“O LIVRO DE PANTAGRUEL”, de Ricardo Neves-Neves e Filipe Raposo
Receitas Perversas Com Uma Pitada De Humor.
O Teatro de São Luiz prepara-se para receber uma vez mais a dupla de criadores Ricardo Neves-Neves e Filipe Raposo com um espetáculo que promete muitas risadas e suspense!
Menos colorido e mais sombrio do que os projetos anteriores, chega-nos agora O Livro de Pantagruel, sob a forma de um programa de culinária para espectadores com estofo para grandes doses de fantasia, humor e… canibalismo.
O espetáculo é revelador de um crescendo em vários aspetos: a palavra vai dando lugar à ação e a elegância inicial vai-se desarrumando à medida que os acontecimentos se desenrolam até sucumbir numa reviravolta esfaimada.
A protagonista, interpretada por Sandra Faleiro, é uma vilã cuja personalidade é bastante volátil ao longo do espetáculo. Todas as personagens têm espaço para evoluir mas a antagonista da história, que manipula as suas vítimas como uma aranha enrola a mosca na sua teia, também nos provoca empatia. Faz-nos crer na sua humanização através da esperança, mostrando ser capaz de amar. Leva-nos a acreditar numa certa redenção do seu caráter. E é aqui que os vilões se tornam mais perigosos: quando mesmo podendo deixar a maçã na árvore preferem dar uma dentada ou seja, quando na verdade não são assim tão diferente dos que se julgam moralmente de bem. A intervalar o enredo principal temos uns interlúdios de embriões à conversa dentro de um útero acordeonista como que um invólucro plastificado que insiste em cobrir uma maçã encerada, porém parasitada. Todo este absurdo é escrito num tom humorístico que leva o espectador a aceitar de modo leve a perversidade das personagens, mantendo-se na sua posição de mero observador permitindo que o palco seja lugar de disrupção da moral e dos bons costumes.
Quem é familiarizado com os trabalhos anteriores do diretor do Teatro do Elétrico já viu perseguições de mota e lutas alusivas aos jogos de computador. Aqui, e tendo em conta que o tema entra no domínio do gore, a adrenalina é substituída pela aflição e o medo. Em particular de outras duas personagens conhecidas dos contos infantis – os irmãos Hansel e Gretel – que representam respetivamente a inocência e a coragem e cujo desfecho talvez não seja adequado a um conto para adormecer crianças.
A escolha da palete de cores para o cenário ambienta para o tipo de conteúdo textual que nos é apresentado com um fundo predominantemente preto, objetos e figurinos brancos que vão surgindo e o figurino vermelho da vilã a roubar as atenções e a manchar a neutralidade cromática.
Atrevo-me a considerar que a cinematografia, especialmente a ficção, serve de inspiração para o trabalho desta dupla. Em entrevista, ambos, orquestrador e encenador, revelaram que as suas referências dos filmes, nomeadamente de filmes que assistiram na infância, foram uma das fontes de inspiração para esta sátira que reflete a forma como tiramos proveito do outro somente para regojizo próprio.
O Teatro do Elétrico, que está de parabéns pelos seus 15 anos, estreia O Livro de Pantagruel no próximo dia 6 e estará em cena até 16 de julho no Teatro Municipal de São Luiz.
Apresentações
Em 2023:
Lisboa, Teatro São Luiz, 6 A 16 JUL
AD, 14 e 16 Julho | LGP, 16 Julho
Quinta a sábado, 20H00; Domingo, 17h30
Loulé, Cineteatro Louletano, 22 E 23 JUL
AD / LGP, 23 Julho
Sábado, 21H30; Domingo, 17H00
Reservas: 289 400 820
Mais informações em:
O LIVRO DE PANTAGRUEL
https://www.teatrosaoluiz.pt/espetaculo/o-livro-de-pantagruel/
FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA
Texto e Encenação: Ricardo Neves-Neves
Música e Orquestração: Filipe Raposo
Elenco: Andreia Valles, António Ignês, Célia Teixeira, Diogo Fernandes, Eliana Lima, Inês Cotrim, Juliana Campos, Rafael Gomes, Rita Carolina Silva, Ruben Madureira, Sandra Faleiro, Sissi Martins
Com Orquestra Metropolitana de Lisboa
Maestro: Pedro Neves
Direcção Vocal: João Henriques
Figurinos: Rafaela Mapril
Assistente de Figurinos: Elisabete Guerreiro
Confecção: Ana Baltar, Ana Santos, Isabel Telinho, Margarida Silva e Sara Horta
Cenário: Henrique Ralheta
Assistente de cenografia: António Muralha
Construção de Cenografia: Decor Galamba
Construção de adereços: Lea Managil
Escultura: Rodrigo Meireles
Desenho de Luz e Vídeo: Cristina Piedade
Sonoplastia: Sérgio Delgado
Movimento: Rita Spider
Coreografia de Combates: Tiago da Cruz
Caracterização e Cabelos: Dennis Correia e Marco Santos
Assistente de Caracterização: Catarina Félix
Actores vídeo: Francisca Neves-Nunes e Guilherme Palmeiro
Design Gráfico e Ilustrações: José Cruz
Fotografias de Cena: Estelle Valente
Fotografia cartaz e spot: Pedro Macedo/Framed Films
Vídeo Promocional: Eduardo Breda
Assistência de Encenação: António Ignês, Juliana Campos e Rita Carolina Silva
Segundos Assistentes de Encenação: Gabriel de Castilho e Tiago Estremores
Comunicação e Assessoria de Imprensa: TdE Mafalda Simões
Produção TdE: Andreia Alexandre
Produção Executiva TdE: Eliana Lima
Produção: Culturproject Nuno Pratas
Difusão: José Leite
Coprodução: Teatro São Luiz, Teatro do Eléctrico, Cineteatro Louletano e Culturproject
Apoios ao espectáculo: Antena 2, Palácio do Chiado, Pecosita Pepito, Steel World /Mobiespaço – Mobiliário Lda, Teatro da Comuna
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