PJ Harvey @ Coliseu dos Recreios (27.10.2016)
Um projecto demolidor e esperançoso
A dezena de elementos que participou neste espectáculo entrou em palco em fila indiana, munidos de instrumentos de percussão e saxofones, como se de uma fanfarra se tratasse. Todos equipados de negro, tal como grande parte da audiência, como quem acorre a uma peregrinação com dress code.
Dos nove elementos que acompanham Polly Jean Harvey em palco do Coliseu há que sublinhar obrigatoriamente os mestres John Parish e Mick Harvey, que se foram ocupando de diversos instrumentos, mas em especial guitarra e baixo respectivamente. Realce igualmente para o facto de PJ Harvey não tocar numa única guitarra ao longo de toda a performance, ainda que tenha praticado por breves instantes um movimento de air guitar, como que matando o vício que mora em si. O saxofone é o único instrumento com que contribuiu aqui e ali.
A percussão é um dos pontos fortes do último trabalho da diva alternativa inglesa, tendo desde logo dois músicos responsáveis por esse departamento, e que atribui uma epicidade incontestável às suas músicas dignas de manifestações nas ruas, entoadas em coro por toda a banda. Foi nesta toada que a actuação arrancou, com 4 temas de “The Hope Six Demolition Project”. A simbiose entre tantos músicos, instrumental e vocalmente, foi perfeita.
Algo que deve valorizar-se bastante é a facto de PJ Harvey conseguir criar conteúdos políticos sem que isso lese a sua musicalidade ou sequer as letras que difunde nas suas composições. A política é um tema muitas vezes abordado de forma demasiado seca e que acaba por toldar a qualidade do trabalho de quem o canta/executa.
«50ft Queenie» deu posteriormente início à fase do concerto em que PJ Harvey visita outra era da sua carreira, dedicada exclusivamente ao rock alternativo, revisitando resumidamente os discos “Rid of Me” e “Bring You My Love”. No tema-título deste último cimentou claramente o magnífico momento vocal em que se encontra, extremamente flexível, encarnando os distintos registos ao longo dos diversos períodos da sua carreira, que contempla já nove discos de originais.
Mas a verdade é que, mais que as guitarras, neste momento é o mundo lá fora e os males que o assolam que absorvem a atenção e as forças de PJ Harvey. E se as músicas deste mais recente projecto são de facto demolidoras, quer sonicamente quer a nível da mensagem, também é verdade que acabam por soar algo repetitivas, especialmente quando executadas de forma consecutiva. Tal não impediu, no entanto, que a noite no Coliseu fosse riquíssima e que finalmente se tenha saciado uma multidão sequiosa de assistir a um concerto em nome próprio desta integrante da Ordem do Império Britânico.
Fotografia por José Eduardo Real
Alinhamento:
– Chain Of Keys
– The Ministry of Defence
– The Community of Hope
– The Orange Monkey
– Let England Shake
– A Line In The Sand
– The Words That Maketh Murder
– The Glorious Land
– Written On The Forehead
– To Talk To You
– Dollar, Dollar
– The Devil
– The Wheel
– The Ministry Of Social Affairs
– 50ft Queenie
– Down By The Water
– To Bring You My Love
– River Anacostia
(encore)
– Guilty
– The Last Living Rose
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