Optimus Primavera Sound | Dia 3 (9.6.2012)
A chuva introduziu um factor novo no Primavera Sound do Porto: atrasos no início dos concertos
O derradeiro dia no Parque da Cidade começou acidentado e a certa altura chegou a temer-se o pior, muito por culpa da chuva que caiu durante praticamente todo o dia. Desde logo notou-se uma afluência menor; a chuva foi a principal responsável mas o jogo da selecção nacional também terá tido a sua percentagem de responsabilidade, pelo menos entre o público nacional.
Em virtude das condições atmosféricas, o plano inicial acabou por sofrer algumas alterações. Assim, para começar a jornada, a escolha recaiu sobre Mujeres, que já tocavam pelo palco Club (a escolha mais lógica visto tratar-se de uma tenda, se bem que no meio da tenda existisse já uma vasta poça de água, a caminhar para dimensões mais semelhantes às de um pequeno lago). Os Mujeres são de Barcelona e praticam um rock’n’roll simples e directo; sem espinhas. Deu para bater o pé enquanto se pensava no que fazer a seguir. A chuva, essa, teimava em continuar a cair.
Os Veronica Falls foram os senhores que seguiram, também no palco Club. Os londrinos fizeram a estreia no nosso País para apresentar o álbum de estreia homónimo, e mais alguns temas novos pelo meio que afinam um pouco pelo mesmo diapasão. A música dos Veronica Falls não tem grandes segredos, mas não é por isso que soa menos bem. Tem influências que facilmente se identificam – as guitarras trazem à cabeça por vezes os Smiths e outras vezes os My Bloody Valentine. Está impregnada daquela melancolia tipicamente britânica e canções como «Beachy Head», «Steven», «Bad Feeling» ou «Found Love in the Graveyard» são óptimos exemplos disso.
Os Death Cab For Cutie deveriam começar a tocar às 20h15 no palco Optimus, porém rapidamente se percebe que tal não iria acontecer tão cedo. As primeiras notícias dão conta que o concerto iria ser atrasado por forma a permitir algumas reparações no palco, derivadas da chuva, mas o atraso rapidamente se transformou num cancelamento, para desalento de muitos dos presentes. Por esta altura a chuva deu finalmente tréguas, o que tornou toda a situação ainda mais frustrante. Por esta altura termina também o jogo da selecção nacional, e ao olhar para a entrada do recinto constatamos que estão muitas pessoas a entrar; algumas estão simplesmente de regresso ao recinto depois de terem fugido temporariamente para se abrigarem da chuva ou verem o jogo num café ali nas redondezas.
É a altura ideal para comer qualquer coisa e seguir novamente para o palco Club para ver Abel Tesfaye, a.k.a. The Weeknd, que muito tem dado que falar por aí. Em palco o resultado não é mau. Acompanhado de uma banda, Tesfaye oferece-nos um R&B de cariz mais alternativo mas que perde um pouco da sofisticação que apresenta em álbum. Consequência directa disso mesmo é que algumas músicas teimam em não passar da vulgaridade ao vivo. Fica o benefício da dúvida…
A chuva introduziu um factor novo no Primavera Sound do Porto: atrasos no início dos concertos. Pelas 23h, em situação normal, os Kings of Convenience deveriam estar a subir ao palco Optimus para dar início ao seu concerto, mas isso só aconteceu cerca de 15 minutos depois. Se juntarmos a isto os Dirty Three terem começado a tocar no palco ATP à hora prevista (23h30), facilmente se concluiu que pouco ou nada se viu do concerto dos noruegueses. Foi mais uma escolha que o Primavera nos colocou à frente. Os Dirthy Three são o porto de abrigo de Mick Turner, Jim White e Warren Ellis, todos eles músicos de eleição, ligados a muitos mais projectos. No entanto neste grupo há um que se destaca. Warren Elis. Alguns já o poderão conhecer das suas aventuras ao lado de Nick Cave. Esses saberão então que, à falta de melhor palavra, Ellis é louco. Qualquer concerto em que este senhor esteja envolvido ganha de imediato contornos de imprevisibilidade. Ao longo do belo concerto que deram, foram várias as intervenções proporcionadas pelo australiano. Tome-se por exemplo «Rain Song», que foi apresentada como “a little song about Justin Bieber’s ass”, ou «The Pier», “a song about tomorrow because we’re going to make it happen”. E o que teve lugar ali, no mais belo palco do festival (com o recinto quase totalmente rodeado por árvores), foi um grande concerto, com uma elevada dose de loucura, é certo, mas executado por três músicos de eleição, que nos encheram a alma e, simultaneamente, nos fizeram rir.
Seguiu-se um regresso ao palco Club (outra vez!), desta feita para ver e dançar ao som de Washed Out. Foi com alguma desconfiança que o fizemos, visto o último concerto de Ernest Greene por cá, em Novembro do ano passado, no Lux, ter ficado um pouco aquém das expectativas. Felizmente desta vez foi bem diferente, se bem que ainda com “Within or Without” no centro das atenções e sem deixar de visitar o belo “Life of Leisure”. O momento da noite surgiu já para o final quando soaram as primeiras batidas do belo «Amor Fati». Qualquer cansaço que se pudesse começar a instalar foi esquecido.
Quase dois anos passaram desde o último concerto dos The xx em Portugal, como o próprio Jamie xx fez questão de relembrar. Dois anos são tempo mais do que suficiente para mudar, para crescer. Os The xx cresceram e amadureceram, não fossem ainda tão novos nisto e aqui até podia encaixar bem uma comparação com o Vinho do Porto. Tudo a seu tempo. Para receber os xx está um mar de gente que se estende em todas as direcções até perder de vista. O cenário é simples. Em vez dos vários ‘X’ que anteriormente marcavam presença, agora apenas existe um grande ‘X’, por detrás da banda. Sinal de amadurecimento? Talvez. A expectativa para as canções que vão ser apresentadas é mais do que muita. O novo álbum “Coexist” está previsto para Setembro deste ano. Foi exactamente neste ponto que residiu talvez a maior desilusão, visto o concerto se ter centrado principalmente em temas do álbum de estreia. Os temas novos escassearam e, muito sinceramente, não acrescentaram nada de novo. Há que aguardar um pouco mais para avaliar efectivamente o resultado final. Não se pense que o concerto foi mau. A banda cresceu efectivamente e, em especial, Jamie xx. Está mais seguro e confiante. Os temas de “xx” têm novos arranjos, estão mais polidos. Soam bem. Recordo-me de ter escrito, quando “xx” foi lançado, que as canções que o integravam encerravam em si uma intemporalidade, porém o tempo teria de me dar razão. Dois anos depois isso parece começar a confirmar-se. Canções como «VCR», «Cristalised», «Basic Space» ou «Shelter» continuam a soar tão bem como no primeiro dia.
Por esta altura somos invadidos pelo sentimento de que está realmente a chegar ao fim destes três dias passados no Parque da Cidade do Porto, que irá deixar saudades em todos os que lá passaram. Felizmente já está confirmado que para o ano haverá mais. Resta-nos esperar que o tempo passe depressa…
Reportagem do primeiro dia do Optimus Primavera Sound aqui; segundo dia aqui.
Fotografia por Graziela Costa. Reportagem fotográfica do primeiro dia aqui; segundo dia aqui; terceiro dia aqui.
There are no comments
Add yoursTem de iniciar a sessão para publicar um comentário.
Artigos Relacionados