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Record Store Day 2009

Em Abril celebrou-se o dia internacional das lojas de discos independentes na Flur, no Cais da Pedra a Sta Apolónia.

Pronto, ia chover. Chuva miudinha e irritante. Eram essas as previsões, foi isso que aconteceu naquele sábado, dia 18 de Abril de 2009. Mas ninguém se lembra da chuva. E dito isto não é preciso referir mais nada sobre as condições meteorológicas. Porque tudo nos parece solarengo. Todas as recordações. Mesmo assim quase a roçar o lamechas (é preciso salvaguardar que para quem gosta de tempo cinzento e discos foi naturalmente o dia perfeito).

O Record Store Day (RSD) aconteceu este ano em grande na loja Flur. Foi um dia com uma afluência fora do comum e com um sem número de eventos que fizeram no mínimo esquecer aquela palavra enorme que anda por todo o lado e que começa com a terceira letra do alfabeto. Já se sabe. Já o ouvimos e lemos em demasia.

O RSD nasceu nos Estados Unidos e é um evento mundial que pretende celebrar e lembrar a todos a importância das lojas de música independentes e de como temos que reforçar o amor (não há mesmo outra palavra, por mais piroso que soe) por aquilo que ganhamos nestas lojas, pelos amigos que fazemos, por aquilo que descobrimos, e como é insubstituível. Não há internet que nos valha, muito menos lojas demasiado grandes. Já sabemos, mas muitas vezes somos preguiçosos. Só para terem uma ideia, na Grã-Bretanha durante a época áurea dos anos 80 existiam 2.200 lojas, em 1994 o número desceu para 1.200. Hoje são 305, segundo o jornal “The Guardian”. E estamos a falar do Reino Unido.

Prometi a mim mesma que faria apenas um parágrafo sobre o óbvio, a razão desta iniciativa – porque na verdade no RSD respirava-se tudo menos um sentimento miserabilista, ou derrotista. Ninguém estava ali a despedir-se de nada, estávamos todos a fazer o que fazemos sempre que entramos naquele sítio onde nos colocam a mão por cima do ombro, onde nos mostram aquele disco que muda tanta coisa, onde nos dão aquela revista que não arranjamos em mais lado nenhum. “Acho que vais gostar disto”, “é pá vocês já tem o…?” ou “já ouviste o novo dos…?” são frases insubstituíveis, são nossas. Ponto final. São a nossa reza mais apetecível, a melhor religião, o melhor ópio de quem não tem em casa apenas uns disquinhos numa prateleira pequenina.

A lista de actividades colocada na montra até confundia, eram tantas! O dia começou devagarinho por volta da uma da tarde, mixtapes a tocar (foram muitos os que contribuíram – José Diogo Quintela, Marco Martins, Photonz, Sérgio Hydalgo, Tiago Miranda e Tiago Santos). Falava-se com Ricardo Gross, por trás do balcão, a servir os primeiros clientes, de uma das 50 capas de Joaquim Paulo, autor do livro editado pela Taschen (“Jazz Covers”) e ávido coleccionador. 50 capas de vinil que adornavam na perfeição o “background” do balcão. Falava-se da capa do disco do filho de Mussolini, Romano de seu nome, que lá estava na última fila.

No vizinho restaurante Bica do Sapato, que se juntou às celebrações, já se ouvia o primeiro dos DJs que ofereceram os seus préstimos e entusiasmo. Foram muitos os que passaram por ali e tocaram para as muitas pessoas que se iam movimentando entre o grande “corredor” que é a Flur, esplanada e restaurante da Bica: Rui Torrinha, Kaspar, Dinis, José Belo, João Maria, D.I.S.C.O. Texas, Nuno Lopes, Kamala, Rui Pregal da Cunha, a malta do Lux (Rui Vargas, Zé Pedro Moura, Leonaldo de Almeida, dexter), Ana Rita Clara (que se estreou em público) e finalmente Rodrigo Amado que fechou as hostes.

Circular era imperativo. Pela Bica, também para comer os petiscos do Pan Sorbe (DJ que nos revelou uma nova faceta), beber qualquer coisa ou descobrir uma bebida energética “bio” de nome algo estranho e muito referido pelos MCs que nos iam guiando pelos eventos. Pedro Ramos (Radar) e Hugo Pinto lá iam proferindo as mais deliciosas baboseiras (muito informativas deva-se dizer, e no melhor dos sentidos) encostados à cabine dos DJs.

E depois era circular pela loja, ver dois homens da Radar, Tiago Castro e Pedro Moreira Dias, sem vergonha e com muito brio a jogar, perdão, “tocar” Rock Band na PS3 com guitarrinhas apropriadas e expressões de meter inveja a qualquer banda de cabelo comprido dos anos 80. E passar pelo corredor dos muitos discos, e encostar-se aos móveis temporariamente para ouvir um qualquer dos três concertos bem no meio da loja. B Fachada e Samuel Úria, Peter Walker e já no final, os Aquaparque em inédito registo acústico. Eu estive lá.

Por trás do balcão o número de pessoas atarefadas mas sorridentes parecia também aumentar a olhos vistos – passaram por lá as meninas da Oxigénio, Isilda Sanches e Rita Moreira, DJ B.R.O.S., Pedro e Nelson Gomes (os Filho Único), Bandidos – Bruno e Rui dos D.I.S.C.O. Texas. Para já não falar dos discos que se compraram como que a celebrar uma actividade que nos é tão familiar. A título de curiosidade foram as edições FlorCaveira e o novo Bill Callahan que mais venderam, segundo a Flur. E também a primeira edição Flur/Príncipe, um pequeno livro precioso de apenas 50 exemplares numerados com desenhos de Pedro Lourenço e Márcio Matos.

A Flur  – o Pedro, o Márcio, o André, o Pedro e o Zé – terão com certeza que repetir este dia para o ano (prometam, por favor). Mas entretanto, já nos apercebemos, há vontade de fazer mais showcases no meio da loja, e planeiam-se outras coisas… fiquem atentos. Isto é para a vida toda, esta é a nossa religião.



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