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“Os Viajantes” de Alexandra Bracken

Navegar entre as águas impiedosas do tempo

Etta acordou com o ribombar de uma trovoada e o corpo envolto em laços de fogo. (…)
A passagem.
Então o som da trovoada era a passagem.

O livro sequela de Os Passageiros do Tempo, da escritora americana Alexandra Bracken, cuja acção é delineada pelas perigosas e tortuosas viagens no tempo, e uma incessante e frenética busca pelo tão almejado astrolábio, Os Viajantes (Marcador, 2018), é o mais recente romance, repleto de contornos fantásticos, que conduz o leitor através de várias linhas temporais, e o imerge em diversos contextos históricos.

(…) o que de facto importava é que Nicholas queria restaurar o mundo que ela conhecia e amava tal como era antes da linha do tempo ter sido alterada.

Alexandra Bracken replicou a sua fórmula de sucesso, e continuou o seu brilhante trabalho, nesta sequela de Os Passageiros do Tempo, que tem início, imediatamente, após o cliffhanger do primeiro livro.
Ao longo de 453 páginas, Bracken deslumbra o leitor através das suas descrições pormenorizadas dos personagens, das eras, e diversos locais em que se encontram, dos acontecimentos e intervenientes históricos com que se deparam.
Como se se tratasse de uma peça musical, executada pela própria Etta, a história inicia-se lentamente ao ritmo de um Adagio, mas vai ganhando força e consistência gradualmente.

Era como nadar no oceano debaixo de chuva; independentemente de onde ele fosse, não evitava ficar molhado com a verdade. Etta teria querido que Nicholas acabasse o que tinham começado juntos e que ele encontrasse o astrolábio.

Após se separarem, involuntariamente, no final do último livro, Etta e Nicholas ver-se-ão envolvidos numa corrida alucinante, percorrendo os anos de 1932, 1776, 1906 e 1919, à medida em que atravesssam as passagens de Damasco até Nassau, à Nova Iorque colonial, São Francisco, Cartago, Rússia Imperial e Japão, em busca do astrolábio, um artefacto que nas mãos erradas pode significar o fim da linha para muitos viajantes, ou a sua salvação.

Padrão. Agora, ela odiava aquela palavra, a falta de controlo que implicava e a forma como explicava aquilo que Henry lhe dissera na Rússsia. Tu também vais ver o padrão.

Etta Spencer, depois de se ter adaptado às condições adversas em que se viu envolvida, após ter sido puxada por uma “passagem”; descoberto que é uma viajante, alguém com o poder de atravessar a barreira do tempo, e convivido com piratas, tais como Nicholas Carter, vê-se, novamente, perdida no tempo, e para piorar a situação, ferida gravemente.

Agora que já não tem o astrolábio em seu poder, desesperada para salvar a mãe, Rose Linden, das garras do malvado e ambicioso Cyrus Ironwood, e voltar para junto do seu companheiro, Etta terá que tomar decisões difíceis e unir-se a Henry Hemlock e o seu grupo dos Espinhos, se quer recuperar a sua linha do tempo original e impedir os intentos do velho Ironwood.

Este, por seu lado, não desiste do seu objectivo e está disposto a tudo para consegui-lo, especialmente, matar Etta.

Nicholas, agora em parceria com Sophia Ironwood, sente-se perdido sem a sua companheira, e ansioso por recuperá-la. Após falhar o contacto inicial com Rose, recebe um aviso que o conduz, directamente, à Belladonna, uma bruxa que se aproveita do seu desespero, e o instiga a fazer um pacto com ela em troca de informação, aprisionando-o, assim, aos seus caprichos e vontades.
Nicholas terá que cumprir uma missão, que vai contra todos os seus princípios, caso contrário, morrerá.

(…) Etta fixou-se nos olhos escuros da mulher acima de um véu prateado que lhe cobria a parte inferior da cara. O seu corpo voluptuoso estava coberto por rendas pretas e parecia que os seus padrões florais tinham sido cortados directamente das trevas.

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Mas a Belladonna não é a única que se atravessa no caminho dos protagonistas. Um interveniente mais antigo e letal, esconde-se na obscuridade, tal como um predador à espera para atacar.

O Ancião, um ser cruel, obcecado com o poder e a imortalidade, envia o seu grupo de assassinos, os Sombras, outrora crianças viajantes orfãs de tempo, para eliminar os demais viajantes, e assim obter o astrolábio.

Era o silêncio, a forma como o Ancião absorvia os sons à sua volta, como se fosse o vácuo (…) As paredes pareciam ajoelhar-se à sua passagem, inclinando-se para a frente, como se, a cada passo, ele fosse calmamente devorando o mundo.

O perigo ronda por toda a parte…
Até onde estará Nicholas disposto a ir para salvar Etta e cumprir com a promessa que fizeram um ao outro?
Conseguirão Etta e Nicholas reencontrar-se antes de que seja demasiado tarde?
Será possível que escapem às garras dos Sombras e do Ancião, sem consequências? Ou ver-se-ão constrictos a ceder ao padrão, e sacrificar-se em prol dos demais?

Sou uma orfã do tempo.
A linha do tempo mudou.
O meu futuro desapareceu.

Os Viajantes, de Alexandra Bracken, é um romance envolvente, repleto de aventuras, peripécias e viagens no tempo, maravilhosamente detalhadas. Uma bela e encantadora sinfonia, com todos os ingredientes, que vão seduzir e deleitar o leitor, do início ao fim.



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