, «Momentary Bliss Clint Eastwood», com o som incompreensivelmente cortado no instrumental final da canção, vulgo outro, para espanto de todos os presentes, banda incluída.
O regresso do NOS Primavera Sound 2022, foi memorável, com muita gente (alguns dirão que foi demasiada) mas que, no cômputo geral foi bem-sucedida, devendo sempre haver a consciência que se pode sempre melhorar! Venha 2023!
Podem encontrar aqui os textos do primeiro e segundo dia de Festival.
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