“Onde estão as crianças?” | Mary Higgins Clark

“Onde estão as crianças?” | Mary Higgins Clark

A antecâmara do sucesso

Na introdução que escreveu para “Onde estão as crianças?” (Bertrand Editora, 2013), Mary Higgins Clark (MHC) fala do livro como aquele que mudou por completo a sua vida. Naquela que foi a sua primeira incursão pelo universo policial, a escritora americana decidiu seguir o conselho que tinha escutado numa aula de composição literária, escolhendo um caso verídico e colocando duas questões antes de se atirar à escrita: “E Se…?”; “Suponhamos…?”.

O caso verídico ocorreu em Nova Iorque, quando uma jovem mãe de 26 anos foi acusada de ter morto o filho de 5 e a filha de 3 anos de idade. Por questões técnicas, quando a acusação tinha tudo montado para arrancar uma condenação, a réu foi libertada. Algum tempo depois voltou a casar e, desde aí, ninguém mais lhe apanhou o rasto. É a partir deste ponto que MHC construiu o enredo, começando com esta pequena semente: no dia do 7.º aniversário do desaparecimento dos antigos filhos, os do novo casamento desaparecem e o pesadelo regressa.

Nancy, a personagem recriada no livro, conseguiu fugir à imprensa e à censura depois de um julgamento com ar de fogueira pública, abraçando o anonimato para os lados de Cape Cod. Vive porém num constante aperto, pois se a testemunha principal da acusação aparecer será realizado um novo julgamento, do qual parece ser impossível escapar a uma condenação: todas as provas apontam para que Nancy tenha morto os filhos e, a juntar à imagem de psicopata maternal que os media foram construindo, não ajudou que o então marido tivesse cometido suicídio.

No dia do 7º aniversário do desaparecimento dos filhos, um anúncio é publicado no jornal local, juntamente com duas fotografias de Nancy, acabando de vez com o anonimato e a ideia de uma vida em paralelo: “Poderá este ser um feliz aniversário para Nancy Harmon?”. Assim, quando os filhos desaparecem nesse mesmo dia, todos apontam o dedo a Nancy, acusando-a de ter repetido o assassinato de há sete anos. Porém, quando tudo parece perdido, Nancy irá contar com uma ajuda preciosa de um advogado, em tempos apaixonado pela sua mãe.

Com uma escrita meticulosa que vai mantendo o suspense em lume brando, até o servir num tabuleiro bem apresentável com batatinhas a murro e uma salada verde, Mary Higgins Clark oferece em “Onde estão as Crianças?” um policial empolgante que, mesmo contando com alguma dose de previsibilidade – pelo menos para um detective bem treinado -, não deixa de provocar no leitor a síndrome do virar de página como se não houvesse amanhã. Não é um policial perfeito, mas com ele foram lançadas as fundações da antecâmara do sucesso.



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