Optimus Alive! 2014 | Dia #1 (10-07-2014)
A loucura, no melhor dos sentidos
Por vezes a rotina casa-trabalho-casa é quebrada por um acontecimento qualquer, como um festival, por exemplo. Porém isso não quer dizer que tudo pare, que todas as portas se abram, que todas as estrelas se alinhem. Há sempre obstáculos a ultrapassar. Filas na 2ª Circular, problemas para estacionar, filas para levantar bilhetes e credenciais. Tudo somado são 20h15 quando é finalmente possível entrar no recinto do Optimus Alive! (enquanto não se torna definitivamente em NOS Alive!). Olho rapidamente em redor e o ambiente parece familiar. Reparamos em pequenas mudanças mas nada de mais. Tratam-se apenas de pequenos ajustes.
O palco Heineken é sempre o primeiro a receber uma visita por uma simples questão de localização: é o que se encontra mais perto da zona de entrada. Por esta altura, e infelizmente, os Temple já acabaram de tocar. Escutamos as reacções do pessoal junto ao palco e percebe-se que são bastante positivas. Seguem-se os The 1975 naquele mesmo palco e assistimos à primeira surpresa do dia: a quantidade de pessoas que está ali para os ver. Gente nova e muito histérica, é certo, com alguns cartazes inclusivamente. Musicalmente são daqueles casos que pura e simplesmente não trazem nada de novo ao mundo mas que também não incomodam. São inócuos, para utilizar um termo um pouco mais pomposo. Rock limpinho com muita electrónica, melodias orelhudas e muita pose encenada ao milímetro. Veja-se Matthew Healy, o vocalista, com a camisa aberta para mostrar a tatuagem, enquanto faz os elogios da praxe. Um concerto para fãs apenas. Nada mais. É impossível não encolher os ombros em sinal de indiferença.
Os D3Ö são da velha guarda. A sua história cruza-se com a dos saudosos Tédio Boys e com os Garbage Catz, ambos de Coimbra. Ali, em cima do Coreto, curado pela G-Raw, assistimos à primeira amostra do dia de rock à séria. É verdade que não sentimos a energia e a pujança de outras ocasiões, porém há que ter em conta as condições técnicas disponíveis no Coreto e o curto tempo de actuação disponível. Mesmo assim dá para abanar a cabeça e bater o pé com um sorriso genuíno.
No palco Heineken, ali ao lado, toca Tiago Bettencourt. É o momento perfeito para ir comer qualquer coisa. Entretanto, no palco NOS, os Imagine Dragons entram na recta final da sua actuação e, pelas reacções do público, vão convencendo. Mesmo a fechar o concerto surge «On Top of the World», canção celebrizada pela campanha publicitária de uma operadora móvel concorrente, como que para conferir um toque de ironia ao momento.
Os Interpol já foram grandes.”Turn on the Bright Lights”, “Antics” e, vá lá, o “Our Love to Admire” são bons álbuns (mesmo assim com os dois primeiros a conseguirem suplantar o último) mas desde que entrámos na segunda década do século XXI parece que a sua chama se extinguiu. O alinhamento oferecido até se centrou bastante nos dois primeiros álbuns; «Say Hello to Angels», «Evil», «NARC», «PDA», «NYC» ou «Slow Hands» conseguiram, ainda que momentaneamente, trazer à memória alguns momentos de ouro de um passado que agora parece distante e difuso. Houve ainda tempo para escutar «All the Rage Back Home», canção que vai integrar o próximo álbum dos Nova Iorquinos, “El Pintor”, e que parece uma tentativa de aproximação ao passado, melhor concretizada que em álbuns anteriores mas mesmo assim, um pouco aquém.
Os Elbow ganharam o Mercury Prize (provavelmente um dos poucos prémios musicais que ainda é realmente sinónimo de prestígio e reconhecimento, quer por parte do público, quer por parte da crítica) em 2008 com o álbum “The Seldom Seen Kid”. Acontece que nem isso foi suficiente para os conseguir catapultar para a “1ª divisão” dos festivais. É um exercício interessante procurar perceber, ou pelo menos tentar, identificar possíveis causas mas é algo que ficará para outra ocasião. No palco Heineken foram competentes como nos habituaram e tinham público fiel e conhecedor do seu trabalho. A voz rouca de Guy Garvey é daquelas que pouco ou nada perde com o inevitável passar do tempo, antes pelo contrário; e a «Grounds for Divorce» continua a soar tão bem como a primeira vez que a escutei, em 2008.
Os Arctic Monkeys eram o nome mais aguardado da noite (se bem que a responsabilidade pelo dia esgotado deve ser repartida também pelos Lumineers e pelos Imagine Dragons). A banda de Sheffield tem sido presença bastante regular por cá e isso permite estabelecer comparações interessantes sobre como a banda tem mudado desde os tempos em que actuaram no Paradise Garage até agora. E as diferenças são gigantes. Aquela irreverência que já foi imagem de marca em tempos desapareceu para dar lugar a uma banda de rock altamente oleada e com um domínio perfeito de todos os momentos do concerto (o próprio alinhamento foi um reflexo disso mesmo). Porém, isso acaba por torná-los um pouco previsíveis. O concerto começa ao som de «Do I Wanna Know?» que tem uns acordes verdadeiramente memoráveis. É uma canção perfeita para começar. “AM” recebeu atenção a abrir («Snap Out of It!» e «Arabella»), no meio («Fireside» e «No. 1 Party Anthem») e a fechar («One for the Road» e «R U Mine»), já no encore. Pelo meio há passagens pelos álbuns anteriores e aqui é fácil ver que “Favourite Worst Nightmare” continua nos corações de muita gente: «Brianstorm», «Dancing Shoes», «I Bet You Look Good on the Dancefloor», «Fluorescent Adolescent» e «505» levaram muita gente à loucura, no melhor dos sentidos.
Pelo meio houve ainda tempo para uma visita de médico ao palco Heineken para espreitar a prestação de Kellis que, como seria de esperar, foi altamente prejudicada. No entanto Kellis não deixou de surpreender pela forma como se apresentou em palco, com banda completa e num registo vincadamente soul. Depois voltou-se para o palco NOS para continuar a ver os Arctic Monkeys.
Fotografia por José Eduardo Real
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