“O Verão dos Brinquedos Mortos” | Antonio Hill

“O Verão dos Brinquedos Mortos” | Antonio Hill

Barcelona é terra de bons inspectores

A escrita policial dá-se bem com o ambiente de tapas e canhas do país de nuestros hermanos. Em “A Sombra do Vento”, Carlos Ruiz Záfon tinha-nos guiado através do Cemitério dos Livros Esquecidos, um lugar mágico situado do lado velho do coração de Barcelona; com “O Cego de Sevilha”, Robert Wilson levou-nos numa peregrinação à semana santa em Sevilha para darmos de caras com Javier Falcón, um dos mais entusiasmantes detectives com espírito gourmet da era moderna.

Agora, Barcelona vê nascer um promissor inspector pela pena de Antonio Hill, um licenciado em Psicologia que, há mais de dez anos, se tem dedicado à tradução literária e à colaboração editorial em várias áreas; e que, logo à primeira, fez a coisa tão bem feita que deixou muita gente a suspirar por uma sequela.

O Verão dos Brinquedos Mortos” apresenta-nos ao inspector Héctor Salgado, argentino de nascimento, divorciado, um tipo avesso a mostrar (e receber) carinho e dotado de um forte problema de auto-controlo. Suspenso há algumas semanas por ter tido o impulso de fazer justiça por mão própria, chega-lhe às mãos um caso bastante delicado mas aparentemente de fecho rápido: o suicídio de um jovem de muito boas famílias, que se terá atirado de uma janela após uma festa regada com muito álcool.

Héctor Salgado é um tipo solitário e de poucas falas, acompanhado por uma equipa deliciosamente heterogénea: Leire Castro, uma jovem investigadora adepta de um «saudável intercâmbio sexual»; a sub-inspectora Martina Andreu, para quem o mundo se divide em bons e maus; o comissário-chefe Savall, que vai usando e abusando de placagens para proteger o seu melhor ponta-de-lança.

Antonio Hill descreve de forma acutilante e precisa um mundo construído de privilégios e abusos de poder e entra, de mansinho, no passado familiar de uma família onde se esconde um segredo que, desde há muitos anos, tem estado preso por arames.

Com uma escrita atmosférica de primeira água e uma excelente caracterização das personagens, Antonio Hill escreveu um romance policial de primeira água, onde o twist final apenas vem comprovar que estamos diante de uma fantástica trama, que deixa escancaradas as portas de um segundo livro. Ergam os vossos corações policiais ao alto: Héctor Salgado veio para ficar.



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