Patti Smith | “Banga”

Patti Smith | “Banga”

Às voltas com a teoria do Big Bang

Patti Smith está, para a Música, um pouco como Vincent Price está para a história do Cinema: uma figura espectral, fantasmagórica de corpo inteiro, capaz de fazer parar a rotação da terra quando decide mostrar-se ao mundo.

“Trampin`”, o anterior disco de originais, tinha aterrado em 2004. Seguiram-se oito anos de um retemperador silêncio – numa vida mais dedicada à fotografia e à literatura -, interrompidos este ano com a edição de “Banga”, que parece servir como legado Smithsoniano às gerações futuras.

Na introdução da bem desenhada edição especial conta-se que o disco surgiu a bordo do navio MS Costa Concordia, em 2009, quando Patti e Lenny Kaye embarcaram numa “estranha e frutuosa jornada”, juntando-se a Godard e a um bom número de outsiders aquando das filmagens de “Socialism”.

São também reveladas muitas das histórias que estão por trás da nova rodela sonora: as influências literárias de Milkel Bulgakov e Nikolai Gogol, que resultaram nos temas «April Fool» e «Banga (o cão dos cães); os delírios fílmicos de Andrei Tarkovsky, transformados no tema «Tarkovsky (The Second Stop Is Jupiter)»; o falecimento de Maria Schneider, contado em «Maria» – canção que para Patti transmite a natureza crua e excitante da actriz; a curiosidade de «Nine» ter sido escrito em Puerto Rico, servindo de prenda a Johnny Depp que por lá se encontrava a rodar “The Rum Diary”; o fascínio de Patti por um postal perdido, reencontrado de forma catártica no quadro «Dream of Constantine» – e que resultou em «Constantine`s Dream», um incrível épico sonoro; ou o facto de «This is the Girl» ter nascido de um poema de homenagem a Amy Winehouse.

É um disco que revela uma grande sensibilidade literária, percorrendo diversos estilos musicais e apresentando um grupo de canções que se perfilam como um ciclo de vida. Em «After the Gold Rush» – recriação de uma canção de Neil Young -, quando as crianças cantam em coro, formula-se o desejo para que as gerações futuras possam também embarcar nas suas próprias aventuras e demandas pessoais. É este o legado Smithsoniano. Se quiserem vejam-no como um novo Big Bang. Patti Smith decidiu chamar-lhe “Banga”.



There are no comments

Add yours

Pin It on Pinterest

Share This