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“O Trilho da Morte” de Sara Blaedel

Floresta escura

Se existem escritores que têm o dom de prender o leitor logo desde as primeiras linhas, a dinamarquesa Sara Blaedel é, definitivamente, um desses nomes. Aquela que já foi apelida como a Rainha Dinamarquesa do Thriller, vem provar isso mesmo com O Trilho da Morte (Topseller, 2017), um livro que repete a cativante fórmula do antecessor As Raparigas Desaparecidas, e mergulha-nos, de novo, no universo conturbado de Louise Rick, chefe do Departamento de Pessoas Desaparecidas.

E, mais uma vez, no centro da trama está um misterioso desaparecimento. A “vítima” é Sune Frandsen, visto pela última vez na floresta de Hvalsø no dia em que completava 15 anos. Ao investigar o caso, Louise descobre que se trata do filho do talhante Frandsen, amigo de Klaus, seu antigo namorado, cujo suicídio nunca fora devidamente explicado.

Na juventude, Klaus e Frandsen pertenciam a um grupo que praticava rituais inspirados em antigas crenças nórdicas em torno de deuses nórdicos como Odin ou Thor. Quando o cadáver de uma prostituta é encontrado em Hvalsø, perto do carvalho sacrificial onde os membros deste grupo ainda hoje se reúnem, tudo leva a crer que Sune testemunhou algo que não devia, e que pode correr perigo de vida.

Mas não são apenas estas investigações que atormentam Louise. Também a nível pessoal a chefe do Departamento de Pessoas Desaparecidas tem outras questões para tratar, nomeadamente com Eik, o seu companheiro e periclitante amante, assim como de outros assuntos do passado que vão, finalmente, revelando pistas sobre os seus porquês, e que suscitam também em Camilla, jornalista e amiga de longa data de Louise, várias dúvidas.

o trilho da morte - sara blaedel

Sob um ambiente ferido e denso, Sara Blaedel constrói uma narrativa sólida, em crescendo. As próprias investigações do caso de Sune não conduzem, inicialmente, a uma sucessão lógica de acontecimentos, mas a imposição de algumas questões de âmbito familiar podem empurrar o jovem Sune para um afastamento voluntário de uma realidade assombrada pela doença da mãe.

Blaedel aposta num desfoque do propósito do desaparecimento ou da procura de um eventual culpado, empurrando o leitor por trilhos mais emocionais, ainda que levem, invariavelmente, para destinos comuns. Isto porque Louise procura respostas que tardam a encontrar e cujas questões são sublinhadas com várias camadas de crime e violência, principalmente contra as mulheres, realidades subjacentes ao quotidiano nórdico que conferem ainda mais credibilidade a este thriller.

Mantendo uma coerência de forma e conteúdo com As Raparigas Desaparecidas, o livro que inicia esta, esperemos, trilogia — e que nos leva a suspirar pelos livros anteriores da autora e que, infelizmente, não viram, por enquanto edição portuguesa —,e esta nova aventura criada por Blaedel vive também pela sólida apresentação de personagens de carne e osso, com vidas normais, mas cuja “banalidade” é travada pelos crimes que os rodeiam, por uma realidade que pede adaptações, encaixes pessoais e emocionais, por vezes com recurso ao mitológico, àquilo que nos transcende.



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