“Nunca Mais Falamos Disto”, de Andrea Bartz
"Eu vou, eu vou, enterrar um corpo eu vou"
Nunca Mais Falamos Disto, de Andrea Bartz (Euforia, 2024), é um thriller psicológico de enredo cativante, meio louco, focado em duas melhores amigas, Emily e Kristen, ou como elas se denominam, Kremily, e a sua relação extremamente codependente e altamente tóxica.
Andrea Bartz, é uma jornalista, especializada em psicologia, que já ocupou o cargo de diretora de revistas, tais como Glamour, Psychology Today e Self, alterando o seu percurso de vida para escritora freelancer de jornais e revistas bem conhecidos, tais como The Wall Street Journal, USA Today, Travel + Leisure, Marie Claire, Vogue, Cosmopolitan, Women’s Health, Elle, entre outras.
O seu primeiro thriller, The Lost Night (2020), bestseller do L.A. Times, foi adaptado para televisão, o segundo, The Herd, foi considerado o melhor livro do ano pela Marie Claire e CrimeReads, entre outros.
O terceiro thriller, Nunca Mais Falamos Disto (We Were Never Here), publicado em Portugal pela Euforia, foi considerado um bestseller pelo New York Times, escolhido pelo Reese’s Book Club e será adaptado para filme da Netflix.
O seu quarto livro, The Spare Room, está a ter críticas positivas e também será publicado pela Euforia em 2024.
Podemos retomar a vida exatamente onde a deixámos, como se nada tivesse mudado. É assim que se percebe que somos amigas de verdade.
Uma amizade, ao olho nu, inocente, dedicada, perfeita, até começarem a notar-se as fissuras, que lentamente vão destruindo essa farsa.
Ambas as personagens têm a quota de drama e traumas, para transformá-las para sempre, mas os seus comportamentos são completamente opostos.
Kristen é mais extrovertida e arriscada, mas o seu comportamento começa a ficar errático, a roçar o perigoso, a exibir um comportamento dominante; ao passo que Emily, aparenta ser mais frágil, com um caráter fácil de ser dominado.
Tudo parece derivar de um trauma passado de Emily, aquando de uma das viagens de ambas ao Camboja, onde algo nefasto acontece e deixa Emily marcada para sempre.
Mas quando algo igual, sucede no seu último dia de viagens à América do Sul, as engrenagens, outrora travadas, começam lentamente a mover-se e a neblina na mente de Emily, dissipa-se.
Acordei cedo e pestanejei de encontro à luz filtrada; o canto dos pássaros deslizou pelas janelas abertas e voltei a fechar os olhos, saboreei-o, sabendo que algo estava prestes a acontecer, apesar de não me lembrar o quê.
Confrontada com a nova relação de Emily, Kristen é tomada de surpresa inicialmente e parece acalmar-se logo em seguida. A amizade parecia ter sofrido um abalo, mas nada poderia preparar Emily para o que viria a seguir.
Kristen não se dá por vencida e começa a imiscuir-se cada vez mais na vida de Emily, até chegar a um ponto de ebulição entre ambas.
Conseguirá Emily libertar-se das amarras metafóricas que Kristen lhe colocou? Será Emily tão inocente como parece? Qual das duas é mais perigosa?
Kristen, mais do que qualquer outra pessoa, devia saber que as pessoas desesperadas não se deixam travar por nada para conseguirem o que querem.
Este livro tem uma escrita inteligente e hábil, e aborda o poder feminino, e a falta dele quando deparadas com certos momentos arriscados, numa miríade de situações que dão uma vibe estilo You, de Caroline Kepnes, com Bartz a utilizar a sua experiência com viagens, entregando como palco das peripécias deste duo bem louco, locais como o Camboja e Chile, enquanto usa a sua experiência em psicologia, para criar personagens tão fraturadas, colocadas em eventos extremos e alucinantes.
Com um ponto de partida forte, começa a formar uma bola de neve gigante, até que se transforma numa avalanche, prestes a arrasar tudo e todos.
Segredos são revelados, vidas são ameaçadas, e só há uma solução possível para aquela tortura parar, de uma vez por todas. Mas talvez as coisas não sejam tão simples como parecem.
Nunca Mais Falamos Disto, de Andrea Bartz, é um thriller psicológico, tenso, sombrio, cheio de twists e emoções fortes, que tenta ludibriar o leitor, levando-o a questionar se a narradora é deveras fiável.
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