Optimus Primavera Sound | Dia 1 (7.6.2012)
À descoberta do parque
Houve bons concertos durante o primeiro dia do Optimus Primavera Sound, no Porto, mas a grande estrela do dia foi mesmo o recinto. O belo Parque da Cidade teve o condão de surpreender todos. Quer pela funcionalidade e versatilidade quer pela beleza natural.
As honras de abertura do festival couberam aos portuenses StopEstra!. Um projecto resultante da parceria entre o Serviço Educativo da Casa da Música e o Movimento de Músicos do STOP. O palco, esse, torna-se pequeno tal a quantidade de pessoas (cerca de 100!) e parafernália de instrumentos. É um caos organizado e um arranque original para o festival.
Neste momento identificamos aquele que será o movimento mais comum, deste primeiro dia, no recinto: a deambulação entre o palco Primavera e o palco Optimus. Os palcos encontram-se lado a lado e os concertos vão tendo lugar alternadamente entre um e outro.
Os Biggot são projecto de Borja Laudó e chegam ao Parque da Cidade vindos do outro lado da fronteira. O som que Laudó e a sua banda praticam em palco é uma amálgama de influências, um cocktail sonoro, com um alcance tão variado que vai do pop-rock, passando pelo folk e alguma electrónica. Tudo servido com umas boas pinceladas de psicadelismo. O resultado acaba por ser algo estranho, com momentos muito bem arrancados a intercalarem-se com outros que causam alguma estranheza ou até mesmo indiferença entre o público que se ia acumulando em redor do palco Optimus.
Segue-se uma nova migração para o palco Primavera, desta vez para receber de braços abertos Bradford Cox e o seu projecto a solo, Atlas Sound, com o belo “Parallax” na bagagem. De onde nos encontramos, apenas é possível vislumbrar sobre o palco um microfone, uma guitarra e uma garrafa de água Evian e pensamos que, no fundo, é um reflexo daquilo que é o projecto Atlas Sound; solitário mas dado à partilha. Mas como em muitas coisas na vida, há sempre algo mais. Teria sido um exercício interessante ver o palco de cima. É que assim a perspectiva seria completamente diferente. De um palco, aparentemente nu e despojado de instrumentos, passaríamos para o oposto, tal a quantidade de pedais de efeitos em redor de Bradford Cox. A entrada em palco é feita ao som da guitarra e da harmónica, num registo rock a relembrar os anos 50 que, embora estranho, parece encaixar com a figura de Cox. Depois é servida uma generosa dose de “Parallax”. Escutamos «Te Amo», «Mona Lisa» e «Terra Incognita». Pelo meio há ainda tempo de passar pelo já distante “Logos” e escutar a sempre magnífica «Walkabout». É melancolia da boa, em estado puro.
Yann Tiersen é o senhor que se segue e, claro, no palco Optimus, que fica mesmo ali ao lado. Cabe ao francês tocar numa das horas mais injustas. São 20h15 quando sobe ao palco, altura que muitos elegem para ir jantar mas felizmente há bastante gente que aguarda o francês que continua (e continuará) a transportar o título de autor da banda sonora d’”O Fabuloso Destino de Amelie Poulin”. Algo que muito injusto, porque a obra do francês vai muito para além disso, como o próprio trata de mostrar da melhor maneira possível: em palco. O post-rock tem um papel fulcral nas suas composições mas o violino também tem o seu espaço, e ainda bem que assim, porque é com o violino que Yann Tiersen nos oferece um dos melhores momentos do concerto, com um solo que nalguns momentos arrepia.
No palco Primavera é a vez dos The Drums, de Brooklyn, subirem ao palco para apresentar o mais recente “Portamento”. Jonathan Pierce continua a concentrar sobre si quase todas as atenções. Carisma não lhe falta e a forma como dança pelo palco enquanto canta acaba por levar a que todas as atenções acompanhem os movimentos que desenha. Em palco a banda mostra ser uma máquina bem oleada, resultado de quase três anos em tour quase ininterrupta que se aproxima do final. “Vamos dormir depois disto” – acrescenta Pierce. O alinhamento é repartido entre os dois álbuns da banda , que têm tanto de semelhante como de diferente. Há os singles com o ritmo e batidas catchy, que nos metem logo a bater o pé, como «Let’s Go Surfing» e «Money», e há canções já incontornáveis como «Best Friend», «Forever and Ever, Amen» ou «Down by the Water», esta já a fechar.
Em frente ao palco Optimus, são já muitos os que aguardam pelos Suede. Os primeiros acordes são suficientes para mostrar que Brett Andersen continua igual a si próprio, e com uma aparência invejável. A reacção do público é de contrastes. Os fãs rejubilam perante o excelente concerto que a banda oferece (porque o foi), mas existe também uma outra franja que observa o mesmo com indiferença. O alinhamento não desilude. Escuta-se «Trash» ou «New Generation», entre outros temas que marcaram de forma incontornável a (já longa) carreira da banda. Pelo meio houve ainda tempo para as luzes do palco falharem, deixando a banda a tocar às escuras durante alguns minutos. Nada que os incomodasse por aí além. Uma coisa é certa; onde quer que toquem os Suede nunca estarão sós.
Os Mercury Rev são uma banda peculiar. Têm em “Deserter’s Song” – álbum que apresentaram na íntegra na edição de 2011 do Primavera Sound em Barcelona, a sua obra-prima. Já lá vão alguns anos. Em cima do palco Primavera, sempre comandados por um irrequieto Jonathan Donahue, os Mercury Rev não tiveram uma tarefa fácil. Foram uma contratação de última hora para colmatar a ausência dos Explosions in the Sky (os grandes ausentes do festival a par de Bjork). Perante uma plateia cheia onde se encontravam fãs, conhecedores e simples curiosos, a banda arrancou uma prestação convincente e extremamente competente. No final estamos em crer que saíram dali com alguns novos convertidos.
A fechar esta primeira noite de concertos estiveram os The Rapture. De imediato, na minha cabeça surgem uns Radio 4. A culpa é da batida frenética que consegue dar energia a corpos que começavam a ameaçar ceder. No centro das atenções está “In the Grace of Your Love”, com o single homónimo a surgir logo no início do concerto. Cheira a DFA por todos os lados (elogio!) e não conseguimos deixar de pensar que o James Murphy podia perfeitamente passar por ali para dar uma “perninnha”. “Are you still awake?” – pergunta Luke Jenner, mestre de cerimónias e dono de uma voz muito própria – “We’re gonna play some rock’n’roll type songs”. E foi exactamente isso que fizeram. Os temas dos The Rapture começam quase invariavelmente num crescendo, onde uma linha de baixo, a guitarra e a bateria e a percussão nos vão envolvendo gradualmente até que, quando damos por nós, não há escapatória, e o corpo tem de acompanhar o som. No final estamos cansados mas felizes.
Reportagem do segundo dia do Optimus Primavera Sound aqui; terceiro dia aqui.
Fotografia por Graziela Costa. Reportagem fotográfica do primeiro dia aqui; segundo dia aqui; terceiro dia aqui.
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