Oxalá

Um albúm em território interplanetário.

O cidadão actual tem uma necessidade constante de viajar, conhecer  e explorar culturas desconhecidas, desejo normalmente correspondido pela realidade de uma deslocação, por contactos esclarecedores ou, mais solitariamente, pela arte, através da sua tremenda habilidade para cativar e ensinar. De um quadro captam-se paisagens, figuras ou pensamentos. De uma fotografia gestos, olhares ou momentos. Uma escultura é moldada perante ideais. Na música destacam-se melodias, instrumentos e vozes, desenhando, em cada nota, uma camada simbólica.

O Chill-Out é um dos estilos de música que representa a materialização de emblemas culturais, impulsionador de tranquilidade e especializado na criação de um universo relaxante, recheado de temas originários.

A Nazca Music, editora de Chill-Out, foi fundada na Holanda, encontrando-se agora localizada num acolhedor monte alentejano, fonte poderosa de criatividade – além de uma casa construída, foi adicionado um estúdio e um segundo apartamento para acolher amigos e artistas. A sua existência resulta da dedicação de dois protagonistas principais, Harida e Nartan. A intenção é complementar o mercado com temas de World Music, New Age Music, ou mesmo Smooth Jazz.

Perante esta cuidada criação de ambientes as convergências etnológicas surgem com naturalidade. Oxalá que esta pureza de intenções se mantenha! Oxalá que projectos, como estes, influenciem a continuidade da chama musical em Portugal! Oxalá é o nome assumido pela dupla criativa de Harida e Pedro Sotiry – conceito que reúne a visão humana de ambos, reforçada pelas suas viagens intercontinentais, sendo também uma expressão utilizada em várias línguas: além do português,  o árabe, Inshallah, como também o inglês, God Willing.

No álbum iniciam o seu caminho de atmosferas étnicas, proporcionalmente electrónicas, com uma faixa que traduz a expectativa de uma caminhada pacífica. A faixa dois introduz uma paisagem jazzy de elementos experimentais. A três é mais emocional, preenchendo-nos de esperança e positivismo. A quatro transmite tranquilidade através do Santoor, Sintetizador e Tablas.

O Santoor ou Santur é um instrumento de percussão utilizado na antiga civilização Persa, de 72 cordas tocadas por pequenas baquetas de madeira e, igualmente de percussão, são as Tablas, tocadas com as mãos.

De seguida, na história sonora, surgem referências que nos sugerem o bater de asas e chilrear de um pássaro, complementadas pela intencional profundidade instrumental da flauta e de momentos de Piano, criados pelo Sintetizador.

A faixa seis inicia e mantém a presença de um instrumento de cordas electrónico, mantendo a coerência relaxante, introduzindo, mesmo assim, de forma irreverente, ritmos enigmáticos. A última faixa é a minha preferida, motivadora – inicia com percussão e desenvolve com uma electrónica loungy de melodias delicadas.

Ao longo da sua narrativa, glorificadora de conteúdos electrónicos, presenteiam-nos com instrumentos ancestrais de influência asiática e africana como o Kalimba ou o Berimbau, usado tradicionalmente na Capoeira para marcar o ritmo de luta. Os Sinos, Gongos e Pratos são responsáveis pelos sons mais metálicos.

O título do álbum que escolheram, “From a different Planet”, transporta-os para um outro universo sem fronteiras nem designações. Assumem uma distinção curiosamente misteriosa, como se pulassem de planeta em planeta, de estrela em estrela, procurando referências, histórias e especialmente sons que lhes despertasse o conhecimento. São estudiosos incansáveis, apaixonados não só pelo encontro de experiências mas também e, principalmente, pelo próprio processo da sua procura. O estilo de música que adoptaram contrasta com a energia mecânica da cidade, restabelecendo um certo equilíbrio rítmico.

São artistas que vibram alegremente com a vida e amam o que fazem, demonstrando um conhecimento musical profundo tanto por instrumentos clássicos como por outros populares, étnicos e electrónicos que vão conhecendo das suas viagens interplanetárias. Os Oxalá formam uma dupla sábia, atenta a novas influências e exploradora de um estilo experiencial que prima, primeiro de tudo, o conforto e o presente. Carpe Diem!



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