Radio 4

Uma das mais emblemáticas bandas Nova-Iorquinas regressa a Portugal.

Já não era sem tempo. Embora o nosso país tenha conseguido progredir imenso nas agendas dos músicos e bandas internacionais, continuamos a estar um pouco “à parte” dos grandes acontecimentos (os Interpol vão tocar a Madrid e ninguém se lembrou de os trazer cá?). Basta dar uma vista de olhos nos nomes que começam a preencher os cartazes dos festivais. Grandes novidades? Nenhuma. No meio de todo este marasmo, o regresso dos Radio 4 a Portugal (ja actuaram no festival Paredes de Coura) é um acontecimento que merece ser aplaudido e divulgado.

Os Radio 4 fazem parte de um conjunto de bandas (The Rapture, The Strokes, LCD Soundsystem) que emergiram da agitada cidade de Nova Iorque e que conquistaram o mundo neste princípio de novo século. Com cerca de cinco anos de existência, a banda já conta com três discos de originais gravados e um considerável número de hits. Stealing of a nation” é o registo que os traz a Portugal para dois concertos: 14 de Abril, Lux, Lisboa; 15 de Abril, Casa da Música, Porto.

PRÉ-11/9

Mas vamos recuar até ao início deste século, pré-11 de Setembro. Não se revendo no panorama indie da época e influenciados pelas sonoridades pós-punk do final dos anos 70 (o próprio nome foi retirado de uma faixa dos PIL), Anthony Roman (voz e baixo), Tommy Williams (voz e guitarra) e Greg Collins (bateria) decidiram avançar com um projecto que aliasse ritmo, guitarras e electrónica, afastando-se o mais possível do indie rock. Nasceu assim o primeiro álbum dos Radio 4, “The New Song And Dance”.

Este primeiro registo de originais foi importante para “abrir as portas” de dezenas de salas de espectáculo, conhecendo assim pessoas importantes no mundo da música, mas a sua sonoridade estava ainda bastante longe daquilo que são hoje os Radio 4. O primeiro passo para a fama foi dado com o lançamento do EP “Dance To The Underground”, um dos temas mais emblemáticos da banda, que surgiu como manifesto anti-política conservadora do Mayor Giuliani, no que diz respeito à noite nova-iorquina.

Esta faixa, para além de lançar a banda a nível mundial, conseguiu criar uma identidade e um estilo muito próprio. Foi com alguma naturalidade que surgiu “Gotham!”, produzido pela dupla Tim Goldsworthy e James Murphy (DFA, LCD Soundsystem) e gravado no Verão de 2001. Quando o Bin Laden se lembrou de enviar dois aviões contra o WTC, faixas como “Save your city” ou “Our Town” ganharam um segundo significado. A cidade estava em clara mudança e os Radio 4 estavam com os The Rapture, The Strokes e Interpol, no pelotão da frente da nova música norte-americana.

Surgiu depois a digressão europeia e a necessidade da entrada de mais dois elementos, PJ O’Connor para a percussão e Gerard Garone para os teclados, completando a formação actual da banda. Depois de dezenas de concertos, faixas em publicidade televisiva e hits nas pistas de dança, a banda regressou a Nova Iorque para gravar o difícil sucessor de “Gotham!”, um álbum que obteve praticamente o consenso da crítica mundial.

½ POLITICA + ½ DANÇA = STEALING OF A NATION

Claramente influenciado pelo género musical preferido de Anthony Roman, o reggae, o novo registo dos Radio 4 surge como um manifesto político em que as palavras ganham uma outra importância e notoriedade. O próprio nome do álbum, “Stealing of a nation” foi inspirado numa música de Jacob Miller’s, “Healing Of The Nation”. Mas então onde ficou a festa?

Embora mais complexo, este novo álbum segue a mesma linha de “Gotham!”, conseguindo, ainda assim, ser bastante mais eclético.

Se em “party crashers”, a música que abre o disco, não encontramos nenhumas diferenças para anteriores registos da banda, com o passar do tempo e de faixas começamos a sentir o sopro da mudança.

“Nation” é possivelmente a mais surpreendente faixa do disco. Com uma linha de baixo bastante forte e uma voz mais colocada, são expostas algumas das críticas mais duras feitas à administração Bush, principalmente a forma como o presidente chegou ao poder nas eleições de 2000 e a política bélica que tem dominado grande parte do seu mandato.

Mas se em “Nation” são feitas as acusações, surge imediatamente a seguir, em “No Reaction”, o apelo à reacção, contra a apatia da sociedade norte-americana. “Absolute Affirmation” é outra surpresa. Uma faixa bastante mais pop/rock, onde é abordado o tema da sociedade de consumo.

Para além de conter um grande número de possíveis singles, este novo registo funciona muito melhor como um todo. O mérito para este excelente trabalho de produção é de Max Heyes, um admirador e amigo da banda. A presença dos dois novos elementos, O’Connor e Garone, em estúdio veio acrescentar uma maior coesão aos temas e a diferença é notória se compararmos com os anteriores registos.

Os concertos em território nacional vão ser dominados por este novo registo mas obviamente que todos os grandes hits vão marcar presença. A festa está garantida. Não a percam!



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