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Parole, Parole, Parole…

"I have a doubt? Is it supposed to make sense?"

Estreou no Negócio, no passado dia 14 de Abril, a peça “Parole, Parole, Parole…”, um projecto da Dinis Machado, Corp.

Ao longo de um mês de residência no Negócio, Dinis Machado debruçou-se sobre a significação de termos como ‘linguagem’, ‘discurso’ e ‘tradução’.

Tudo partiu deste princípio: pense numa beleza inimaginável. As palavras ordenam uma imagem, a qual se entende, por sua vez, como impossível. Encontramo-nos, então, num beco sem saída, um dead end comunicacional explorado em “Parole, Parole, Parole…”

A reflexão desenvolve-se ora em diálogos, ora em momentos de narração. Diálogos entre figuras que não chegam a ser personagens pois carecem de identidade. Eles existem apenas enquanto interlocutores, mas, estranhamente, o que dizem não importa, não interfere, não muda nada. É clara a sátira à banalidade e semelhança, não só das rotinas, como dos desejos, bem como, a evocação ao desfecho capitalista das utopias sociais da modernidade. Os momentos de narração desvendam as preocupações que estão na origem de “Parole, parole, parole…”, porém são na sua maioria, falados em francês ou inglês, sem legendas, sabotando, à partida, a possibilidade de uma compreensão plena por parte do público.

A peça recorre a uma economia de meios ficcionada, que expõe o dispositivo cénico, transportando, assim, as questões colocadas de uma esfera que correria o risco de ser simplesmente social para o próprio acto de criação artística: a sua necessidade, coerência e constrangimentos.

Uma câmara projecta a acção contra a parede do fundo, aumentando-a em proporções e inconsequência. A crítica a uma postura espectacular  do tipo let us entertain you é sublinhada através do uso da música pop e de clichés românticos da indústria cinematográfica mainstream.

Em cena no Negócio até 18 de Abril, “Parole, Parole, Parole…” espoleta uma reflexão sobre a deficiência comunicacional provocada  pelo desajuste entre significado e contexto, ou, por outras palavras, pela persistência das palavras que já perderam o lugar na História do presente.



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