NOS Primavera Sound 2016 | Dia #2 (10.06.2016)
Quando os encantos vindos de outros mares nos abraçam até à medula
Segundo dia de NOS Primavera Sound e fomos imensamente bem recebidos com a brisa solar a tocar na nossa pele e deixar-nos quentinhos. Às 17 horas havia mais pessoas no recinto do que no dia anterior e isso também nos fez sentir que algo de mágico iria acontecer nesse dia… Havia algo no ar…
Partimos em busca de um lugar sentado à sombra para curtir a dance music feita pelos portugueses White Haus, mas depressa corremos para as grades. João Vieira e os seus companheiros (André Simão, Graciela Coelho e o estreante João Doce) transformaram o palco Super Bock numa autêntica discoteca – canções feitas para abanar os ombros e os pés e que ainda hoje damos por nós e começamos a trautear. «How I Feel», «This is Heaven» e «Far From Everything» tornaram este concerto verdadeiramente espectacular! O casaco azul do João Vieira também era mesmo lindo (desculpem, são meros pormenores).
Após 40 minutos de harmonia, transmutamos essa mesma felicidade para o palco NOS onde os Cass McCombs também encantaram. Agora sim, estendemos a toalha e sentámo-nos confortavelmente no relvado. Da folk ao rock, as canções de Cass McCombs soaram a um abraço de conforto e a pedir uma sala fechada. Houve «There Can Be Only One» e «Country Line» para segurar o sorriso como se fosse um doce directo para o coração. Ainda assim, olhando à volta, as t-shirts verdes em homenagem a Pet Sounds eram visíveis até na Lua com toda a certeza.
Entretanto começam a surgir as indecisões: ver Destroyer ou BEAK>? Acabámos por ficar a ouvir «Dream Lover» e a pensar no quanto o amor é sonhador e em como Dan Bejar com os seus óculos Ray Ban esbanja uma boa aura. Ame-se, ou odeie-se, o que é certo é que Destroyer ‘deram tudo’ (excepto conversa ao público) e portaram-se bem. Tocaram a «Times Square» e ainda «Bangkok» e era tudo o que queríamos ouvir. Passámos ainda pelo palco . onde a falha de electricidade marcou o atraso do concerto de BEAK>. Com isto conseguimos escutar a primeira canção, mas acabámos por ir comer qualquer coisa porque as próximas horas avizinhavam-se muito emocionantes e não queríamos perder pitada!
Outro jogo de probabilidades: ver Brian Wilson ou Dinosaur Jr.? Escolha difícil. Ganhou a comemoração dos 50 anos do lançamento de “Pet Sounds” dos Beach Boys! (para a próxima era bem não colocarem dois dos grandes a tocar em simultâneo). Brian Wilson, o anfitrião, surgiu em palco amparado por dois músicos, mas enganam-se se pensam que está um ‘velho acabado’ – este ainda detém uma viva lucidez e foi um excelente entertainer.
Cada canção tinha uma introdução ou uma explicação. Ouviu-se «God Only Knows», a tal música de que Sir Paul McCartney gosta bastante, «California Girls» e «Surfer Girl». “Agora sim, vamos começar a tocar Pet Sounds” – e assim foi com «Wouldn’t It Be Nice». Ter o privilégio de assistir a um concerto único, observar os rostos da multidão, ver toda a gente a dançar… Verdadeiramente inesquecível. Foi um concerto cheio de «Good Vibrations» e onde viajamos nas ondas de «Surfin USA». Obrigado Brian Wilson, por te manteres um tipo fixe aos 73 anos.
Saímos do palco NOS com uma alma nova e rumámos ao palco Pitchfork – o palco de todas as surpresas e mais algumas onde devia haver mais destaque… ou então para a próxima acampamos ali e dali não saímos. Empress Of são uma miúda, um tipo na guitarra com sintetizadores e outro na bateria. São também de uma classe da pop electrónica onde predominou um público estrangeiro com as letras na ponta da língua. A voz de Lorey Rodriguez não passa, de todo, despercebida, assim como a sua emoção pela grandiosa recepção do público. Dançámos, avistámos um blusão de ganga com um unicórnio de lantejoulas e pensámos “estamos no melhor cenário”.
Não ficámos para assistir ao concerto das Savages (outro pecado). Escutámos ao longe e parece que, a bem da verdade, as raparigas foram brutais. Mas o recinto estava verdadeiramente cheio e os melhores lugares para ver a diva PJ Harvey estavam a ficar lotados. Escutámos algumas apostas de como seria o alinhamento e havia uma certa tensão no ar. Eis que se ouvem os primeiros acordes de «Chain Of Keys» com PJ Harvey a carregar um saxofone e encantar em cada nota. Outro pormenor bastante relevante: o som! Se no dia anterior o som dos palcos parecia estar com algumas falhas e demasiado baixo, este foi o primeiro concerto em que o som nos soou impecável e imaculado. A banda que a acompanha, onde se destacam duas figuras imponentes – John Parish e Mick Harvey – todos vestidos de preto, de uma sobriedade coerente, tornou tudo incrível e arrebatador.
Podemos dividir o concerto em várias fases: a primeira fase apresenta “The Hope Six Demolition Project”, o último trabalho discográfico da artista. A segunda fase: um alinhamento de grandes êxitos como «Let England Shake», «The Words That Maketh Murder» e posteriormente mais para o final «To Bring You My Love» e «Down By The Water» – que só de pensar nesse momento até ficamos arrepiados pois o silêncio tornou-se rei e senhor com todos os presentes estavam com os olhos em cima do palco (ou para os ecrãs gigantes) a aclamar qual deusa vinda de outro universo. Se no nosso imaginário algumas das canções seriam impossíveis de ouvir porque achávamos que não fariam sentido, o que é certo é que até o alinhamento nos surpreendeu pela positiva. Novos arranjos musicais a interligar de forma coerente toda a sua escolha. Tudo certo!
PJ Harvey parece-nos uma figura extremamente frágil, mas ao mesmo tempo, uma guerreira vinda do Olimpo que leva tudo e todos à frente. Deixou-nos de queixo caído e absolutamente rendidos.
Entre Mudhoney e Kiasmos ganhou novamente o palco Pitchfork com o pós-punk dos norte-americanos Protomartyr! Aquela voz e aquela imponência em palco, como se não fosse nada com o tipo, a sério… maravilhoso. De repente a voz de Joey Casey fazia lembrar a de Sivert Høyem (da banda norueguesa Madrugada), mas depois acabou por puxar dos graves e as canções de “The Agent Intellect” ganharam pontos infinitos. Há Rock, Senhores! Está vivo e bem dentro da nossa alma. O público também colaborou e muito. Mais um concerto que vale vinte valores.
Mais um pedido de desculpas aos fãs de Beach House, mas aquele cenário e o recinto a meio gás fizeram com que fôssemos bailar durante um bocado ao som de Tortoise. Achamos que o palco . tinha uma maldição… os problemas com o som eram uma constante. Demorou mais um bocadinho a começar – o NOS Primavera Sound prima pela pontualidade dos seus concertos – mas valeu a pena.
Para este segundo dia há alguns arrependimentos, mas um festival é mesmo assim. Nunca dá para ver tudo… Ainda assim, e olhando para trás, são tão boas as recordações! Havia sorrisos, havia amor no ar. E balões com leds! Falta um dia e queremos mais.
Fotografia por Graziela Costa | © Rua de Baixo. Todos os direitos reservados
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