“O País do Medo” | Isaac Rosa
Um ensaio sobre a passividade e o medo
“O País do Medo” (Planeta, 2010), traduzido por Ana Maria Pinto da Silva, venceu em 2009 o Prémio de Melhor Romance pela Fundação José Manuel Lara. É o quarto romance de Isaac Rosa que, para além destes, já escreveu peças de teatro e é co-autor do ensaio “Kosovo. La coartada humanitária”.
Entramos no universo mental de Carlos, construído pela enumeração e reflexão sobre todos os seus temores. Carlos não é um prisioneiro de incontroláveis fobias, mas sim um pessimista que utiliza o intelecto para reflectir constantemente sobre o medo e sobre aquilo que teme: a violência.
Nesta estranha forma de estar na vida, Carlos teme uma violência que nunca experimentou, baseada nos preconceitos e estereótipos perpetuados por uma classe média educada pela ficção e pelo jornalismo.
A violência que Carlos tanto teme aparece personalizada sob a forma de Javier, uma criança, um colega do filho que, após extorquir dinheiro, brinquedos e peças de roupa ao colega, se apercebe que também o pai, Carlos, o teme e usufrui do poder sobre o adulto para extorquir-lhe maiores quantias de dinheiro.
Incapaz de resolver o problema e após mentir inúmeras vezes (compactuando com o filho) à esposa, Carlos recorre ao cunhado, agente da polícia, para por fim à extorsão. Por vezes repetitivo, por vezes frustrante, O País do Medo expõe o ciclo vicioso em que podem cair os mais temerosos, como Carlos, que assim constrói uma íntima de relação de dívida para com o cunhado.
O leitor mais impaciente terá alguma dificuldade em criar empatia com o passivo personagem principal; no entanto, num momento ou outro do livro, qualquer um de nós encontrará um reflexo dos seus próprios receios, ou será levado a questionar-se sobre os mesmos.
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