NOS Primavera Sound 2019 | Dia 1 (06-06-2019)
À imagem do ano passado, a cidade do Porto recebeu-nos com bastante chuva na manhã que precedia a abertura de portas do festival, quiçá abençoando novamente a nossa presença.
Tal como também sucedera em 2018, a chuva parou miraculosamente quando demos entrada no recinto do Parque da Cidade, e até o sol decidiu não perder os acordes iniciais do NOS Primavera Sound.
Dino D’Santiago foi o nosso anfitrião, abrindo as hostilidades em pleno palco Super Bock. Claramente em conta-relógio, tentando aproveitar ao máximo o tempo que lhe era concedido, Dino foi aquecendo as hostes. O clímax surgiu precisamente durante a última música onde foi esticando o cabo do seu microfone para conseguir cantar e dançar no meio do público, que acorreu imediatamente para formar uma verdadeira rodinha de funaná.
Após percebermos que a actuação de Mai Kino havia sido adiada, fomos estrear o palco principal do festival ao som de Christina Rosenvinge. Inteiramente desconhecida, para nós, a cantora (e também actriz) dinamarquesa revelou-se uma agradável surpresa. Autora de um indie pop inventivo q.b., ora interpretado em inglês, ora em espanhol (reside actualmente em Madrid), Christina foi enchendo o palco com a ajuda de uma banda extremamente competente.
Seguia-se no palco ao lado o Men I Trust que, ao invés da artista anterior, foram aviando um repertório abusadamente linear, ainda que amigável ao ouvido, com vários temas a soarem demasiado semelhantes, o que acaba por ir desanimando algum público. Além disso, a falta de interação do quarteto canadiano com a plateia também não ajudou a levantar a moral, ainda que as canções finais se mostrassem ligeiramente mais ritmadas, num estilo que nos foi recordando frequentemente dos nossos Best Youth.
Regressámos ao palco NOS para receber o expectável workshop de rock alternativo oferecido pelos Built To Spill. A banda veio celebrar com o público nacional o vigésimo aniversário do seu disco «Keep It a Secret». Depois de um arranque um pouco desconexo, os acordes bem cheios das guitarras começaram a agarrar-nos pelo braço, daquelas que recheiam em camadas as canções, uma marca bem sui generis do verdadeiro rock alternativo dos 90’s.
Começavam a surgir os primeiros cruzamentos de horários, algo para o qual nunca estamos realmente preparados, apesar de serem comuns em todos os eventos desta estirpe. Optámos inicialmente por Miya Folick, que se estreava por cá, dado termos ficado super agradados com o seu trabalho debutante «Premonitions». Extremamente enérgica em palco, Miya foi desde cedo criando uma empatia com o público, que ficou progressivamente boquiaberto com os dotes vocais da norte-americana. A voz de Miya Folick é um verdadeiro instrumento, capaz de preservar ao vivo os parâmetros registados em estúdio, sendo que em certos momentos a sua música parece depender um bocadinho demais das suas cordas vocais. As canções mais rockeiras são claramente as nossas favoritas, embora a energia da artista nos mantenha bem atentos a todas.
Deslocámo-nos em passo mais acelerado para uma visita inicial ao palco Seat, de forma a metermos a vista em cima de Jarvis Cocker, antes que colocasse um ponto final nesta tour europeia e tivesse que retornar ao Reino Unido desconsolado com a situação política actual, conforme nos confessou. Com os seus gestos sempre teatralizados, e as palavras alinhavadas com a precisão de um ourives, Jarvis assinou mais um exercício repleto de classe. Apesar de ter sido um olhar curto, deu para concluir que Jarvis Cocker is still ruling the world!
Descemos novamente até ao palco Pull&Bear para assistir ao sempre misterioso e viciante Allen Halloween. Acompanhado por DJ e dois MC’s, a estrela da companhia foi debitando as suas rimas contundentes por sobre as batidas características do street rap. «Na Porta Do Bar» e «Marmita Boy» são temas sempre arrepiantes de testemunhar ao vivo, com Allen Halloween a soar ainda mais inspirado no meio da penumbra.
Ao mesmo palco subiram posteriormente Let’s Eat Grandma, com o seu indie pop precoce, e uma tremenda dose de vigor. Tendo por base os teclados das BFFs Rosa Walton e Jenny Hollingworth, o tom da performance tem um pendor claramente estridente e, ao fim de três ou quatro temas, pareceu-nos estar a ouvir sempre a mesma canção. Seja como for, há que elogiar sem rodeios a postura em palco do duo de vozes de Let’s Eat Grandma, que não se cansam de dançar e pular, cativando ainda mais o público afecto ao seu som.
Às 00h30 a massa humana encontrava-se logicamente em força na zona do palco NOS, dado ser essa a hora marcada para a cabeça de cartaz do dia inaugural: Solange. Nos minutos que antecederam o concerto pudemos observar a estrutura branca que se encontrava em palco, a qual incluía uma escadaria na ponta direita, e um quadrado no lado oposto onde foi enclausurada a bateria. Estes artefactos podiam ter-nos feito adivinhar a natureza do concerto que a senhora Knowles traria até ao Porto. Pessoalmente, revendo-me muito mais facilmente no ambiente dos discos de Solange do que no universo exorbitante da sua mana Beyoncé, foi com alguma pena que confirmámos que o concerto incluía uma profunda vertente de entretenimento visual do que propriamente focada na música. Tanto assim é que, na maior parte do tempo, a banda mal lograva fazer-se ouvir, perdida no turbilhão da componente mais electrónica, estando os próprios músicos obrigados a seguir muitas das coreografias dos dançarinos (quase sempre demasiado vãs, e recorrendo muito ao simples sobe e desce da referida escadaria.). Foi um final algo desapontante, mas a grande maioria da plateia estava completamente rendida a uma das novas divas do soul e do R&B, independentemente dos nossos sentimentos.
Podem encontrar a reportagem do dia 2 aqui e do dia 3 aqui.
Texto por Álvaro Graça e fotografia por Maria Inês Graça.
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