“O escândalo Philippe Dussaert”
"O escândalo Philippe Dussaert" é um espectáculo sobre a Arte e a arte de enganar.
Mal li as informações sobre o espectáculo, logo me transportei para o longínquo ano de 1998, ano em que António Feio, José Pedro Gomes e Miguel Guilherme apresentaram “Arte” no Teatro Villaret; ambos os espectáculos partem da mesma temática, a Arte Contemporânea.
Este é um espectáculo que leva a alguma reflexão sobre o estado das artes, mas de forma muito ligeira. Sem custo o espectador é levado, pelo enredo da história do que se conta (e com humor), a reflectir sobre os caminhos e o absurdo da arte, sobre para onde ela caminha e o que a viabiliza, mesmo que de forma um tanto ou quanto superficial. É um conceito, um discurso, que faz com que uma ideia ganhe sentido e se possa chamar arte?
O espectáculo procura surpreender a plateia do princípio ao fim.
Se no princípio causa surpresa a questão do cumprimento de boas vindas a cada espectador, individualmente, por parte do único actor em cena (sim, trata-se de um monólogo, mas em formato de palestra, não se preocupem que não sairão entediados, acredito que muitos ainda soltem umas boas gargalhadas), até ao último aplauso, Marcos Caruso faz questão de nos surpreender.
O nada pode ser arte? E a mentira, é uma arte?
A fórmula não é nova, acaba por usar um estilo já bem antigo na arte da representação, não só no teatro, mas sobretudo muito visto em cinema ou curtas-metragens, ou mesmo em novelas, contudo não deixa de nos surpreender.
Tendo assistido não há muito tempo a mais uma produção teatral brasileira “Os guardas do Taj”, com Reynaldo Gianecchini e Ricardo Tozzi, fico a questionar-me se estas peças não revelam uma certa tendência no panorama teatral brasileiro para um teatro mais narrado e assente em lendas e factos históricos, reais ou ficcionados.
Se em Portugal a tendência literária vai actualmente muito para o romance histórico, poder-se-á dizer que no Brasil a tendência é para um teatro de relato histórico, real ou ficcionado? Ainda nos chegam poucas produções para podermos tirar conclusões, contudo registo essa semelhança nas peças a que tenho podido assistir.
Depois de Lisboa, o espectáculo ainda vai fazer uma tour por vários pontos do país: Porto (1 a 4 mar.), Coimbra (6 mar.), Famalicão (8 a 11 mar.), Braga (15 a 17 mar.) e Águeda (23 e 24 mar.), e aconselho a ver de perto este actor que se mostra muito diferente do Sô Leleco que vimos em “Avenida Brasil”, ao som de “Assim você mata o papai”.
Portugal recebe-o de braços abertos e ele amavelmente faz questão de retribuir, ao jeito do nosso Presidente da República, apesar de não ter visto tantas selfies e beijinhos, contudo toda a plateia foi cumprimentada, nem que tenha sido só com um aperto de mão, já que o espectáculo tem de começar a horas e faz-se praticamente em arranque directo, como se Caruso estivesse em casa a receber os amigos.
Numa quarta-feira, uma sala de 642 lugares praticamente esgotada é obra! ¾ da sala seguramente estavam preenchidos, imagino o que será no fim de semana. Para quem tem intenções de ainda ir ver em Lisboa, não se guarde para o fim, é o meu conselho, só fica até domingo e espera-se enchente para o fim de semana.
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