Optimus Alive! 2013 | Dia #1 (12.07.2013)
Arrepios que sabem bem
É uma sensação agradável entrar no recinto e parecer que nos sentimos em casa. Do ano passado para este as coisas pouco ou nada mudaram. Um acerto aqui e ali, uma afinação acolá e é tudo. Prova de que o Optimus Alive! encontrou o seu formato e se sente confortável nele.
O relógio marca 19h15 quando entro no recinto e no Palco Heineken escutam-se os últimos acordes do concerto das Deap Vally, os Black Keys em versão feminina. Pela reacção arrancada dá para ficar com a sensação de que o concerto foi bom. Terei de comprovar numa próxima oportunidade.
Os Japandroids são os senhores que se seguem naquele mesmo palco, mais uma vez em formato duo. Brian King na guitarra e David Prowse na bateria. A responsabilidade das vocalizações, essa, é muitas vezes repartida entre os dois. A verdade é que há bandas que, com mais elementos e instrumentos em palco, nos enchem menos o espírito. O alinhamento é repartido pelos dois álbuns da banda, “Post Nothing” e “Celebration Rock”, e revela-se perfeito para aquecer o ar que por esta altura está um pouco frio. Quase a fechar surge «The House That Heaven Built», que por esta altura já adquiriu assim a modos que contornos de hino e também uns acordes de Green Day, em jeito de homenagem. Estes rapazes já mereciam um concerto em nome próprio. Incendiavam o sítio em dois tempos! E eles piscaram o olho a isso mesmo. Talvez o Covões estivesse atento.
Antes dos Dead Combo subirem ao palco faz-se uma viagem (muito) rápida ao palco Optimus para ver como se estão a sair os Two Door Cinema Club. O que salta desde logo à vista é a pequena multidão que conseguem arrastar (a publicidade faz maravilhas, não há como negá-lo!). Na prática, fica a sensação de que se limitam a cumprir. Hora de regressar para o palco Heineken.
Os Dead Combo não estão ali para enganar ninguém e trazem consigo Alexandre Frazão na bateria. A hora e o local parecem ser perfeitos para a aura que envolve as composições de Pedro Gonçalves e Tó Trips e é com satisfação que nos deixamos levar, canção atrás de canção. Com o aproximar do final do concerto, sente-se uma pequena debandada. Pois é, os Green Day vão actuar no palco Optimus daqui a uns minutos.
Dos Green Day a verdade é que pouco ou nada vi. Foi um daqueles momentos em que houve a necessidade de fazer uma escolha e a minha levou-me para o palco Heineken. No entanto deu perfeitamente para perceber que se estava perante um daqueles concertos ganhos à partida. A história dos Green Day fala por si e o resto ficou a cargo de Billy Joel e dos largos milhares que ali estavam e os receberam de braços abertos.
A expectativa para ver Edward Sharpe & The Magnetic Zeros era alta. São daquelas bandas cuja música nos preenche cá por dentro. Folk com uma forte raiz norte-americana e com muitos, muitos elementos em palco. A entrega de Alex Ebert é evidente logo desde o primeiro momento mas a maior surpresa até acontece pela mão do público: muito, e conhecedor de uma obra que é muito mais do que apenas uma canção – sim, a «Home» – que não deixa de ser uma grande, uma enorme canção. Depois há a voz de Jade Castrinos, que funciona como ponto de equilíbrio e apoio a Alex Ebert. Contem com um regresso muito em breve.
É a quarta vez que tenho oportunidade de ver os Vampire Weekend ao vivo e sempre fiquei, até agora, com a sensação que em palco não surgiam em todo o seu esplendor. Desta vez isso mudou. O terceiro álbum é um marco, ainda para mais porque é óptimo. Para além disso ter três álbuns permite escolher o alinhamento de uma forma mais cuidada, ou não seja o leque de escolhas bem mais alargado. Assim, Ezra Koening e companhia entram em força ao som de «Cousins» e seguido por «White Sky» e «Cape Cod Kwassa Kwassa». Só passaram três canções e a respiração já está ofegante, fruto dos muitos saltos. A primeira visita a “Modern Vampires of City” surge ao som de «Diane Young». A multidão está em êxtase e Koening sente-se que nem peixe na água no papel de mestre de cerimónias. Os Vampire Weekend são, actualmente, uma banda madura e adulta, uma máquina bem oleada (a forma como as canções são transpostas dos álbuns para o palco é excelente porque conseguem manter muitos dos arranjos e pormenores que as tornam tão memoráveis). «Unbelievers» traz à conversa o novo vídeo que a banda esteve a gravar no Ribatejo durante Quinta e Sexta, com o apoio de uma produtora nacional. «Horchata» faz-nos levar os copos ao ar, em jeito de brinde, enquanto se entoa bem alto “In December drinking horchata”. Sentimo-nos bem e os Vampire Weekend partilham esse mesmo sentimento ali no palco à nossa frente. «A-Punk» leva-nos novamente para tempos em que o sangue fervia nas veias dos Vampire Weekend e não nos resta mais nada para fazer do que deixarmo-nos levar, sempre com um sorriso na face. «Hannah Hunt», já perto do final, é (mais) um belo momento. Sentimos aquele arrepio na espinha, que se sente quando se tem prazer naquilo que estamos a fazer, fechamos os olhos enquanto cantamos quase que num sussurro “Though we live on the US dollar / You and me, we got our own sense of time”.
Resta esperar que o dia seguinte traga mais arrepios destes. Sabem bem.
Fotografia por José Eduardo Real. Dia #1; Dia #2; Dia #3
Leiam aqui a reportagem do segundo e terceiro dia
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