Optimus Alive 2011 – Dia 1
O mar de gente.
Quarta-feira. Dia pouco habitual para o início de um festival de Verão com contornos urbanos como o Alive mas foi isso que aconteceu com a edição de 2011. Menos usual ainda foi a enchente que se verificou neste primeiro dia de festival em Algés e que não se voltou a repetir nos restantes três dias. Os culpados? Sim, foram os Coldplay.
É sempre complicado conseguir chegar ao recinto a tempo de ver os primeiros concertos, ainda mais se se tratar de uma quarta-feira, ali, mesmo no meio da semana. O trabalho tem uma tendência extremamente enervante e aborrecida de nos reter até ao último momento nestas ocasiões… Damos por nós a olhar para as horas e a pensar: “raios – a palavra tende a ser outra, bem mais forte e agressiva – já estou a perder o primeiro concerto”. Eis então que, mal surge aquela oportunidade, nos escapulimos por entre um rápido “Até amanhã!”, daqueles que não dão sequer tempo de resposta, e se vai a abrir até ao local que vai estar no centro das atenções nos dias que se seguem.
A chegada ao recinto é feita sem qualquer tipo de problema. Com mais ou menos dificuldade os transportes fluem, se bem que mais tarde haveria de descarrilar um comboio para os lados do Cais do Sodré, que, aparentemente, acabou por não causar tanto transtorno na circulação como se chegou a temer. O povo presente já é muito. Por esta altura são quase 19 horas mas é óbvio que a esperada enchente vai mesmo acontecer. Para agrado dos presentes, as infraestruturas disponíveis vão-se revelando suficientes para fazer face às necessidades. E assim foi até ao final do dia e do festival, já agora (é da maneira que esta temática fica encerrada).
A primeira paragem tem lugar no palco Super Bock, onde os Mona terminavam a sua actuação. Sobre ela não me irei pronunciar visto que não vi mais de dois minutos. Posso dizer apenas que estava a soar a rock. O público presente junto ao palco parecia mais voltado para outras sonoridades, ou não fosse James Blake o senhor que se seguia ali mesmo.
James Blake. A expectativa era mais do que muita para ver a estreia em Portugal do autor de uma das melhores estreias do ano. Aqui o escriba já tinha deixado escapar a oportunidade de o ver em Barcelona, no Primavera Sound (escolhas…) mas isso não iria acontecer agora. E não aconteceu. O que aconteceu foi que a enorme expectativa começou a tender, e terminou mesmo, em desilusão… Passo a explicar. O som começou por não ajudar. Nada de fora de normal. Nada que não possa acontecer em qualquer concerto. Depois até melhorou, por isso esse não foi o problema principal. O problema esteve mesmo no contexto em que a música de Blake foi apresentada. Parece que não foi talhada para espaços abertos… dilui-se… perde-se… mesmo com Blake a esforçar-se. A sua entrega e honestidade é inatacável. É fácil adjectivar os temas que compõem James Blake. Intensos, densos, precisos (acho que neste caso, até podem considerar ambos os significados que a palavra pode ter), cirúrgicos na forma como cada beat, cada som, está montado e encaixa nas vocalizações de Blake na perfeição… É exactamente isto que se perde num ambiente como o de um festival. É uma verdade incontornável que um concerto de festival nunca é melhor que um concerto em nome próprio. Mas neste caso não consegui deixar de sentir que numa sala fechada e perante aquele mesmo público que ali estava para o ver, o próprio James Blake trataria de mostrar melhor porque, “James Blake”, o álbum, soa tão bem…
Blondie. A curiosidade não era assim tanta, devo confessar, mas não deixei de espreitar Debbie Harry, do alto dos seus 66 anos. A idade não perdoa a ninguém, isso é evidente, mas ainda consegue causar inveja a muita gente. Já no que diz respeito ao concerto, dos cerca de vinte minutos que pude ver, a surpresa foi perto de nula. O alinhamento estava a ser exactamente aquele que o público queria ouvir, com os êxitos todos. Nem mais, nem menos. Assim se passava o tempo junto ao palco Optimus, enquanto cada vez mais milhares aguardavam por Chris Martin e companhia.
Anna Calvi. Seria, por ventura, o nome que mais vontade despertava em mim. Logo a predisposição com que iria vê-la era extremamente elevada. Por outras palavras, gostar do que ia ouvir ia ser muito fácil. No entanto, lá no fundo (bem no fundo), havia um receio de as expectativas saírem defraudadas. Felizmente bastou Calvi abrir a boca para entoar os primeiros versos de «Suzanne and I» para qualquer receio se desvanecer. A voz da senhora é impressionante e a presença, igualmente. Desde a ponta dos longos saltos altos pretos, passando pela elegância simples das calças pretas e da camisa vermelha, até ao cabelo esticado e atado atrás na perfeição. É charme a rodos. Para ajudar a isto tudo, o álbum homónimo é excelente. Era visível alguma estranheza na cara de muitas pessoas ali presentes durante a fase inicial do concerto mas essa estranheza desapareceu na razão inversa da qualidade que o concerto teve. Sim, foi óptimo, e se tocasse novamente no dia seguinte estaria lá para a ver. Não duvidem. Uma óptima estreia, por isso.
Coldplay. Eram os reis da noite. Quanto a isso não havia volta a dar. Confesso que cheguei a ponderar ignorá-los e ficar pelo palco Super Bock para These New Puritans mas tal não aconteceu. Senti-me na obrigação de escrever pelo menos um parágrafo sobre a banda que levou o maior número de pessoas a Algés e, ainda para mais, o fez numa quarta à noite.
Não é fácil escrever de forma imparcial um texto quando, logo à partida, não se gosta da banda em causa. Por isso prefiro esclarecer a forma como “lido” com os Coldplay. Passam-me ao lado. Pura e simplesmente. Não os acho particularmente bons nem particularmente talentosos. Acho que a palavra inócuo lhes assenta como uma luva.
Agora o concerto. Foi tudo aquilo que os milhares ali presentes para os ver podiam esperar. O alinhamento foi devidamente equilibrado pelos álbuns da banda. A simpatia dos seus membros esteve presente do primeiro ao último minuto. Houve balões. Houve confettis. Deu para cantar em uníssono. No final, e pesando tudo, foi um concerto extremamente competente. É um facto. Não vale a pena fingir o contrário. Mas também foi inconsequente. E também não teve momentos daqueles únicos e inimitáveis. Foi para os fãs e serviu esse propósito na perfeição.
Patrick Wolf. O inglês tem a fama de ser intenso nas suas actuações. No Alive não foi excepção, tratando de não deixar o seu crédito por mãos alheias. Não faltou também a descida às grades para um sincero, diria eu, momento de comunhão com o público que marcava presença no melhor palco do festival (não duvidem que o foi!). A actuação do inglês foi perfeita para um final de noite, quer pelo pezinho de dança que proporcionou, quer pela veia teatral e extroversão que tão bem caracterizam Wolf.
De seguida houve Example mas obrigações laborais forçaram a que a partida do recinto tivesse de ocorrer antes de Elliot Gleave subir ao palco, com muita pena minha…
O segundo capítulo iria ter lugar daí a umas horas…
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