Nouvelle Vague
Na transição para os anos 60 surgem novos movimentos artísticos como o New-Look no estilismo, o Nouveau Roman na literatura ou o Nouvelle Vague no cinema
Nomes como Bardot, Belmondo, Karina, Brialy e Moreau, símbolos do cinema francês, enchiam os grandes ecrãs em planos arrojados e eróticos, evocando fortes sentimentos carnais. Uma geração de actores que representava este movimento de vanguarda chamado Nouvelle Vague, que se traduziu num cinema novo e renovado, marcado por uma identidade mais realista e próxima, em que o realizador era central, intensificando assim, o conceito do “cinema de autor”.
A expressão Nouvelle Vague foi usada pela primeira vez por Françoise Giroud, na revista L’Express em 1958, quando se referia aos novos cineastas franceses. Eram chamados “Os jovens turcos”, grupo formado por François Truffaut, Jean-Luc Godard, Claude Chabrol, Alain Resnais, Jacques Rivette, e Eric Rohmer, jovens, ambiciosos e talentosos, criam uma amizade que marcaria a história do cinema para sempre. Alguns deles, entusiastas da palavra escrita, formalizaram as suas reflexões como críticos na revista Les Cahiers du Cinéma. Eram liderados por André Bazin, um crítico, que começou a olhar para o cinema de diferente modo, focado nas formas, estilo e olhar.
Nestas publicações interrogavam-se sobre a imagem e criticavam o carácter pesado do estilo cinematográfico francês. Para eles, era preciso a aproximação e o diálogo com o povo, era necessário mudar a atitude de filmar, captar planos mais reais, entre outras ideias arrojadas.
Largaram a teoria e revolucionaram o cinema de um modo prático e original; Começaram a filmar ao mesmo tempo que mostravam o desagrado por muitos dos grandes sucessos do cinema francês, chamada “Qualité Française”, contrariavam-na através da produção de filmes mais sinceros e pessoais, rompendo com os moralismos existentes e tabus estabelecidos.
A revolução da Nouvelle Vague está directamente associada à evolução técnica. Coincidiu com uma abertura pioneira na captação das imagens e dos sons (uso do Nagra, câmaras portáteis, as películas que se tornavam mais sensíveis e a invenção da colagem da película com tape) que acabaria por abrir novos caminhos à montagem.
Jean-Luc Godard e François Truffaut foram deste grupo de jovens os que mais se destacaram, embora que como cineastas seguissem caminhos completamente diferentes ao longo do tempo, ambos foram essenciais para a afirmação deste inesquecível movimento. O sensível Truffaut sempre se importou mais com o desenvolvimento dos personagens do que com a imagem, ao contrário de Godard, que preferia explorar ao máximo as possibilidades técnicas. Não que Truffaut não ousasse tecnicamente ou que Godard não tivesse cuidado no desenvolvimento dos personagens, mas claramente a preferência de um, não era a do outro. Em suma, ambos conseguiam excelentes resultados, cada um no seu estilo.
O filme “Nas Garras do Vício” (“Le Beau Serge”, 1958), do realizador Claude Chabrol, inaugura este movimento. É a história de François, um jovem que regressa à sua terra natal no interior de França após uma ausência de doze anos e de se tornar tuberculoso.
Posteriormente, surgiram outros filmes que marcariam profundamente esta nova onda francesa, segue-se uma breve descrição das principais obras. Do realizador Jean-Luc Godard, destaca-se “O Acossado” (“A Bout de Souffle”, 1959), um assassino em fuga, Michel (Jean-Paul Belmondo), que após roubar um carro em Marselha, segue para Paris. No caminho mata um polícia, que tentou prendê-lo por excesso de velocidade e é em Paris onde acaba por engatar a relutante Patricia (Jean Seberg); “Uma Mulher É uma Mulher” (“Une femme est una femme”, 1961), Ângela (Anna Karina) trabalha como stripper, vive com o amante, o vendedor de livros Émile. O seu maior desejo é ter um filho, mas o amante não aceita, argumento bastante simples com as tensões entre o casal exploradas. Emile: “Angela, tu es infâme”, Ângela responde: “Non, je suis une femme”. “Viver a vida” (“Vivre sa vie” ,1962), protagonizado por Anna Karina, um filme dinâmico dividido em 12 segmentos desconectados que apresentam o percurso de uma mulher que se inicia no mundo da prostituição. “Alphaville” (1965), filme extremamente inovador por misturar Sci-Fi e Noir, ficção científica claramente inspirada por filmes noir, foca-se mais em aspectos filosóficos e existenciais do que nos avanços tecnológicos.
De François Truffaut, “Os Incompreendidos” (Les Quatre Cents Coups, 1959), a história de um adolescente rebelde. Antoine (Jean-Pierre Léaud), negligenciado pelos pais, odeia a escola, sai de casa e acaba por cometer alguns pequenos delitos. Por último, “Jules et Jim” (1962). Uma Mulher (Jeanne Moreau) para Dois (Oskar Werner e Henri Serrer), formam um triângulo amoroso, Jules e Jim são dois escritores em Paris, unidos por uma amizade quase íntima. Ambos se apaixonam por Catherine. Por muitos considerada a obra-prima de Truffaut, foi sem dúvida o sinal da genialidade do cineasta francês.
Os filmes da Nouvelle Vague invadiram o mundo, em grande parte graças às novas vedetas, que rapidamente se tornaram modelos de um novo comportamento social e de uma nova moral sexual. Os temas abordados eram ousados e estruturados por uma narrativa pouco linear.
As cenas de nudez conferiam um erotismo bastante peculiar. Era pouco explícito, mas inequivocamente sensual. Pode-se frisar também o respeito pela mulher; surge uma admiração completa e uma liberdade associada à representação feminina.
Estas obras cinematográficas vinham afirmar uma emancipação aliciante e sedutora que viria a influenciar gerações de cineastas em vários países como Suíça, Bélgica, Itália, Alemanha, Reino Unido, Jugoslávia, Checoslováquia e até em Portugal e no Brasil se sentiu esta corrente, como foi o caso dos movimentos Novo Cinema e Cinema Novo respectivamente, chegando até aos EUA com o movimento Nova Hollywood.
Ainda hoje se sente este legado, e para o celebrar várias cidades portuguesas receberam a 13ª edição da Festa do Cinema Francês. A integrar a programação deste ano, surge um clássico da Nouvelle Vague: o filme” Lola”, de Jacques Demy com Anouk Aimée.
“A canção” de Lola (1961), em que Anouk Aimée interpreta uma dançarina de cabaré.
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gosto muito do artigo.ve-se logo que és uma sabida sobre cinema :)