Peaches
Regressa a Portugal em Dezembro. A fruta é boa e está muito madura.
Imaginem uma mulher de 36 anos, ex-professora de música de Toronto que no passar do milénio decidiu despir-se de todos os preconceitos e de quase toda a roupa e criar um estilo que mistura o rock com a electrónica que criou um “hype” à sua volta que a colocam como um dos nomes mais requisitados por todo o mundo. Não conseguem imaginar?
Controversa, diferente, provocadora, pornográfica e arrebatadora, são alguns dos adjectivos com os quais podemos caracterizar Peaches, pseudónimo de Merrill Nisker, natural de Toronto e que sempre dedicou a sua vida à música.
Iniciou as suas actuações ao vivo ainda adolescente, em Toronto, tocando temas de Led Zeppelin e da sua grande referência da época, Carol Pope. Nos intervalos das actuações, dedicou-se ao teatro e à tarefa de ensinar. No início dos anos 90, desenvolveu um programa para crianças entre os 3 e os 6 anos sobre artes onde teve a possibilidade de observar a honestidade e espontaneidade das crianças, qualidades que tentou colocar em Peaches, mais tarde e de uma forma adulta.
A sua primeira banda, Mermaid Café, foi rapidamente esquecida e sobreposta por uma banda mais virada para um estilo punk-indie, os Fancypants Hoodlum. Em 1995, finalmente surgem os “The Shit”. Um quarteto do qual faziam parte nomes como Dominique Salole (conhecido hoje como Mocky), Jason Beck (Chilly Gonzales) e Sticky. Este projecto não durou muito tempo e rapidamente o quarteto passou a ser um duo, passando-se a chamar “Feedom”. Apenas destinado para pequenos espectáculos ao vivo, animou bastante as “after-hours” de Toronto e era composto pela própria Nisker e por Gonzales, tendo como terceiro elemento o guitarrista David Szigeti (mais tarde conhecido como Taylor Savvy).
Todos os elementos dos “The Shit” e dos “Feedom”, optaram por partir do Canadá e rumo à Europa dando-se a conhecer ao grande público por pseudónimos por eles inventados. Nisker inspirou-se numa personagem de Nina Simone para inventar o seu cognome. Gonzales foi o primeiro a partir para a Alemanha e abrir as portas para Peaches e mais tarde para Taylor Savvy. Aos poucos, Berlim tornou-se o centro de acções de muitos artistas canadianos que assim tinham espaço mental e físico para dar largas à sua criatividade.
A música de Peaches surgiu depois de ter tido acesso a uma “groovebox” com a qual nasceram os temas para o primeiro álbum de originais, ainda gravado no Canadá mas editado na Alemanha. “The Teaches of Peaches” foi editado em Setembro de 2000 e surpreendeu tudo e todos pela exuberança e provocação. Para as facções mais elitistas da electrónica e do rock independente, o álbum surgiu como um choque. “The Teaches of Peaches” tornou-se um álbum obrigatório em locais e ambientes tão diversos como por exemplo, passagens de modelos, DJ Sets, festas gay e aberturas de galerias. Os espectáculos ao vivo são ainda mais excêntricos e muitas vezes pornográficos, criando ira e raiva naqueles mais conservadores. Na Austrália, em 2001, um grupo de mulheres exigiu a saída de palco de Peaches porque ela estava a masturbar-se em cima do palco com uma plateia composta pelos filhos das tais senhoras.
Este ano, Peaches regressou aos trabalhos discográficos e mais uma vez supreendeu muitos e escandalizou outros. O nome e a capa do álbum são o prenúncio de um álbum bastante controverso. “Fatherfucker”, apresenta na capa a face de Peaches cheia de barba, uma clara analogia às suas partes mais íntimas que a própria diz serem bastante “cabeludas”. Esta é apenas a primeira provocação de um álbum que musicalmente não se afasta muito do seu primeiro registo embora, ao contrário do anterior, existam temas em que a “groovebox” foi substituída pelos instrumentos ao vivo. Este novo registo conta com a participação de um dos nomes míticos do rock, Iggy Pop, em “Kick it”. Esta colaboração surge após a presença de Peaches num dos temas do último álbum do mesmo.
Se no álbum Peaches é um dos nomes mais respeitados no panorama electro-rock mundial, em palco encarna a sua personagem e numa conduta sexualmente explícita não deixa alguém indiferente. Peaches é ao mesmo tempo mulher, homem, estrela de porno, bisexual, feminista e heroína, querendo mostrar que todos nós temos alguma coisa do sexo oposto e que é muito mais aquilo que nos une do que aquilo que nos separa. Não há ninguém que saía de um concerto de Peaches sem opinião. Alguns gostam, outros acham que é levado ao limite e ainda existem outros que ficam visivelmente perturbados. Foi possível ver e ouvir os novos temas de Peaches em Portugal no mês de Agosto, num concerto inserido no CBT Dance Festival em Celorico de Basto. Vem de novo a Portugal encher o nosso Natal de doses industriais de irreverência em espectáculos a não perder.
No dia 6 de Dezembro estará no Porto, num concerto inserido no Festival Blue Spot que irá ser realizado no Teatro Sá da Bandeira (ver artigo nesta edição) e no final do mês, dias 26 e 27 de Dezembro estará presente no Lux em Lisboa para terminar o Natal em beleza.
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