“O Colecionador de Pecados” de Daria Desombre
Um serial killer com um código bizarro de justiça
O Colecionador de Pecados, de Daria Desombre (Casa das Letras, 2019) é um thriller alucinante, onde o perigo ronda continuamente, sem descanso nem perdão, onde o assassino está sempre um passo à frente.
(…) O saco continha algo embrulhado em papel branco com manchas castanhas. Vera descalçou as luvas rasgadas e desembrulhou algo longo, pálido e coberto com pelos pretos escassos. Terminada em dedos fechados com força, segurando um tipo de imagem pequena. Uma pintura. (…)
(…) A seguir, Vera gritou uma nota longa como uma cantora de ópera.
Enquanto caía de bruços sobre o antigo e poderoso empedrado da Praça Vermelha, conseguiu ver ainda, antes de sucumbir ao abismo, dois polícias a correr na sua direção.
Daria Desombre tem todos os ingredientes para o sucesso. Bem escrita, com um enredo interessante, repleto de referências quer à cultura/sociedade russa, quer ao mundo negro do simbolismo medieval, esta história prende o leitor desde as primeiras páginas e é complicado parar de lê-lo sem tê-lo terminado.
Com capítulos curtos, divididos entre, normalmente, duas pessoas, denominadamente Masha e Andrey, é uma leitura fluída, empolgante e rica em detalhes históricos.
Do género noir, com mistérios e enigmas dignos de Dan Brown, Desombre torna o leitor parte ativa da investigação, levando-o a questionar-se sobre os motivos e atitudes do criminoso em questão.
Um livro curioso, mas ao mesmo tempo sinistro, aterrador e louco no seu âmago, onde crimes macabros, elaborados ao detalhe, confundem os agentes da Petrovka e caberá a uma jovem estagiária obcecada pelo tema, desvendar o mistério.
(…) Masha pegou no relógio de pulso deixado na mesa de cabeceira e fez o seu aceno de cabeça diário à fotografia pendurada na parede. (…)
– Bom dia, papá – disse Masha. – Porque tiveste de deixar que te matassem?
Maria Karavay, era uma jovem universitária de 23 anos, aluna da faculdade de direito da Estatal de Moscovo, obcecada por serial killers, tendo inclusive baseado a sua tese nesse tema em concreto.
A sua fixação por assassinatos em série, especialmente aqueles ainda não solucionados partiu do assassinato, ainda por resolver, do seu pai, um advogado de prestígio, Fyodor Karavay.
Masha, então uma criança de 12 anos e extremamente apegada ao pai, vê as suas estruturas abaladas, recolhe as bonecas, pára de brincar e começa a estudar ao pormenor casos horripilantes de mortes em série.
Colocada pelo melhor amigo do pai, o Procurador Nikolay Nikolayevich Katyshev, a estagiar na Petrovka, vê no detetive Andrey Yakolev, um entrave às suas expectativas.
O seu telemóvel tocou e Andrey praguejou entredentes.
O dia estava prestes a passar de mau a pior.
Andrey, é um detetive na Pretovka, chegado da província há muitos anos atrás, mas que ainda sente alguma repulsa pelos exemplares de riqueza sem labor, que circulam por Moscovo. Após longas horas de trabalho, chega a casa e encontra um rafeiro à sua porta.
Sem vergonha ou pudor algum, o cão dirige-se até à casa de Andrey, mais concretamente à sua cozinha e com olhos implorantes, derruba as barreiras do agente. Marilyn Monroe, consegue entretanto mais uma vitória, ao adormecer no quarto de Andrey, efetuando uma adoção bem sucedida, que em nada agrada o seu novo dono.
Mas o dia de Andrey só irá agravar-se, quando após ser chamado à esquadra pelo superior, lhe é confiada a sua nova estagiária, Masha, pela qual nutre uma antipatia súbita e intensa.
Típica menina rica, segundo ele, ela tem tudo de mão beijada, tendo agora ‘comprado’ um estágio, empatando o trabalho dos verdadeiros agentes e, para cúmulo de todo aquele circo, Andrey deverá ser a sua babysitter.
Desrespeituoso e altivo, Andrey tenta ignorar Masha o mais que pode, até que um crime inusual e curioso, o coloca novamente no caminho da estagiária, persistente e laboriosa, que no entretanto, descobrira um padrão em assassinatos que ninguém se lembrara de interligar.
(…) Havia apenas três falhas que impediam a perfeição da sua saída. Em primeiro lugar, existia algo de cativante naquela teoria tresloucada. Em segundo, o seu gesto dramático com o dinheiro custar-lhe-ia e a Marilyn Monroe uma semana de provisões.
E em terceiro, Masha Karavay ficava surpreendentemente bem ao lado daquele imbecil janota de fato. Por algum motivo, isso incomodava-o muito.
Cético ao início, e com uma antipatia a roçar o ciúme pelo amigo de Masha, o historiador Innokenty, que a auxilia nas pesquisas, Andrey começa a entender que a teoria louca de Masha, poderá ter, afinal, algum valor.
Um mapa medieval de Sigismund von Herberstein, que retrata a Moscovo antiga como Jerusalém Celestial, com pontos específicos demarcados, torna-se mais do que uma teoria viável e passa a um plano ativo de pesquisa, indicando os passos do assassino.
(…) Não queria envolver-se com aquele disparate. Mas Masha já o fizera mergulhar por um buraco no gelo, até um sítio onde não havia peixes nem plantas, apenas água suja repleta de insanidade. Teria de encarar aquilo se pretendia travar os crimes.
Mas quem é ele(a)? Porque utiliza um sistema tão bárbaro de execução e aquelas vítimas em concreto? E qual é a obsessão dele(a) com Masha?
Segue-se uma série de crimes, onde Masha e Andrey terão de ser mais rápidos e mais inteligentes que o assassino, de forma a travá-lo de uma vez por todas.
Conseguirão eles decifrar o enigma a tempo? Quem será o vencedor deste jogo de horrores?
O Colecionador de Pecados, de Daria Desombre, é o ponto de partida perfeito para uma série de 4 livros da saga Masha Karavay. Assassinatos macabros, um mapa carregado de simbolismo medieval, um detetive cético e uma estagiária audaz, são os ingredientes indicados para um thriller envolvente e emocionante que vai prender o leitor àquele mundo sombrio até à última página.
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