Orelha Negra | “Mixtape II”

Orelha Negra | “Mixtape II”

Diferentes cores e sabores

O quinteto fantástico está de volta. Pela segunda vez, os Orelha Negra embarcam numa aventura em que convidam um vasto leque de artistas a darem voz às suas músicas. Depois do sucesso da primeira mixtape do colectivo, eis que o segundo capítulo desta aventura vê a luz do dia.

Como já fora feito antes, os Orelha Negra pegaram nas versões originais do mais recente álbum e adicionaram-lhe a componente vocal. Algumas sofreram ligeiras alterações, outras ganharam uma nova roupagem, e há ainda casos de versões inéditas, como é exemplo a remistura de «Queen Of Hearts» feita por Fred Ferreira.

Amp Fiddler faz as honras à casa precisamente com a primeira versão de «Queen Of Hearts» e leva-nos até os campos da soul norte-americana com a energia e cadência que caracterizam o estilo. De seguida, Mónica Ferraz apresenta-nos o single «Heartbreaker», uma derivação do já conhecido e badalado «Throwback», ganhando toda uma nova vida na poderosa voz da ex-vocalista dos Mesa.

«Juras?» transforma-se em «Dominoes» com a participação de Peter Hadar, e de seguida Sam The Kid e Regula expõem a sua vertente lírica em «Solteiro». Neste tema encontramos um Regula em boa forma, em vésperas de lançar o seu álbum «Gancho», e um Sam The Kid mais apagado, longe de um “Pratica(mente)” ou das suas mais recentes colaborações paralelas.

Depois do tema «Queen Of Hearts (Pitchdown Rmx)», agora numa versão mais lenta e vigorosamente compassada, Carlos Nobre, mais conhecido como Pacman, brinda-nos com um excelente exercício de spoken word na canção «Sempre Tu». Assim como já nos tem habituado no seu projecto Algodão, o rapper ex-Da Weasel continua a vaguear nos labirintos das palavras e a proporcionar-nos excelentes exercícios de versificação.

Fuse transforma-se no verdadeiro Inspetor Mórbido e conta-nos a noite em que nasceu, no estilo obscuro e enigmático que o caracteriza. «A Noite Em Que Eu Nasci» patenteia toda a influência que bebeu de artistas como Adolfo Luxúria Canibal e o lado sombrio das películas cinematográficas das quais não esconde ser devoto. No final do tema Viriato Ventura, ou por outras palavras Napoleão Mira (pai de Sam The Kid), volta a surpreender-nos com brilhantes estrofes, como já o tinha feito em «Slides (Retratos Da Cidade Branca)» no álbum “Pratica(mente)”.

Pelo caminho encontramos ainda Osso Vaidoso («Blu Marina»), NGA («Ovelha Negra»), Georgia Anne Muldrow («Round4Round») e Ruas («Círculo Perfeito»). Mas é com «A Paixão é às Vezes, o Amor é Todos Os Dias» que a mixtape atinge um dos seus apogeus. Capicua demonstra, numa história de amor bem metaforizada, que é um dos expoentes máximos do hip hop feito em terras lusas. Já Valete fica aquém das expectativas. Depois de ter brilhado em «Melhor Rima De Sempre», no primeiro capítulo das mixtapes dos Orelha Negra, e de já nos ter habituado aos seus contagiantes storytellings, Keidje Lima não consegue sobressair nos três episódios que nos relata em «Bastidores».

Depois do groove característico de Da Chick em «Blues Booze» atribuir uma nova roupagem e uma outra visão a «Blue Tu», Kika Santos exterioriza toda a sua faceta soul em «My Best Kept Secret», antecedendo o final do álbum que tem o seu término com «Bastidores».

É este o universo onde os Orelha Negra se sentem melhor. Um universo polvilhado pelas mais diferentes culturas e pelos mais variados estilos musicais. Nesta “Mixtape II” encontramos influências que podem ir da soul ao hip hop, piscando um olho à disco, ao funk, à poesia e ao spoken word. Uma verdadeira homenagem ao mundo da música e à sua história que não deixará o ouvinte indiferente.



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