big_thief_two hands_pt_02_2020

Os Big Thief são qualquer coisa

As canções dos Big Thief são imprevisíveis. Cantar sobre amor não tem de ser sinónimo de palavras doces e bonitas.

Ando há algum tempo para escrever sobre Adrianne Lenker e os Big Thief. Pelo menos desde que essa enorme canção que se chama simplesmente «Not» ser dada a conhecer, ainda antes de “Two Hands” ser editado – aconteceu no início de Outubro – e pela altura em que o colectivo sediado em Brooklyn viu a sua presença confirmada em Portugal. Dois concertos, nos dias 17 e 18 de Fevereiro de 2020, no LAV e no Hard Club, respectivamente. Mas parecia sempre que não era o momento certo. Agora que penso melhor, ao escutar «Mythological Beauty», canção maior que a vida de “Capacity”, ou o álbum a solo que Lenker lançou o ano passado e que tantas vezes foi rodou por aqui, também mexeu cá dentro, ao ponto de querer arriscar algumas palavras. Mas não aconteceu.

Entretanto “Two Hands” foi lançado a 11 de Outubro. Só por escrever o nome do álbum sinto um arrepio a percorrer a espinha. Mas também não era a altura certa. Estas 10 canções tinham de ser devidamente degustadas e encaixadas. Encaixe é um termo que se adequa bem à ideia que aqui se quer passar. Estas canções mexem com as nossas emoções, por vezes de uma maneira crua. E a voz de Adrianne Lenker? Parece daquelas frágeis, prestes a partir-se a qualquer momento. Na realidade acontece o oposto. Cada palavra cantada por aquela voz, frágil à primeira vista, é como um golpe disferido sem piedade para os mais incautos e que leva tudo à frente.

A vida dos Big Thief é a sua música e a ligação única que Adrianne Lenker (voz, guitarra e alma), Buck Meek (guitarra), Max Oleartchik (baixo) e James Krivchenia  (bateria) têm entre si, e a capa de “Two Hands” reflecte isso na perfeição. As canções são imprevisíveis. Cantar sobre amor não tem de ser sinónimo de palavras doces e bonitas. O amor pode ser bruto, violento e sangrento. E o amor nas canções de Lenker deixa marcas, por vezes dói à brava. Coloca-se em perspectiva e julga sem contemplações, como em «Shoulders» que nos faz sentir o sangue a pulsar nas veias. «Not» começa logo a questionar. É como cravar as unhas na pele cada vez mais fundo. Há medida que a canção evolui, a tensão vai-se acumulando e acumulando, não só nos acordes da guitarra e na bateria mas também das palavras de Lenker. E quando está prestes a transbordar… é exactamente isso que acontece. Porque é o que tem de acontecer.

Os Big Thief são uma banda dos nossos tempos mas a sua música parece que já anda por cá há muito mais. Tem um toque intemporal. A voz de Lenker encarrega-se disso.

Os bilhetes para o concerto já se encontram à venda nos locais habituais e têm o custo único de 20€, com 1€ a reverter para a HANGARMUSIK e o seu programa de orquestra musical para crianças em situação de emergência e apoio comunitário para refugiados.



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