Optimus Alive! 2012 | Dia #2 (14.07.2012)

Optimus Alive! 2012 | Dia #2 (14.07.2012)

Maratona

O ambiente no palco Heineken no segundo dia do Optimus Alive! 2012 era de descontracção, com as poucas centenas que já marcavam presença por ali a repartirem-se em dois grupos: os que ficaram de pé e os que optaram por se sentar no tapete verde que habitualmente cobre o chão sob a tenda que alberga o palco secundário.

Sabe sempre bem começar com uma surpresa, ainda para mais se for das boas. O nome? Lisa Hannigan, irlandesa que no início da sua carreira começou por acompanhar o também irlandês Damien Rice. A pontualidade fez-se sempre sentir com uma agradável regularidade e para o primeiro concerto do segundo dia não foi excepção. Assim, eram 17h quando Hannigan subiu ao palco. Surgiu só, apenas munida de uma viola e com um vestido a condizer com o seu longo cabelo ruivo. Feitas as apresentações iniciais, é a vez da restante banda se juntar a si em palco. A sua sonoridade assenta numa matriz folk de raízes irlandesas e soa simples, saborosa, e despretensiosa (no melhor dos sentidos). E o que dizer da voz de Hannigan? Perfeita. Levemente rouca quando tinha de o ser, sussurrante noutros momentos, ou forte e assertiva sempre que a circunstâncias assim o exigiam. Sempre com aquele delicioso sotaque irlandês à mistura. Estas surpresas tornam-se ainda melhores quando funcionam para os dois lados; a entrada foi delicada, quase tímida, mas à medida que as canções se iam sucedendo e o público as abraçava e acarinhava, mais e mais, tudo se alterava… No final, a cara de Hannigan brilhava. As nossas também.

Os Big Deal, que se seguiram naquele mesmo palco, ficaram, sem querer é certo, com uma tarefa complicada por culpa do concerto anterior. O que Kacey Underwood e Alice Costelloe nos propõem é simples. Duas guitarras. Uma acústica e uma eléctrica. E as suas vozes. São engraçados, nada mais. O nosso ego estava ainda demasiado inchado muito por culpa de Lisa Hannigan… o certo é que o desinteresse que se instalou entre o público tornou-se quase palpável. As suas canções têm aquela aura lo-fi; aquele toque que diz à boca cheia “fomos gravados em casa, no quarto”. O problema é que acabam por não ter qualquer característica ou pormenor que os distinga de muitas outras bandas que por aí andam.

Para os senhores que se seguiram, os Here We Go Magic, a receptividade era manifestamente diferente. A banda de Brooklyn (sim, mais uma) já conta com três álbuns na bagagem, todos eles com os seus motivos de interesse. Mal começam a tocar fazem questão de querer mostrar isso mesmo, porém, por qualquer razão, não conseguimos deixar de ficar com a sensação de que o feitiço se voltou contra o feiticeiro. É que parece que sempre que estão prestes a concretizar uma ideia – leia-se canção – há algo que falha no último momento, algo que não liga…

A primeira viagem do dia ao palco Optimus é feita com o propósito de ver alguns minutos da estreia dos Noah and the Whale por cá. Alguns minutos porque os The Antlers tocavam no Heineken daí a um bocado. Escolhas… A banda de Charlie Fink surge em palco com todos os elementos a envergarem um fato e à sua espera tem uma grande quantidade de fãs. O estilo está todo lá. Os primeiros temas são retirados do mais recente álbum da banda, “Last Night on Earth”, um álbum mais solarengo. E esta referência tem a sua razão de ser… é que Charlie Fink ofereceu-nos, num passado recente, um dos melhores álbuns de dor de corno (a expressão a usar aqui é mesmo esta) dos últimos anos, “The First Days of Spring” (a par de “End Times” dos Eels, talvez) e não podemos deixar de pensar que outro desgosto amoroso poderia ser benéfico – artisticamente falando, está claro!

