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OMIRI + A Cantadeira @ B.Leza (09.03.2023)

Foi alegre, e até retumbante, a autêntica festa da música portuguesa na semana passada no B.Leza. Uma festa que, como seria dito durante o concerto de OMIRI, recebe todas as raças e todos os credos, porque a música mesmo que tradicional (ou nem tanto) não é feita apenas de um local ou povo. Até adeptos do Arsenal por lá estiveram, desembocando provavelmente no Cais Gás de forma aleatória depois do jogo em Alvalade.

A abrir o serão esteve A Cantadeira, que à imagem do próprio projecto OMIRI, também remexe e leva as tradições para novos lugares, desafiando-a com novas ferramentas, ainda que num registo mais íntimo.  Joana Negrão, a mulher por detrás d’A Cantadeira, manuseia instrumentos como a gaita de foles, a pandeireta ou o adufe (que em formato monumental adornava igualmente o palco durante esta actuação) enquanto lhes injecta motivos electrónicos pré-programados e loops vocais.

As vocalizações d’A Cantadeira transportam invariavelmente uma alma indesmentível, que permite ao público sentir e perceber as raízes que Joana Negrão revolve e estuda para servirem de base e/ou inspiração às suas construções sónicas. Isto para além de emitirem obviamente a fala de mulher, que serve como mais uma riqueza ao serviço d’A Cantadeira. Talvez o expoente, e um óptimo cartão de visita do trabalho que realiza, seja a excelente abordagem ao tema «Lá Vai o Luar», que Joana interpreta com três vozes diferentes, quais fases da lua que nos hipnotizam.

Estava lançado o mote para a fatia de leão da noite, que ofereceria a OMIRI uma sala superlativamente recheada, algo que não é costume em Lisboa, onde costuma deparar-se com plateias bem mais diminutas, conforme confessou. E, desde cedo, esse mesmo público se mostrou participativo, participando ritmicamente no espectáculo, para além do deleite habitual.

Num ritmo quase tão frenético quanto o das suas composições mais dançáveis, Vasco Ribeiro Casais vai variando de instrumentos em palco, com os quais confecciona as distintas camadas que as recheiam. Em fundo, como é usual, as valiosas projecções recolhidas no intensivo trabalho de campo que possibilita um catálogo tão rico a OMIRI, estando as imagens continuamente sincronizadas (até ao mais ínfimo pormenor) com o som debitado do palco. Essa recorrente pesquisa tem tornado os últimos tempos especialmente produtivos para OMIRI, que nas produções mais recentes se tem focado em regiões específicas, ao invés de um olhar mais geral nos seus primórdios. Não admira, portanto, que ao longo da noite se estreassem temas ainda não executados ao vivo.

Bastante destacável o momento em que a figura da noite aconselhou o público a sentar-se no chão para deglutir de forma ainda mais atenta um par de canções, num registo praticamente acústico: «Vamos lá Molinha» (retirado de “Beira Litoral e Ribatejo vol.I: Pombal, Alcanena e Tomar”, e com direito a coro) e «Se Já Somos Ouro» (que faz parte do disco “Estremadura vol.I: Setúbal”, e que é abrilhantado ao longe pela voz d’A garota não).

Como se não existissem elementos suficientemente interessantes em cena, na recta final do concerto, OMIRI convoca um par de dançarinas que vão personalizando a cadência sempre desafiante e refrescante das composições.

Que se torne tradição a boa assistência de noites assim para os artistas que pisaram o palco.



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