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Orfeu

Pedro Passos e a sua "REintervenção".

Um dos mais significativos alfobres da música popular portuguesa está de volta com a edição de novos discos e reedições que marcaram o 25 de Abril.

É sabido e reconhecido o papel de apoio assumido outrora pela editora Orfeu no que concerne ao percurso de músicos, compositores, letristas e poetas como José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Fausto, Sérgio Godinho, etc.

Em fase comemorativa do 25 de Abril, o emblemático selo português, criado pelo empresário e melómano portuense Arnaldo Trindade, volta a assinalar e fazer-se escutar com discos que reúnem parcerias improváveis, músicos de excelência e algumas novidades.

Foi à conversa com Pedro Passos, agora coordenador da editora, que se ficou a entender um pouco melhor este “levantar” e adaptar do conceito duma das editoras de maior relevo e linearidade na cena musical nacional.

“A ideia amadureceu durante os dois últimos anos. A primeira ideia era fazer um disco de celebração dos oitenta anos do nascimento de José Afonso. Logo foi claro não ser, de todo, possível fazer o disco que queríamos e que a obra extraordinária de José Afonso merecia em tão pouco tempo. Fomos fazendo e dessa forma houve o tempo necessário para amadurecer ideias. Uma delas foi a edição do disco com o selo Orfeu, selo responsável por grande parte da obra do cantor. Depois foi apenas o tempo necessário para juntar a este disco outros discos – Afonso Pais / JP Simões e a editar em breve Pedro Esteves e mais dois discos (que acabou por não revelar ainda) – para termos desde logo um novo catálogo Orfeu”, explicou Pedro.

A junção de músicos de universos distintos está patente em REintervenção, disco que saiu precisamente em época de data comemorativa como referido no início, ideia essa que parece, pela escolha dos duetos, na altura da sua audição, uma tentativa não só de cruzar universos distintos da senda nacional num disco que celebra alguma da obra de José Afonso, como o no que essa união também idealiza ou pressupõe: estender a sua audição ao passado e presente. Pedro Passos, partindo desta percepção, clarifica melhor algumas das ideias basilares do disco em questão: “REintervenção teve, desde logo, um pressuposto claro. Não era um disco fechado na escolha das canções, dos intérpretes ou géneros musicais, como também não tinha uma intenção política, de intervenção, mas mais o tributo a uma obra maior da nossa música. A música de José Afonso. O nome REintervenção brinca um pouco com isso”, reflectiu o entrevistado.

Para aguçar o leitor deixamos alguns desses artistas presentes em REintervenção: de Amélia Muge a Cool Hipnoise, de Terrakota a Cacique’ 97, de Janita Salomé a Vitor Rua entre muitos mais, num tributo que congrega, numa nova visão das melodias e mensagens deixadas por Zeca, 14 temas.

Pedro acha que “a diversidade de estilos não teve outra razão que não seja de alguma forma mostrar essa obra extraordinária e diversificada, vista de diferentes formas, do cantautor à música mais electrónica, experimental, jazzística, da música do Mundo à música mais erudita”.

Assim, os objectivos primordiais da editora e dos discos com que se re-apresenta aos seus públicos – o de agora e, possivelmente, o já conhecedor do passado – são fáceis de presumir e é Pedro quem os reforça e explicita. “Dar a conhecer artistas novos ou com obra já editada que, como nós, acreditam que a música é um bem cultural valioso e criar um novo catálogo de referência da Música em Portugal”.

A parceria de Afonso Pais com JP Simões em “Onde Mora o Mundo” (outro disco já editado) reflectem o carácter referencial que fazem da resposta de Pedro Passos uma quase máxima da linha de entendimento ou raciocínio sonoro / cultural da Orfeu. Neste figuram mais uns quantos músicos do conhecimento do público mais fiel ou interessado na música pop e contemporânea  portuguesas: Carlos Barretto, Alexandre Frazão, Luís Cunha, Tomás Pimentel, entre outros.

A poesia e humor também marcam o regresso da editora que fez sair um álbum duplo – de um lado “País de Abril”, nome de um poema de Manuel Alegre, do outro “O Operário em Construção”, que viaja por paragens e ambiências bem diversas como, entre outras, a de Vinicius Morais ou Alexandre O´Neill. Sem esquecer, no quadro, as contribuições de José Luís Tinoco, no piano, José Niza, na viola acústica,  a participação musical de José Calvário, mais a carismática voz de Mário Viegas, que o tornam ainda mais expressionista e caricatural.

“25 de Abril – Confidencial / Proibição de voltar à direita” é o nome dum dos maiores, senão mesmo o maior, imitadores nacionais de todos os tempos – Mena Matos.

Para um futuro mais ou menos próximo a Orfeu tem “mais três novos discos para editar e pelo menos outros tantos para reeditar“, elucidou.

“Estamos também a começar a trabalhar noutros projectos que juntam o passado da Orfeu com o presente”, referiu sem adiantar muito mais.

O modo como a editora olha para a senda musical actual com os seus protagonistas e fenómenos mais expressivos, foi uma curiosidade também exposta na conversa, que Pedro Passos, pela Orfeu, encarou do seguinte modo: “Estamos confiantes. Está a surgir uma nova geração de músicos, cantores, compositores, produtores e até mesmo editores que nos dão confiança para acreditar que estamos num bom momento e num bom caminho. Nunca esquecendo aqueles que não sendo dessa nova geração, muitos deles desconhecidos do grande público, são valores seguros da nossa cultura”.

Pedro acredita e deseja que “a Orfeu seja uma plataforma, não só de música que, acreditamos ser de qualidade, mas também um espaço onde o design, a fotografia e a escrita tenham um lugar de destaque”.

Para os leitores da RDB foi pedido o recado da praxe: “Comprem música feita em Portugal”. E acabou por deixar algumas dicas, fora inclusive do selo que representa e motivou este diálogo. “Tiago Sousa – “Walden´s Pond Monk”, embora editado por uma editora Norte-Americana, com muita pena minha, mais um, Guta Naki… Mais, uma editora Portuguesa que me é querida: a Meifumado”.

Quase no fim da conversa acaba por promover, brincando, o que originou afinal esta entrevista: ”OK, tem que ser (risos), os discos da Orfeu. São uma aposta segura. Agora ou no Natal, no Carnaval, no Verão, para o serão, de hoje, amanhã e sempre”.



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