Qual é a cena de toda a gente agora usar t-shirts de Ramones?
Qualquer um que entre, de boa vontade ou contrariado, numa qualquer loja de roupa de centro comercial, encontrará, junto com peças como camisas à toureiro, sapatos de berloque ou calças chino, t-shirts de bandas que nos anos 80 pertenciam a um universo totalmente arredado e antagónico ao dessas mesmas lojas. Normalmente, quem incluía essas camisolas na sua indumentária, pertencia a uma qualquer tribo urbana, que mais frequentemente do que não, se pautava por ser exactamente o oposto daquilo onde agora se encontram incluídos.
Esta conversa pode parecer encorajadora de algum tipo de sectarismo, mas não vamos confundir mentes abertas com cabeças onde entram qualquer coisa. Há uns anos sabia-se quem era punk, gótico, dread, freak, metaleiro ou beto e agora que as fronteiras desapareceram, as ideias – ou falta delas – transbordaram todas umas nas outras e ao invés de termos poucas coisas muito interessantes, temos muita coisa pouco interessante. Isto quer dizer que a tendência das lojas de roupa venderem t-shirts de bandas como Iron Maiden, Megadeth ou Ramones privou de significado o gesto que tanto orgulho dava aos fãs, de envergar a t-shirt da sua banda de eleição.
Agora, todas as bandas pré-2000 ou foram marcantes ou então sub-valorizadas e não há nada que não valha a pena ser reeditado, remisturado e expandido. Portanto, quem pertencia a um nicho, agora esgravata mais fundo para continuar a tentar ter um cantinho só seu onde não se misture com o mainstream que cada vez mais é composto de vários nichos feitos do sabor do mês. Os restantes, misturam os Coldplay e os Arcade Fire deste mundo com os Ramones, os Motorhead e os Black Flag de outro, sobre o qual nada sabem e nunca viveram. E se calhar se descobrissem que “53 & 3rd” é uma música de Dee Dee Ramone sobre um conhecido antro de prostituição masculina, que “Motorhead” é calão para agarrado aos speeds e que os Black Flag pelo menos na era Rollins eram uma banda capaz de praticar MMA com o seu público, talvez pensassem duas vezes antes de pagar 20 euros por uma peça de roupa para complementar o look de que se apropriaram por seguidismo, e que até há bem pouco tempo era propriedade exclusiva daqueles que costumavam ser designados por “chungas”. E que se orgulhavam disso.
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