Owen Pallett
A fantasia do violinista.
Quando conheci Owen Pallett pela primeira vez, foi simpático mas reservado, de poucas mas sábias palavras. Encontrei-o no final do primeiro de dois concertos que deu no Maria Matos, quando estava a conversar com um grupo de amigos numa conversa onde se ouviam coisas como “Foi um dos mais belos concertos que vi até hoje” e “Quem me dera que tivesse sido mais uma hora”, já depois da maior parte do público se ter ido embora. Quando o vi, aproveitei para lhe agradecer o magnífico concerto que tinha acabado de dar; o que se seguiu foi uma interessante conversa com alguém que tem tanto de timidez como de talentoso.
Foi por isso para mim uma surpresa quando se mostrou tão conversador, disponível e directo, na entrevista que me deu por telefone na semana em que actuou por cá, no Super Bock em Stock. “Olá, tudo bem? Como estás? Estás-me a ouvir bem?”, disse ele mal atendeu o telefone. E, infelizmente, não estava. Ao que parece, em Praga (onde ele estava, a compor, segundo ele, um pequeno trabalho de audiovisual para o New York Times) as ligações telefónicasnão são muito boas. Isto acabou por minar uma entrevistar onde tivemos, repetidamente, de pedir um ao outro para repetir o que tinha acabado de dizer. Não tarda, a situação torna-se até algo cómica. “Desculpa, é este o problema de ligar do outro lado do mundo”, digo-lhe eu. “Bem”, responde, “da próxima tentamos quando eu estiver no Canadá. Lá a ligação há-de ser melhor, garanto-te”.
Mais acessível ao telefone que em pessoa (ou simplesmente estava mal-disposto, naquele dia…), comecei a conversa com “Heartland”, o seu álbum saído este ano que, a meu ver, mostra uma evolução do artista tanto a nível instrumental como a nível de escrita. Uma opinião não partilhada pelo próprio. “Não não, acho que a única mudança que houve foi mesmo a nível de arranjos. Em termos das letras das canções, acho que estão iguais às dos meus álbuns anteriores. Este é um álbum conceptual, mas nem quir ir tanto por aí. Nada mudou, nesse aspecto”. Muito bem; eu acho que houve evolução, ele acha que não. Opiniões. No entanto, é óbvio que o uso da Orquestra Nacional Checa ajudou o álbum e que, nesse aspecto, nota-se um som mais complexo em relação aos anteriores álbuns. “Sim, sem dúvida. Aliás, eu próprio quis trabalhar com a orquestra porque achei que sozinho não ia conseguir o som que desejava. Com orquestra é tudo maior, mais completo. Jamais conseguiria aquele som de outra forma”. Heartland foi, aliás, um álbum que demorou imenso tempo a completar, e muito complicado de fazer para Pallett. “Fui eu que tratei da produção e do mixing, e basicamente não percebia nada disso. Sou um escritor de canções, não um produtor. Foi por isso também que o álbum demorou tanto a sair”. Tudo saiu bem, e este último registo tem de facto um som diferente daquilo que Pallett nos deu antes.
Som esse que, em concerto, é impossível de replicar; afinal de contas, o músico é conhecido por ser um one-man-show, manuseando sozinho os teclados, loops e, claro, o violino. “Quero que os discos e os espectáculos ao vivo sejam duas faces da mesma moeda”. Não é por nenhuma razão em particular que Pallett anda sozinho em digressão… é apenas porque “É muito, muito mais barato. Basicamente, assim posso ganhar mais dinheiro!” diz-me com uma risada, dando de seguida uma revelação interessante: “Mas admito que estou a pensar em arranjar banda, e já andei a falar com algumas pessoas. Veremos, veremos”, disse, não adiantando mais pormenores. Com ou sem banda, continuará óptimo, sem dúvida.
Além da sua carreira a solo, Pallett colabora regularmente com inúmeros outros artistas. Já tratou dos arranjos de bandas como os Arcade Fire, Pet Shop Boys e, agora, Duran Duran, onde teve um importante papel no novo álbum da banda a sair em breve: “All You Need Is Now” (com um belo single de mesmo nome lançado recentemente). “Foi o Mark Ronson, basicamente. Ele estava a produzir o álbum e gostava do meu trabalho. Um dia, do nada, liga-me e pergunta-me se quero trabalhar no novo álbum dos Duran Duran. Aceitei logo”. Colaborações essas que acabam por, até certo ponto, a própria música de Pallett. “A grande vantagem dessas colaborações é a de poder ver como é que trabalham os outros músicos. Acaba por me dar imensa experiência que depois acabo por usar nos meus próprios discos”.
Owen Pallett ainda é jovem, mas já é um dos mais reconhecidos e prestigiados artistas dentro do seu género. Heartland marca uma evolução, e o próximo disco irá manter isso. Parece que nos próximos tempos não iremos ouvir nada muito parecido a “He Poos Clouds ou a Has a Good Home”. “Não gosto de ouvir os meus álbuns antigos. Simplesmente não gosto. Não me soam a algo que eu quisesse fazer, e acho que foi com Heartland que consegui chegar finalmente onde queria, que consegui de certa forma realizar o que andava a fantasiar na minha cabeça. A partir de agora, vai ser assim”.
E que seja. De uma forma ou de outra, cá estaremos para ver, tanto em disco como ao vivo. No final da entrevista, após mais algumas lamentações de ambas as partes em relação ao som, pedi a Pallett para tentar encaixar no alinhamento do concerto que aqui ia dar uma canção que, ultimamente, não tem tocado ao vivo: “This Lamb Sells Condos”. Prometeu-me que a tocaria. Cumpriu a promessa.
O violinista está agora no máximo da sua forma, confortável com as canções antigas e orgulhoso das novas que agora apresenta. Na semana passada vi, pela segunda vez este ano, Owen Pallett ao vivo; pela segunda vez, fui arrebatado por um concerto de uma beleza inexplicável. Mal posso esperar pela terceira.
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