Ölga
O futuro foi lá atrás.
Conhecemos os Ölga em 2001, com o ep homónimo editado posteriormente com o selo da Bor land. Na altura, a sua sonoridade, principalmente instrumental e aliada a ambientes ora intimistas ora de densa intensidade, fê-los serem rotulados de pós-rock, colocados ao lado de gente como os Mogwai, que o público português estava a descobrir. No entanto, já na altura diziam à Rua de Baixo serem influenciados por tudo aquilo que os rodeia, “desde um relógio de parede a uma turbina de avião”.
Essa música mais experimental, chamemos-lhe assim, já começava a ganhar uma espessura mais rock no álbum “What Is”, gravado em 2005. Aquele slow-core psicadélico ganhava um novo espectro e coesão, mais ritmado e percursivo. Era uns Ölga a acenarem mais ao krautrock, a despedirem-se dos Mogwai e a dizerem olá aos Can.
E agora, oito anos depois desde esse primeiro contacto, os Ölga trazem-nos um novo álbum: “La Résistence”. Os culpados continuam a ser os mesmos – Diogo Luiz na bateria, João Hipólito no baixo e guitarra e João Teotónio na guitarra e teclados –, mas a banda completou a sua transformação e maturação. Neste novo álbum, os Ölga descobriram o formato canção e os própriso confessam-se influenciados por “um espírito revivalista”. Eles falam do rock alternativo e psicadélico dos anos 60 e 70, nós especificamos com os Pink Floyd, os King Crimson ou os Gentle Giant (circa “Ummaguma”, “In the Court of the Crimson King” e “Octopus”, respectivamente).
Rua de Baixo – O novo disco dos Ölga mostra uma banda sonoramente diferente do que conhecíamos, mas o álbum chama-se a resistência. Afinal em que ficamos?
Ölga – O título “La Résistance”, para nós, apresenta um duplo sentido – por um lado mais conceptual relacionado com o espírito revivalista que atravessamos e por uma renovação em termos sónicos, onde fomos fortemente influenciados por bandas de rock psicadélico dos anos 60 e 70, e, por outro lado, por um sentido de resistência enquanto reacção contra as adversidades que encontrámos ao longo da nossa existência enquanto banda.
RdB – Continuamos a identificar o pós-rock e algum experimentalismo mais sónico dos discos anteriores, mas encontramos novos territórios em “La Résistance”, do indie-rock ao psicadelismo circa finais dos anos 60. Como aconteceu este percurso?
Ö – Surgiu de forma natural, fruto da maturação da banda e da tentativa de procurar outros caminhos. Após o período de promoção do “What Is” optamos por nos dedicarmos apenas à composição e houve um longo processo de pré-produção de onde resultaram os temas que compõem o “La Résistance”. Construímos temas mais curtos e abordamos novas formas de compor, optamos por enfatizar mais as vozes e existiu uma grande preocupação ao nível dos arranjos. Explorámos uma vertente mais rock, com composições em formato canção. No entanto, existem também momentos de grande intensidade e onde a nossa vertente mais ambiental e experimentalista está bem presente. No fundo, penso que conseguimos sintetizar em onze temas aquilo que caracteriza a essência da banda.
RdB – Numa altura que (dizem que) estamos a entrar numa década de revivalismo dos anos 90, como é que os Ölga abraçam o revivalismo dessa altura?
Ö – Agrada-nos o facto existir um certo revivalismo em relação a bandas dos anos 90. Consideramos que foi uma década marcante e que nos influenciou também enquanto músicos.
RdB – No press release de apresentação do disco pode-se ler que é um disco “eclético, que vive dos detalhes, dos arranjos e dos jogos vocais”. Por ser algo que se destaca no disco pergunto se o trabalho de Tom Durack na masterização teve alguma coisa a ver com este resultado final?
Ö – O trabalho do Tom Durack está mais relacionado com a homogeneidade e qualidade sónica final do disco e não tanto com os detalhes, arranjos instrumentais e vozes. Nesse campo o crédito vai para o nosso produtor, o Eduardo Ricciardi, que nos orientou e conseguiu concretizar as nossas ideias, conferindo ao álbum o equilíbrio e intensidade desejada.
RdB – E como chegaram a Nova Iorque, até à colaboração com Durack?
Ö – Conhecemos o Tom Durack através do Eduardo Ricciardi, que nos aconselhou o seu trabalho. Estabelecemos contacto com o Tom através da net, ele gostou bastante do nosso trabalho e depois existiu de ambas as partes uma grande empatia, o que tornou possível esta colaboração.
RdB – Foram quatro anos para lançarem “La Résistance”. Foi um processo difícil?
Ö – Foi um álbum algo complicado de se concretizar devido aos atrasos provocados pela rescisão com a nossa antiga editora, a Borland, fruto de algumas discordâncias artísticas. Devido a esse facto fomos obrigados a recomeçar e a assumir todo o processo de produção do álbum, desde da fase de misturas, passando pela componente gráfica até à sua edição final.
RdB – Este é um disco de autor, depois de dois álbuns lançados pela Borland. Porquê esta aposta? Maior liberdade criativa e controle sobre o próprio disco ou condicionalismo inevitável?
Ö – Um pouco de ambos. Após a rescisão com a Borland, contactámos naturalmente outras editoras para uma possível edição e distribuição. Quando analisámos as propostas, verificámos que seria mais vantajoso assumirmos nós a edição do “La Résistance”. Assim, o facto de avançarmos com a edição de autor foi para nós a decisão mais acertada, pois garantimos que o álbum é o reflexo da nossa concepção artística. E depois ainda acreditamos que é possível ser bem sucedido recorrendo à filosofia do do it yourself. Optámos por realizar uma edição de luxo limitada e contámos com a ajuda da Skinpin Records, que lançou 200 unidades para promoção, e com a Skud & Smrty, que ficará encarregue da sua distribuição. Para além disso também se encontra disponível a compra do álbum online.
RdB – Estão agora a tocar para promover o disco. Qual vai ser o percurso dos Ölga nos próximos tempos? E o estrangeiro?
Ö – De momento já temos concertos agendados durante todo o mês de Setembro e Outubro, para Lisboa, Porto, Guimarães e Barcelos. Além disso, iremos realizar showcases de apresentação pelas lojas Fnac de todo o país.. Estamos a colaborar com os Goodbey, Labrador, uma banda de Brooklyn, com quem iremos partilhar o palco em diversas ocasiões. O nosso intuito é promover ao máximo o álbum em Portugal e pretendemos também tocar além fronteiras. Nesse sentido existe já a possibilidade de realizar alguns concertos em Brooklyn, Madrid e Barcelona.
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