O Castelo Andante

O novo de Hayao Miyasaki em revisão na rua de baixo.

Fechem os olhos. Imaginem-se em Inglaterra, no início do século XX. Sintam os seus nevoeiros pesados. Voem através das paisagens tranquilizantes e agora, chegando à cidade movimentada, foquem a atenção numa rapariga. Não essa, a outra simples, que remata o último ponto num dos chapéus, negócio que o Pai lhe deixou. Aquela que ao sair à rua é interpelada por um estranho. A que é atacada por fantasmas negros que saem das paredes! A que é enfeitiçada por uma bruxa ciumenta!

É assim que começa o novo filme de Hayao Miyazaki. É assim que este Capricórnio de Tóquio mantém e impulsiona a sua carreira de animador iniciada aos 22 anos, ao demonstrar, já nessa altura, uma capacidade de desenhar notável. Ele é um dos notáveis da famosa e popular indústria de animação japonesa que actualmente materializa a sua arte no Estúdio Ghibli.

A sua primeira série de televisão, “Conan, The Boy in Future”, é ainda hoje mundialmente conhecida. Esta história personifica, entre outras coisas, a vontade e desejo de falar sobre a luta do bem e do mal. O mundo foi destruído por uma arma mais poderosa que a nuclear e o efémero número de sobreviventes resiste em ilhas isoladas que se mantêm, a grande custo, após as drásticas transformações na crosta terrestre, causadas pela arma, acima da linha do mar. Na Remnant Island vivem Conan, o seu avô e Lana, neta de Dr. Lao especialista em energia solar, que é procurada por representantes do povo de Industria, os malévolos. É através deste universo apocalíptico que Miyasaki nos começa a surpreender.

Mas a sua obra-prima, que o viria a catapultar no imenso mundo cinematográfico, ganhando o Óscar de Melhor Animação, seria “A Viagem de Chihiro”, filme baseado numa lenda japonesa que acredita na existência de uma cidade onde os espíritos, os deuses e os monstros vão descansar após as suas cansativas tarefas. Uma cidade onde a entrada de qualquer humano é duramente castigada através da transformação deste em animal ou na obrigatoriedade em trabalhar para os deuses. As vítimas de tal destino são efectivamente Chihiro e os seus Pais que se perdem no caminho para a sua casa nova e encontram a cidade divina sem saberem o que os espera. Os Pais, após ingestão de comida irresistível, transformam-se em gigantescos porcos que grunhem sem parar. Chihiro tem de ir trabalhar para Yu-baba, uma velha assustadora com uma cabeça enorme e um corpo pequenino, que gere a cidade. Pelo menos não foi transformada num porco!

“O Castelo Andante” é o primeiro filme de Miyasaki depois de “A viagem de Chihiro” e no qual incidiam, necessariamente, grandes expectativas. Por enquanto já ganhou prémios no Festival de Veneza e Sitges, quem sabe o que se segue? Na nossa opinião Miyasaki está no seu esplendor através da sua delicadeza estética, da representação rigorosa das personagens e de mais uma complexa aventura fantasiosa de confronto entre o bem e o mal.



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