Primavera Sound Porto 2023 | Dia 2 (08.06.2023)
Segundo dia do festival não fugiu à regra do dia anterior e deixou-se acometer pela chuva, que marcou novamente o evento.
Texto por Daniel Espírito Santo e fotografia por Graziela Costa.
Furacão Rosalía ou depressão Óscar?
Aviso amarelo do IPMA e festival à beira-mar não parecem, à partida, combinação vencedora, mas milhares arriscaram a intempérie esta quinta-feira para assistir ao segundo dia do Primavera Sound Porto. O menu prometia: cinco palcos em pleno funcionamento tinham nomes como Arlo Parks, Japanese Breakfast, Bad Religion, The Mars Volta, Fred Again… e, sobretudo, Rosalía, nomes que aqueciam os corações dos mais corajosos desafiadores do São Pedro.
Em Espanha, o mesmo certame já tinha sido cancelado e, à hora da abertura de portas, chovia copiosamente… Mas o certo é que, munidos do line-up, galochas, roupa para trocar e conhecimentos de meteorologia, muitos fãs de Rosalía aguentaram tudo para ver a “Motomami” ao final da noite.
A estrela-maior de Barcelona era a mais esperada do dia, facto que não contribuiu para um certo desalento pelo curto tempo em que esteve em palco. Na bagagem da catalã estava um disco de sucesso que, no entanto, já apresentara em Lisboa e Braga, recentemente.
E “andar de moto” foi o que ela fez: passou rapidamente em revista os seus maiores êxitos, muitos tocados em versão medley, a provar, no entanto, que a pressa, muitas vezes, não é inimiga da perfeição. Num espetáculo rápido, mas competente, a chuva deu tréguas e Rosalía entregou aquilo que prometia a quem se degladiara na lama para conseguir um bom lugar nas grades. Bem diferente do que se vira, no mesmo palco, em 2019…
Pouco mais de uma hora bastou para ensaiar coreografias, cumprir o culto e apaziguar os corações até ao próximo set, que não deverá demorar a acontecer numa cidade perto de si.
Vantagens de termos cinco palcos tão díspares e tão bem munidos de nomes sonantes (props devidos ao novo Plenitude, onde vimos coisas deliciosas durante o festival) também configuram desvantagens: é impossível ver tudo o que se quer e nem a lama ajuda a despachar o corpo entre palcos. Era preciso fazer piscinas (neste caso, quase literais) para conseguir correr entre espetáculos.
Hora de fazer escolhas: se os corações mais jovens acolhiam Rosalía com vontade de dançar, os mais velhos (os pais? os avós?) queriam voltar à era do punk… e, sorte das sortes, os Bad Religion estavam mesmo ali no palco ao lado.
Quem pode dizer que não a “American Jesus”? Claro que voaram objetos de todos os tamanhos e feitios e o mosh não faltou numa atuação que também terá durado uma hora… ou uma eternidade, dependendo dos corações. O punk não está morto, mas falta-lhe público, a julgar pelas poucas centenas que o apreciaram in loco no Palco Super Bock… O que vale é que os Bad Religion não querem saber disso.
Do punk à eletrónica, Fred Again… foi bem mais surpresa que os punks dos EUA. E acolheu bem mais gente. O DJ britânico até pode ser pop, mas conseguiu imprimir sentimento no set e até arrancar algumas lágrimas dos festivaleiros mais emotivos. Que estreia memorável. Ele nem acreditava ter público por cá, mas acabou por reunir uma boa “massa” em frente ao palco, pronta para mergulhar em assuntos sérios (mas dançáveis), com ele. Pela primeira vez, importa voltar a salientar. Sem Rita Ora ou Demi Lovato, brilhou sozinho e, arriscamo-nos a dizer, foi uma das belas surpresas deste segundo dia.
Poucas surpresas concedeu, por sua vez, Arlo Parks. O tempo não era disso, era de leveza e doçura… ou não se chamasse o novo trabalho “My Soft Machine”. De Londres para o Mundo, “Eugene” ou “Too Good” tiveram direito a sol por entre as nuvens e, poeticamente, a arco-íris. Saímos todos mais felizes e de sorrisos nos lábios.
Ponto final com alguns destaques rápidos, a passar por entre os pingos da chuva: o palco principal foi inaugurado pelos competentes portugueses Fumo Ninja e os seus “Olhos de Cetim”; no Vodafone, também é importante salientar a estreia da norte-americana Maggie Rogers por terras lusas – nem a chuva, que voltou a cair nessa altura, anulou o brilho de “Surrender” e da poderosa voz desta futura estrela dos EUA. Também não dá para não falar de Japanese Breakfast, já bem conhecidos por cá, e de Shellac, já quase sinónimos de Primavera (e que se apresentaram como “Rosalía”, na esperança de arrancar alguns risos)… Mas o apontamento final tem mesmo de ser feito aos The Bets, que, vindos diretamente da Nova Zelândia, escolheram o adereço perfeito para colocar no palco de um festival banhado de água (e com vista para a “anémona”, de Matosinhos): uma truta insuflável.
Podem encontrar as reportagens dos restantes dias aqui: 7 de Junho, 9 de Junho e 10 de Junho.
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