“Pessoas”
O derradeiro encontro entre Fernando Pessoa e os seus heterónimos
Morreu Fernando Pessoa, grande poeta de Portugal. (…) Surpreende-o a morte num leito cristão do hospital de São Luís, no Sábado à noite (…).
Assim começa a reportagem do Diário de Notícias referente à morte do poeta, no dia 30 de Novembro de 1935.
É neste dia que se passa a acção da peça “Pessoas”, escrita por Ricardo Barceló e com encenação de Bruno Schiappa.
A peça pressupõe o derradeiro encontro entre Fernando Pessoa e os seus heterónimos; Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis e, o seu semi-heterónimo Bernardo Soares. Todos se encontram num espaço descaracterizado e sem referências, um espaço de identidade transmutável como é a obra Pessoana. A permuta da peça é que o poeta, à beira da morte, “convoca” os seus heterónimos, não só para com eles privar pela última vez, mas também para lhes revelar que a existência deles não passa de um vulto da sua imaginação. Entre consternação, revolta e acusações os heterónimos reagem.
Com palavras do poeta ortónimo e heterónimos, os actores levam-nos numa viagem pela obra de Fernando Pessoa. Do elenco destaca-se o actor Tiago Sines que nos trouxe Álvaro de Campos, tanto através da sua fisicalidade, como da consistente vida interna que conseguiu criar para este personagem.
O clima em cena está montado para ser um ambiente de suspense; no entanto, isso não chega realmente a acontecer, talvez porque muitas vezes a música (sob a direcção de Bruno Schiappa) rouba espaço aos actores e, sobretudo, ao silêncio, tão necessário para o mistério acontecer. Quão ingrato é levar Pessoa a cena? Muito ingrato. Fica-nos o prazer que é sempre ouvir as palavras do mestre, e a vontade de regressar ao “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, de José Saramago.
Em cena no Teatro do Campo Alegre, de 4 a 30 de Abril.
Com: Joel Sines, Jorge loureiro, Ricardo Ribeiro, Tiago Sines e Vítor Alves da Silva
Encenação: Bruno Schiappa
Texto: Ricardo Barceló
Ganhem convites duplos aqui.
Fotografia de António Alves
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