Os The Antlers têm uma música densa e intensa. Quem gosta, gosta mesmo. Vive intensamente cada canção, cada falsete de Peter Silberman. Quem ali esteve para os ver pertencerá certamente a este último grupo. O início, feito ao som de «Rolled Together», é perfeito. Perfeito na forma como pega em cada um de nós e nos emerge no turbilhão de emoções que pauta cada canção dos Antlers. Segue-se «Parenthesis», e desde logo se torna claro que as canções são mais estendidas, evidenciando uma faceta mais experimental da banda. O mais recente “Burst Apart” está no centro da actuação mas a banda não se coíbe de mostrar dois temas novos que integram o novo EP, “Undersea”. São composições densas, que, como quaisquer outras da banda, exigem dissecação; no entanto, o experimentalismo já referido volta a saltar à vista (e ao ouvido). O incontornável “Hospice” é visitado pontualmente, com «Atrophy», e os sorrisos à nossa volta são visíveis. A fechar um belo concerto – mesmo que com alguns problemas técnicos pelo meio – surgem a etérea «Corsicana» e «Putting the Dog to Sleep».

Entretanto, os Mumford & Sons já tocam no palco principal há algum tempo, pelo que se decide acelerar o passo para tentar apanhar os últimos temas e medir o pulso à estreia dos ingleses em Portugal. Sem surpresas, está um mar de gente para os ver e a festa é muita. Uma estreia de sucesso e que decerto abriu as portas para regressos regulares. É que a música deste rapazes parece que foi feita única e exclusivamente para ser tocada ao vivo, tais as proporções épicas que atinge.

Tricky. Será talvez o concerto que mais opiniões divergentes criou. A entrada ao som de «Feeling Good» de Nina Simone surpreendeu muitos e pôs tudo e todos em sentido para ver o que se seguiria. E o que se seguiu foi um concerto magistralmente controlado pelo inglês, do primeiro ao último segundo, quase sem necessidade de se esforçar muito para o fazer. Senão, vejamos. Ainda na recta inicial do concerto tratou de chamar ao palco algumas dezenas de pessoas enquanto investia numa versão de «Ace of Spades» dos Motörhead (o Lemmy não se teria sentido envergonhado com a versão, diga-se), que levou a multidão ao delírio. Pelo meio as despesas vocais mais exigentes ficaram sempre a cargo de uma voz feminina, que cumpriu perfeitamente mas que não nos fez esquecer a ausência de última hora de Martina Topley-Bird. Para fechar com estilo, houve nova invasão de palco. O saldo? Mais do que positivo. Não há como negá-lo.

Antes de escrever algumas linhas sobre o belo e intenso concerto que Robert Smith e os seus The Cure deram, não consigo deixar de escrever relativamente à hora a que o concerto teve início. É um pouco complicado de compreender como é que um concerto com a duração de 3 horas – a duração já era conhecida à partida – teve início apenas à meia-noite. O que deveria ser uma celebração para todos, tornou-se uma prova de esforço para muitos, com muitas desistências pelo meio, como é compreensível. Não teria funcionado ainda melhor se tivesse começado às 22h30 ou às 23h?

No que diz respeito ao concerto, é difícil apontar falhas… Num alinhamento de 36 (!) canções, e com direito a três encores, é normal que se cubra com relativa facilidade uma longa carreira e que se consiga agradar a gregos e a troianos. Para ajudar, o som estava óptimo, a banda numa óptima forma e, talvez o factor mais importante da equação, Robert Smith estava feliz, confiante. E aquela voz única, aos 53 anos de idade, continua lá. Com toda a alma e entrega. Foi uma imensa comunhão geracional que pôde ser vivenciada no Passeio Marítimo de Algés, com adolescentes e quarentões a entoarem canções como «Lullaby», «Friday I’m In Love», «Desintegration», «Pictures of You» ou «Boys Don’t Cry». Quem aguentou até ao fim foi para casa com a certeza de ter vivido algo único.

Reportagem do primeiro dia do Optimus Alive! 2012 aqui; terceiro dia aqui.

Fotografia por José Eduardo Real. Galeria fotográfica do primeiro dia aqui; segundo dia aqui; terceiro dia aqui.



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