Optimus Alive! 2014 | Dia #2 (11-07-2014)

Optimus Alive! 2014 | Dia #2 (11-07-2014)

Começar com um concerto memorável e acabar na crista da onda

O relógio marca 19h15. Mesmo a tempo para assistir ao concerto dos D’Alva com os Gospell Collective no palco Clubbing do Optimus Alive! Os D’Alva são Alex D’Alva Teixeira e Ben Monteiro e acabaram de lançar “#batequebate” pela NOS Discos. A tenda do Clubbing está muito bem composta para os receber e com o evoluir do concerto mais cheia fica. Os D’Alva são um caldeirão de influências dos anos 80, dos 90. A pop está à cabeça mas naquela hora de concerto somos presenteados com um compêndio de géneros musicais e o mais incrível é que nada se atropela. Rock, pop, funk, samba e tudo mais que consigam lembrar-se. Tudo convive em harmonia e tudo se torna uma enorme e espectacular celebração. A cumplicidade entre Alex D’Alva Teixeira e Ben Monteiro é contagiante. O segundo mais cerebral, o primeiro a revelar-se como um sensacional mestre de cerimónias. Dança, canta (bem!) e fala com o público com a naturalidade de quem já o faz desde sempre. O futuro afigura-se muito risonho para estes lados. Se os Buraka foram coroados reis do segundo dia, Alex e os D’Alva foram príncipes. Já começava a fazer falta um momento como este depois de um primeiro dia que foi quase sempre morno. Memorável.

Os Parquet Courts estão com a cotação em alta e têm muita gente no palco Heineken para os ver. Quando lá chego, vindo directamente do Clubbing, ainda venho meio a flutuar, depois do concerto dos D’Alva (já tinha dito que foi mesmo bom, não tinha?) é como chocar contra uma parede. O ritmo e a dinâmica em palco é completamente diferente (atenção, não devem interpretar como algo necessariamente negativo). Aqui o rock e as guitarras imperam. Aqui não temos corpos a dançar, temos cabeças que abanam ao ritmo das batidas na bateria de Max Savage ou das guitarras de Austin Brown e de Andrew Savage. “Sunbathing Animal” é um álbum crivado de personalidade e boas canções, porém naquele momento nunca conseguiram fazer passar isso para o público que ali estava para os ver.

Os MGMT têm feito um trajecto muito peculiar. “Oracular Spectacular” foi consensual e “Congratulations” foi tudo menos isso. O mais recente “MGMT” está algures no meio, como que a marcar um ponto de equilíbrio. O início do concerto marca desde logo essas diferenças. «Congratulations» primeiro e «Time to Pretend» depois. Ganha a segunda. Depois foi necessário deixar o palco NOS para ir até ao backstage do Clubbing para dois dedos de conversa com os D’Alva que poderão ler por aqui muito em breve. Seguiu-se uma conversa com o Quim Albergaria enquanto era tatuado na área da EDP. Quando se retornou ao concerto, o final já estava perto e apenas houve tempo para dançar ao som da «Kids». Ainda não foi desta que deu para ver os MGMT do princípio ao fim.

Os Black Keys conseguiram o que poucos conseguem actualmente: levar o rock às massas. Mais do que isso conseguem, com apenas uma bateria, uma guitarra, um baixo (entregue ao grande Richard Swift, que há dois anos passou por cá com os Shins de James Mercer) e uns teclados encher o palco. «Dead and Gone» e «Next Girl» abrem caminho para uma noite de consagração no passeio Marítimo de Algés. A plateia está ganha à segunda canção e isso acaba por ter um impacto negativo porque Dan Auerbach e Patrick Carney deixam de colocar o empenho total nas suas canções. Reparem só na seguinte sequência: «Howlin’ for You», «Nova Baby», «Gotta Get Away», «She’s Long Gone», «Tighten Up», «Fever» e «Lonely Boy» (que marcou o final, mesmo antes do encore). É excelente, óptima mesmo. Não devíamos ter tempo para respirar entre canções. Devíamos ficar a suar em bica. Devíamos ficar ofegantes mas não é isso que se verifica, tudo por culpa das paragens demasiado longas entre canções e que fazem com que parte da dinâmica se perca. Por estas razões foi bom mas não tão bom como deveria ter sido.

O concerto de Au Revoir Simone sofre um atraso devido a problemas técnicos, por isso aproveita-se para espreitar o que se passa no Coreto onde é a vez dos Cavaliers of the Sun, com um electro pop. 15 minutos depois da hora marcada, Erika Forster, Annie Hart e Heather D’Angelo sobem ao palco Heineken para apresentar o seu dream pop, porém é altura de ir para o palco NOS ver os Buraka Som Sistema tomar Algés de assalto.

Não nutro particular gosto pelos Buraka Som Sistema. Tenho sérias dificuldades em ouvir de seguida um álbum deles. Pura e simplesmente não me seduz. Não é nada pessoal, antes pelo contrário. O respeito pelo que fazem e pelo que já conseguiram é muito. Porém o que aconteceu ali para os lados do Passeio Marítimo de Algés foi transcendental. A forma como DJ Riot, Branko, Conductor, Kalaf e Blaya conduzem/controlam/puxam (escolham vocês o termo que acharem que se aplica melhor) pelos milhares de corpos que compunham a massa humana foi exemplar; sempre no limite da provocação muito por culpa de Blaya («Parede» vem à cabeça). Ninguém parou de dançar, mexer ou saltar. Do princípio ao fim. «Wegue Wegue», «Ya» ou «Sound of Kuduro» são espelhos disso. Houve até direito a invasão controlada de palco. Há muito que os Buraka deixaram de ser “apenas” os criadores do kuduro progressivo. Actualmente a sua música é o reflexo de uma cultura cada vez mais global e que muda e evolui a uma velocidade vertignosa. Os Buraka Som Sistema, esses, vivem na crista da onda.

Fotografia por José Eduardo Real



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