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P.S. Lucas + April Marmara @ Musicbox (06.04.2024)

Cabe a April Marmara abrir a noite, o que se afigurava uma tarefa ingrata, perante uma sala tão despida. As canções de  “Still Life” merecem mais público.

Já antecipando o prato principal, P.S. Lucas, temos um palco repleto de instrumentos; bateria, teclados, guitarras eléctricas, acústicas e outras programações.

Beatriz Diniz começa com «Show», apenas de guitarra em punho e a beleza do seu folk. Somos poucos mas uns felizardos. E será assim durante todo o concerto.

O primeiro disco é revisitado ao som de «New Home». É a mesma matriz mas soa mais crua e mais despida. Então, era um diamante por lapidar e que agora já se encontra numa fase mais avançada do processo.

Marmara aproveita para agradecer enquanto afina a guitarra acústica, e antes de se lançar a «Who Knows Where the Love Goes», escrita durante a pandemia e com uns arranjos magníficos, que tanto prazer deram April Marmara de trabalhar. Já. «Five Years» questiona onde estaremos daqui a cinco anos. Um exercício quase metafísico, guiado pelos acordes da guitarra de Marmara. «Dead Flowers», já perto do final, é tudo menos uma natureza morta. É vibrante e pulsante.

«Wild Birds in the Sky» fechou um concerto curto, com a dose de melancolia perfeita. Um equilíbrio que nunca é fácil de encontrar, porque encerra em si um elevado grau de subjectividade para quem toca e quem está do outro lado, a escutar as canções.

Enquanto aguardamos, Pedro Lucas anda pelo palco para garantir que está tudo a postos# quando chegar a hora de começar. Mas rapidamente percebemos que não vai haver nenhum compasso de espera.

Arrancamos numa toada blues, mas podemos sentir a canção a metamorfosear-se. Torna-se jazzy, mas também quer ser folk. O resultado é uma forma única de beleza, e chama-se «Tuesday Night». Em palco, a acompanhar Pedro Lucas, estão Pedro Branco na guitarra (e pontualmente nas programações), João  Sousa na bateria,  Leonor Cabrita nos teclados e João Hasselberg no baixo.

«Means & Ends» é pop sonhadora, adornada e verdadeiramente bonita na simplicidade que encerra em si. «If I Ever Sang», mantém o rumo da antecessora. Dream pop que oscila entre os teclados de Leonor Cabrita e a viola de Pedro Lucas. «Sea Dream» é sobre folia, sobre andar sozinho no mar e tentar fazer caça submarina, conta-nos Pedro Lucas. É uma canção de momentos. Os teclados surgem pontualmente como que ondulação na vastidão do oceano. Sentimo-nos humildes perante algo que é verdadeiramente maior do que nós.

Damos um passo atrás, ao álbum anterior, “In Between” e ouvimos «Evertyhing, Everywhere, All The Time», que foi composta antes do filme, para que não haja qualquer duvida. Novamente em “Villains & Chieftains”, «Borders» é uma “história de gentrificaão meio refundida”, mas que acabou como uma carta que podia ter sido escrita pela sua mãe, partilha Pedro Lucas enquanto reforça  a ideia de que independente do amor incondicional que podemos sentir por alguém, não temos de mudar forma como olhamos para o mundo. Revejo-me. Mesmo.

Uma canção de amor e de verão; eis «Sea Water Drops». Apresentada como um retrato-canção, é uma homenagem ao sítio onde cresceu, a freguesia das Angústias, no município da Horta, na ilha do Faial, nos Açores. «Black Sand» é uma canção linda e tem uma execução a condizer. As canções de P.S. Lucas fazem-se de detalhes, das histórias que estão na sua génese. São canções de alguém que está familiarizado com a solidão, mas que sempre que pode, partilha. Isto é raro, precioso e deve ser valorizado.  Já «Villain», é a canção, quase título (“Villains & Chieftains”), mas que o é na sua essência. Dream pop via Atlântico-norte, com delicadeza e beleza ímpar.

A recta final leva-nos ao passado. Contemplativamente, absorvemos «In Between», porque quando é a melancolia que norteia o momento, acabar em êxtase não é imperativo, mas se nos deixa com aquele arrepio na espinha, então ainda é melhor. Definitivamente. «Happiness», é uma canção de Molly Drake e é tragicamente bela, com Pedro Lucas a explicar que a felicidade é como aquele pardal que está em cima da mesa duma esplanada no Faial e quando nos aproximamos, foge. Mas é que muitas vezes é mesmo isso que parece. Felizmente algumas outras vezes não. Agarremo-nos a essas, mas não nos esqueçamos das outras.

Primeiro foi a guitarra eléctrica que deixou de colaborar, e depois o próprio amplificador, mas nem isso impediu de ouvirmos «Lizzard», composta nos primeiros tempos de confinamento, a versar sobre o Novo Banco e outras falcatruas, com a guitarra acústica a fazer as vezes da sua contraparte eléctrica. Entregou.

“Villains & Chieftains” é um dos discos bonitos que foram editados em Portugal este ano e devia ter estado muito mais gente no Musicbox. Acreditem.



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